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Camacha, excerto 9

LocationCamacha (Porto Santo, Funchal)
SubjectA caça
Informant(s) Acidália
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Do Abílio.
[2]
Porque andava na caça, no primeiro dia de caça.
[3]
INF E, já se sabe, andavam todos a co-, quatro ou cinco, a caçar
[4]
e [vocalização] o rapaz [pausa] meteu-se com a espingarda [pausa] num certo sítio – neste, enfim, nestes cedros, tamagueira, naqueles cedros que está acolá…
[5]
INF E o outro rapaz, que acho que viu o coelho, atira ao toiro
[6]
e [vocalização] e deu nele.
[7]
Não o viu.
[8]
Diz que não viu.
[9]
Ora, primos, filhos de irmãos, é impossível que…
[10]
A não ser que fosse uma zanga bem funda mas nunca [pausa] nunca a gente quer a morte.
[11]
INF E dá-lhe o tiro…
[12]
Bem, ele [vocalização], não sei se é o lado o direito se é o esquerdo.
[13]
O olho que lhe saltou logo.
[14]
E este diz que está muito cosido.
[15]
E dizem que [vocalização] este olho [pausa] que comunica com este lado.
[16]
INF Claro Eu cá, já se sabe, eu não sei ler e não coisa.
[17]
INF E então ele está [pausa] do olho que…
[18]
E o outro olho, ele não vê nada.
[19]
Do lado que ele [vocalização] tem o olho, está paralítico
[20]
e do lado que não tem o olho, mexe [pausa] mas…
[21]
O pai diz que lhe perguntou [pausa] se ele [pausa] o que é que dizia, se [vocalização] gostava mais da noite se do dia.
[22]
Ele disse: "Pai, de que serve eu dizer, porque eu não sei se é noite se é dia?".
[23]
INF E era o chefe dedo gado da serra – um rapaz que se que se desenvolvia com [vocalização] carneiros, com [vocalização] vitelos, com [vocalização] cabritos, com cabras.
[24]
INF Ah, um rapaz talvez dos seus trinta [vocalização] e um, trinta e dois!
[25]
INF Foi no primeiro dia de caça.
[26]
Eu nem sequer sei em que dia foi.
[27]
Foi agora no primeiro de [vocalização] de Outubro, talvez, ou no dia dois.
[28]
INF Sim senhora.
[29]
INF Oh, deve de estar
[30]
mas [vocalização] [pausa] está com saúde
[31]
e não teve culpa
[32]
e o outro que tem a su- tinha a sua vida por a frente, [pausa]
[33]
INF que se arranjava tão bem; um homem que tinha tanto gado, tinha aquela serra toda por sua conta mas…
[34]
[pausa] Foi uma coisa, uma coisa [vocalização]
[35]
INF que a gente…
[36]
Foi, foi.
[37]
Que ainda ontem o se- – antes de ont-, domingo – o senhor Abraão do su-, que tem dois supermercados, esteve aqui, falando até com o meu marido – é um senhor que veio ver se comprava esta fazenda, fazenda do [vocalização], Funchal um senhor do Funchal – e ele disse: "Foi o [vocalização] a quebra maior que houve no Porto Santo foi aquele rapaz".
[38]
Que era um rapaz que transportava carne, para os supermercados;
[39]
então já sabe que tudo tudo gosta é de carne fresca;
[40]
tudo gosta é carne fresca
[41]
e o homem tinha.
[42]
Sim senhor.
[43]
INF E é assim [pausa]
[44]
INF a nossa vida.

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