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GRJ09

Granjal, excerto 9

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Elisa Élia
SurveyALEPG
Survey year1978
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Mas olhe que foi verdade. Isso é o que não foi mentira. Olhe, e depois fomos dormir Assim, muito tempo, que eu não me dou nos carros, sabe? Não me dou. [pausa] Cheguei d- Fomos dormir a casa de um irmão que eu tinha. [pausa] Ainda pior! Aconteceu-me outra pior! [pausa] As melgas [pausa] morderam-me toda. Morderam-me nos olhos, morderam-me na cara, morderam-me na testa. Olhe, não parava! De noite, roubaram-me a medalha do meu cordão.

INQ Ah!

INF1 Oh! Olhe que linda Lisboa eu fui a passeio.

INQ As melgas?

INF1 Fui pa-. Não, as as melgas morderam-me. Não. Não é? Mas entrou um sujeito qualquer, que ele era meio ?

INQ Sim.

INF1 Eu tinha a minha carteirinha pousada ali, a minha malinha

INQ Não faz mal.

INF1 A minha malinha estava pendurada [pausa] e eu tinha setenta escudos. Foi. Calhou não levar o cordão, que eu deixei-o em casa. Mas levei eu levei eram cem escudos , destroquei, fiquei com setenta escudos. E comprei, não sei se foi um tercinho no caminho ou não sei o que foi. E [vocalização] E levava setenta escudos na carteirinha.

INF2 Eu chorei a rir.

INF1 E levava a medalha A medalhinha que até era da tia Emília, que Deus lhe perdoe, aquela medalhinha.

INQ É isso é que

INF1 Mas tinham não tinha Dum lado não tinha nada. [pausa] E depois era para a mandar compor. Pôr-lhe o meu retrato e o do Eneias. [pausa] Depois olhe, foram roubaram-me a me- a medalhinha e o dinheiro. Pronto, fiquei sem nada. Foi uma tristeza que eu sei quando eu dei conta daquilo.

INF2 Foi o que tu passaste em Lisboa.

INF1 É verdade. E depois fomos dormir, de manhã quando me levantei Eu não parava de noite. Mordia-me, isto mordia-me a cara, mordia-me Eu não estava bem nem em casa, nem em nada. "Ó senhor Júpiter, quem me dera daqui para fora de Lisboa. Estou cheia de Lisboa, estou tonta da cabeça"! [pausa] Olhe, eram bolhas de água, que tinha na cara, nos olhos. Incharam-me os olhos. Depois meti-me na carreira, não saí mais da carreira, vim-me embora e vinha cheia Olhe, estive aqui dois, três dias que ainda tive que ir ao médico. Ainda levei injecções. Por causa daqui- daquilo que me mordeu na ca- na cara na Eu não via nada em Lisboa! E quê? Não chamam melgas àquelas coisas?

INQ Sim senhora.

INF1 Ai, como eu me pus! Foi preciso ir aqui ao médico, ainda levei umas duas ou três injecções. Então a cara, até até saía água a cair em fio! bolhas de água. Os olhos! Pois eu não parava de noite! Eu mordia-me, eu coçava-me; eu mordia-me "Eh, mas que raio de Lisboa, como isto está! Que é que para aqui "? Fui para umas quintas, para trás

INQ Pois.

INF1 Não sei . Foi o que fui a fazer a Lisboa. Foi o que vi em Lisboa. Olhe que eu não vi mais nada. Vi muita gente, e muitos carros, e pronto. E casas muito altas. [pausa] Mas o que mais gostei foi daquilo. O que mais gostei foi de ver pa- de vir [pausa] o navio, ali ver passar aquelas pessoas, e então aquelas tropas. Isso é que eu gostei muito! Foi a coisa que eu gostei mais. Ele não me ensinaram mais nada! Pois então eu fui doente, eu não me dou nos carros. [pausa] E que via umas tais coisas. Não vi nada, pois. Eu havia de andar um dia ou dois a ver tudo. Fomos, chegámos tarde; [pausa] depois dormimos ; depois viemos ao outro dia embora, vimos uns civis, . Na hora em que eu estava para vir embora é que vi aquilo, quase ma- quase mal.


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