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Vila Praia de Âncora, excerto 38

LocationVila Praia de Âncora (Caminha, Viana do Castelo)
SubjectA religião e as superstições
Informant(s) Agesilau
SurveyALLP
Survey year1985
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

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[1]
e passa por cima de mim.
[2]
E quando foi dali Não fiz caso
[3]
e quando foi dali – a quê? – a meia hora, senti assim o fumo.
[4]
Ai que fumaça!
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E depois é que acordei.
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Era a queimar dentro dum caco – num caco numa telha dessas, numa telha, que havia antigas,
[7]
chamavam-lhe aquilo o caco.
[8]
Ia E a queimar aquela aquele alecrim, ou lá o que era aquilo.
[9]
E ao meu pai a mesma coisa.
[10]
Ao falecido meu pai a mesma coisa.
[11]
Mas nós não vimos a mulhe-.
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Só sentimos aquilo a passar por cima de nós.
[13]
Então vinha a ser a mulher sem nada, calças, por ci- sem calças, sem nada, por cima de nós.
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Minha senhora, fomos para o rio,
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pilhámos vinte sáveles.
[16]
Vinte!
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Palavra, que estou-lhe a dizer, hem!
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Nós, nessa noite, nesse assejo, já pilhámos vinte sáveles.
[19]
Vai assim o meu pai: "Que foi isto, hem?
[20]
Oh, Nossa Senhora da Agonia!
[21]
Que é isto?
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Nós não pilhávamos nada,
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a rede é a mesma".
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Se pilhámos peixe foi daí em diante.
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Porquê?
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Era o feitiço que estava connosco.
[27]
A inveja.
[28]
Está a perceber?
[29]
INF Uma velhota, lá…
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INF Não,
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a minha mãe chamou aquela mulher.
[32]
Aqui há mulheres que fazem isso, sabe?
[33]
Há.
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AquiINF Chamamos-lhe as bruxas.
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As bruxas.
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INF Agora não há nada disso.
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Agora não.
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Agora…
[39]
INF É por causa do do Diabo não entrar lá dentro, a- as feiticeiras.
[40]
É.
[41]
Aquilo é por causa das feiticeiras não entrar lá dentro.

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