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COV07

Covo, excerto 7

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF Ele vem um senhor aqui vender roupas [pausa] é de de Vilar Formoso. Até fica, em vindo, sempre em minha casa. Mas como ele começou por a andar a a vender roupas, mantas, cobertores e [vocalização] E depois, um dia à noite, chega , mais a mulher e dois fi- e dois miuditos, e di- pediu para lhe dar de se lhe dávamos bebida comida mas que dormiam no carro, mas se lhe dávamos comida , se se lhe vendíamos pão e [vocalização] batatas e vinho. E eu disse: "Está bem, a gente arranja". Foi [vocalização] a minha nora e levou: batata, levou-lhe carne um bocado de carne , levou-lhe [vocalização] uma garrafa de vinho. Depois ele queria pagar e a gente: "Não pagas nada disso"! Eu não. "Não pagas nada disso"! Coitado. Coitado de quem anda por fora das casas deles. Sabe? Quem anda por fora das casas deles pagam-se apanha o bom e o mau.

INQ1 É isso mesmo.

INQ2 Exactamente.

INF É. Porque eu sei o que é isso. Ora bem, o homem [vocalização], o homem agora começou a andar por sempre. Agora, fica sempre na em nossa casa. Ainda quando foi agora que eu ma- [vocalização] que matei os porcos que eu tinha matado os porcos dois dias , ele chega e eu disse: "Ó homem, olhe, vem numa altura boa! É quase na altura Nós, a sarrabulhada foi ontem, mas você" Ora, comeram e beberam o que eles quiseram.

INQ2 Claro.

INF A gente tem muito disso.

INQ1 Como é que é Como é que Em que altura é que se faz a, a?

INF A sarrabulhada? É quando matam os porcos. Olhe, é assim ou agora

INQ1 E em que altura é que se mata os porcos? É no Natal?

INF A gente é Não. Novembro.

INQ1 Novembro.

INQ2 Ah!

INF Novembro, fim de Novembro, princípio de Dezembro Mas não, é sempre em Novembro. E agora, eu mato três então, e mato dois agora para o mês que vem.

INQ2 Ah! Depois mata mais tarde!

INF Mato agora dois para as para as haver. Agora para a, [vocalização] para a para as sementeiras, vou meto muita gente de fora. Arranjo pessoas.

INQ1 E tem, e tem E tem que matar para, para dar comida.

INF que dar dar comida, porque aqui esta carne antiga, [vocalização] que é de salgadeira que eu tenho arca Tenho arca e boto-a na na arca, mas também gosto da carne do sal.

INQ1 Salgada.

INQ2 Pois.

INF Do sal! Até, pelo contrário, no princi- no princípio não, não sabe tão bem, mas depois para o resto até é melhor que a outra.

INQ1 Pois é.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Porque a outra é fresca de mais. Na arca, fica até fresca de mais. E a gente para comer a carne da arca, sabe o que lhe a gente faz? a minha nora e nós! [vocalização] Vamos dizer suponhamos tira [pausa] uns bocados de carne, porque tem aquilo em sacas até na arca, e ela tira, bota-lhe o sal, uns dois ou três dias, ou quatro ou cinco, e ela ganha sal. E depois então é que a gente [pausa] come dali, [pausa] daquela.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Mas a gente ma- Mato sempre cinco, seis porcos, durante o ano.

INQ1 Em Novembro?

INF [vocalização] Em Novembro mato três e um, quatro.

INQ2 E ma-, ma- Pois.

INF E agora mato três, mato dois; e depois quando for para Agosto, conforme o tempo que der Eu compro pequenino. Eu não compro porcos grandes! Compro-os pequeninos! E crio-os em casa.

INQ1 Pois.

INF Boto-lhe o leite das vacas, boto-lhe farinha [vocalização] aquela farinha centeia, que é o que eles medram com uma escuma. E eu boto-lhe farinha cen-

INQ1 Ai é?

INF Ah, ah! É a coisa que lhes faz melhor aos porcos!

INQ1 Não sabia!

INF Faz aos pequeninos, assim, assim no leite. [vocalização] Compro-lha e depois mato cada um!

INQ1 Rhã-rhã!

INQ2 Então e não, não, não cria, não tem para criar, não tem?

INF Não tenho, não, não, não. Não tenho porcas para criar, não.

INQ1 Porquê? Não muito trabalho, não?

INF [vocalização] Não tenho Não, não é por ter muito trabalho; é que não temos vagar, não temos tempo, para lidar com aquilo.

INQ2 Pois é.

INQ1 É muita lavoira!

INF É muita lavoira, não temos vagar nenhum. E eu compro-os a tirar do leite, compro-os assim pequeninos e depois

INQ1 Pois. Claro.

INF crio-os em casa.

INQ1 Claro.

INF E é E é a carne melhor que tem, é é criados em casa. Porque a gente, olhe, bota-lhe batata, bota-lhe leite, bota-lhe [vocalização] Pronto! Bota-lhe farinha, bota-lhe Não é a farinha de fora!

INQ1 Pois.

INF Eu não boto Eu não compro fa- as farinhas de fora para

INQ1 Pois. É mesmo farinha da casa!

INF É farinha da casa. E aquilo, as c- aquela carne é muito mais gostosa!

INQ1 Deve ser óptima.

INQ2 Deve ser, deve.

INF Muito mais gostosa!

INQ1 Olhe, mas conte-me então como é que fazem a matança.

INF Ah! A matança, sei eu ! Eu

INQ1 Como é que é?

INF Olhe, agarram-se os porcos, [vocalização] quando eles são para matar Agarram dois ou t- [vocalização] três ou quatro homens, agarram os agarram nos porcos, botam-nos em cima do carro e.

INQ1 Do carro?

INF Do carro. Um carro de vacas. [vocalização] E depois o matador mata e depois de matar temos umas algum tempo, era quei- queimado aquele cabelo com carquejas.

INQ1 Com carquejas, pois.

INF Carquejas é que era! Escolhia-se [vocalização] Ah, diziam quando fosse para matar os porcos : "É preciso ir aos carquejões"? Aos carquejões, é essas carquejas grandes!

INQ2 Rhã-rhã!

INF Quando é "Vai aos carquejões"! Agora não. Temos os maçaricos.

INQ2 Ah!

INF Ligamos à electricidade! É. Ligamos ao ao coiso, à electricidade, não

INQ1 Pois. É com o maçarico.

INF É com o maçarico.

INQ1 Com, com uma, uma garrafa de gás

INF É. É a garrafa de gás, liga-se aquilo, chamusca E fica muito melhor!

INQ1 Fica melhor que com a carqueja?

INF Não, não. Com aquilo fica melhor que com a carqueja. Com a carqueja aquilo é Ficava aquilo tudo negro! E depois a gente, mesmo com o maçarico, depois é tudo lavado lavam o porco depois de morto e [vocalização] chamuscado , depois é lavado, todo lavado, depois põe-se a [vocalização] aquilo

INQ1 E não é raspado?

INF É raspado com uma faca.

INQ1 Com o quê? Com uma faca.

INF Com uma faca. Com uma faca é ali todo raspadinho! Não se conhece um cabelinho, não se conhece nadinha! Ficam, ficam Em tempo, antes de o meu sobrinho andar a estudar, aquilo era [vocalização] Aquilo era queimado a carqueja, às vezes, ainda ficava uns cabelos grandes e aquilo tudo!

INQ2 Pois, pois, pois.

INF Agora não senhor. Porque agora vem gente grande ele traz gente grande a minha casa e é muito. E ele sabe o que nós também fazemos? É botar presuntos ao fumeiro.

INQ2 Ah!

INQ1 Ah, também fazem presuntos!

INF Ah, pois fazemos! Isso é ao fumeiro!

INQ1 Ah, isso é muito bom!

INF Ah, pois é!

INQ2 Tão bom!

INQ1 Isso é óptimo!

INF Ah! O presunto é ao fumeiro. Eu, todos os anos, boto três, [pausa] quatro, conforme.

INQ1 Pois, isso é muito, muito bom!

INF É. E depois vem uma pessoa qualquer As senhoras chegavam agora , eu [vocalização] não tinha nada, oferecia-lhe de comer; as senhoras iam, agarravam, cortavam um pedaço de presunto

INQ1 Pois, pois. Ai, muito jeito ter!

INQ2 Pois.

INF Vou a um bocado de presunto daquele com um bocado de de broa ou ou, se quisesse trigo, a gente tem sempre trigo, mas um bocadinho de broa quando ela é assim ainda é melhor que o trigo , um bocado de broa, uma pinga, [vocalização] aquela gente ficou espertada.

INQ2 Pois claro!

INQ1 Claro!

INF Sabe? Porque não temos sempre gente [pausa] para disponível para para arranjar de comer.

INQ1 Pois claro.

INQ2 Pois claro, pois claro.

INQ1 Olhe, então e depois pen-, pendurava o porco. Depois de estar chamuscado, estar raspado e lavado

INF E depois, ponho [vocalização] E depois é aberto.

INQ1 Pendura Pendura-o aonde? Em quê?

INF [vocalização] Nu-, nu- Numa trave qualquer. Temos uma casa própria [pausa]

INQ1 Para fazer isso.

INF para fazer aquilo. Tenho uma casa e aquilo é que tem

INQ1 Que tem uma trave?

INF Tem uma trave de madeira.

INQ1 Onde se pendura o porco.

INF Onde se pendura o porco.

INQ1 E, mas não tem um pau, assim, parece um cabide quase para meter nos, atrás no

INF Tem, tem. Chamam aquilo [vocalização] um chambaril.

INQ2 Rhã-rhã!

INQ1 Mas aqui também se usa isso?

INF Também, sim senhora. Também usam. E depois aquilo é botado

INQ1 E depois abrem o porco?

INF E depois abrem o porco aberto, tira-se as [vocalização] tripas. E depois

INQ1 Tira-se as tripas.

INF Nós é: tira-se a tripa, [pausa] tira-se-lhe o, o o coiso, o fígado, tira-se-lhe o coração [pausa] e os impulmões, tira-se tudo. fica

INQ1 Como é que lhe chama aos pulmões?

INF Chama-se-lhe os [vocalização] Aos pulmões, chama-se [vocalização] é

INQ1 Os bofes ou isso?

INF [vocalização] É. É isso [pausa] que se chama. E depois aquilo tira-se-lhe para fora e fica dependurado, e depois quando for A gente faz rojões. A senhora sabe o que é rojões?

INQ2 Sei.

INQ1 Gosto muito.

INF Sabe? Pois. A gente faz rojões. Quer dizer, o fígado não faz!

INQ1 Pois.

INF O fígado bota-se na arca e está sempre e os impulmões do porco , está sempre pronto Porque se a senhora quer fazer um arroz, quer fazer uma coisa qualquer, vai , quer um bocado [vocalização] daquele de fígado, está ou está junto [vocalização]

INQ1 Mas na arca agora? Na arca?

INF Na arca quando é quando é que os mata. E deixa estar

INQ1 Mas é agora. E antigamente o que é que faziam?

INQ2 Antigamente.

INF Ai, antigamente, olhe, sabe o que eles faziam? [vocalização] Eram os primeiros [vocalização] A primeira coisa que eles comiam era isso.

INQ2 Rhã-rhã.

INQ1 A primeira coisa era o fígado logo?

INF Era o fígado o fi-, o fi-

INQ1 O coração.

INF e o coração e os e os impulmões e e depois comiam aquilo e depois Antes de ir para a outra carne!


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