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Vila Praia de Âncora, excerto 5

LocalidadeVila Praia de Âncora (Caminha, Viana do Castelo)
AssuntoOs barcos e a pesca
Informante(s) Agesilau

Text: -


[1]
INF E agora têm que ter umas quotas, sabe, umas licenças, d- daqueles paí-, daqueles daqueles mares, que está debaixo do domínio daqueles daquelas nações, não é, para poderem trabalhar, .
[2]
INF A pesca?
[3]
INF A pesca, olhe, larga-se a rede por a borda.
[4]
Aqueles é daqui da borda,
[5]
e quem largue a rede por a pela popa
[6]
chamamos-lhe nós a isso [pausa] barcos colaterais.
[7]
E aqui estes não.
[8]
Estes é de largar por a borda.
[9]
Larga a rede para o para o mar,
[10]
e depois caem os roletes,
[11]
arreiam, arreiam as, as, as, os [pausa] arreiam as as malhetas, para baixo, um bocadinho e depois o barco.
[12]
INF É os cabos que vão pegados às redes e à porta.
[13]
E depois o no- o barco navega um bocadinho ,
[14]
[pausa] vai arreando aqueles cabos,
[15]
engatam as portas,
[16]
as portas caem para a água,
[17]
e chega a um ponto,
[18]
o [vocalização] pára-se o guincho para as portas abrirem,
[19]
e o barco vai botando a rede.
[20]
E depois, chama-se uns cabos às patescas
[21]
INF A massageira chama-lhe cabo à patesca, que é de aguentar assim estes dois cabos, à, à, ao à copa do barco.
[22]
E o barco arrasta uma hora, consoante ele quiser, uma hora ou duas horas ou três horas
[23]
INF Consoante o Consoante o peixe é.
[24]
Eu tive Eu tive lanços.
[25]
[pausa] tive [vocalização], na pesca do bacalhau, no chama-se aquilo, no Fundão do Filas.
[26]
A r-, re, a, a A rede não chegava ao fundo,
[27]
[pausa] e alava-se a rede.
[28]
Era um, o, o, a, a O bacalhau levava a rede toda,
[29]
partia o saco da rede.
[30]
Jesus, que de bacalhau, naquele tempo!
[31]
Bacalhau, muito, muito bacalhau!
[32]
Aquilo era uma estragação que uma pessoa nem
[33]
[pausa] Matava o corpo,
[34]
[pausa] e não ganhava nada naquele tempo.
[35]
Ó minha senhora, olhe, quer que lhe diga?
[36]
Eu, o primeiro ano que fui para o bacalhau foi em 46.
[37]
Fiz a primeira viagem em 46.
[38]
Sabe quanto eu ganh-?
[39]
Pilhámos nós [pausa] dez mil e oitocentos quintais no Fernan-, n- [vocalização] no Fernando Lavrador.
[40]
Sabe quanto dinheiro trouxe para a minha casa?
[41]
Setecentos escudos.
[42]
Ganhava eu por mês
[43]
A minha mulher, [pausa] deixei à minha mulher por mês cento e sessenta mil réis.
[44]
Bem, naquele tempo pagava quinze escudos de renda da casa.
[45]
INF Pois era.
[46]
Mas olhe, eu, eu vou-lhe dizer.
[47]
Eu não tenho medo que a senhora me prenda.
[48]
Eu, quando fui para a pesca do bacalhau, [pausa] passei eu e os meus camaradas passámos as melancolias.
[49]
Passámos fome, trabalho, sem descanso.
[50]
Chegávamos a trabalhar [pausa] cinquenta e duas horas sem dormir.

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