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GRJ25

Granjal, excerto 25

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectA saúde e as doenças
Informant(s) Ercília Elina
SurveyALEPG
Survey year1978
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INQ Ali para os lados de, de Tondela costuma-se fazer um, pôr dentro duma púcara

INF1 Pois. E depois iam botar ao rio?

INQ E depois ferve-se aquilo.

INF1 Pois. Ah! Mas a gente Mas [pausa] a gente

INQ Para aqui não se usa isso?

INF1 [vocalização] Diz-se Diz que para o lado de Tondela costuma costumam pôr num púcaro e irem botar a ferver dentro do púcaro [pausa] essas coisas. Nós , não. Nós , não. Nós , [vocalização] depois do fumadoiro, vai-se botar à ribeira. Ao rio, não é?

INF2 Pois.

INF1 Ao rio. A gente volta as costas não olha para aquilo. A gente leva as coisas de atalhar o ar num, num num púcaro ou num [vocalização] numa tigela, em qualquer coisa. A gente chega , vira para trás, toca a andar para casa.

INF2 Pois.

INQ O quê? As pedras, os guilhos?

INF1 Tudo, vai tudo para a para o rio. Tudo o que fica vai para o rio. É quando o ar larga. Que é: dizem que o ar que foge. Quando a gente vai botar aquilo, vai o ar junto.

INQ Olhe, mas isso são pessoas que põem esses ares?

INF1 Não, minha senhora. É [vocalização] É [pausa] qualquer coisa mau que às vezes passa por a gente.

INF2 Pois é.

INF1 Qualquer coisa.

INF2 É vento!

INF1 Uma encruzilhada. Uma encruzilhada é muito perigosa! [vocalização] A senhora sabe o que é uma encruzilhada ainda melhor do que eu.

INQ Sei. É um cruzamento de caminhos.

INF1 De caminhos. É isso é perigoso. [vocalização] É que a gente até quando passa nesses caminhos deve dizer assim: "Deus me salve, salve-me Deus! Deus me salve, salve-me Deus"! Três vezes. É muito bom a gente dizer: "Deus me salve, salve-me Deus! Deus me salve, salve-me Deus"! É muito bom por causa de não nada.

INF2 Pois. Pois é

INF1 não nada.

INF2 Eu tive um filho [pausa] que esteve uma porção de meses Morre agora, acaba logo

INF1 Embaçados. Então embaçados, enquanto a gente os não curar, não saram. Pode a gente gastar dinheiro com o doutor.

INF2 E se ele

INF1 Pois.

INF2 Vinha um à noite vê-lo porque era o pai, que estava aposentado.

INF1 Pois.

INF2 E vinha o senhor doutor Erasmo de dia. Mas dantes não não receitavam injecções.

INF1 Pois não. Não era

INF2 Era [pausa] ventosas.

INF1 Era. E olhe que não era mais mau. Eram boas.

INF2 Ventosas. Receitavam aquelas ventosas. Mas nem tinha donde se lhe poder podia pôr.

INF1 Pois não.

INF2 Aquela Aquela carne tostada daquela ventosa. Depois rebenta a carne, assim, dentro da ventosa.

INF1 Elas rebentavam, elas enchiam.

INF2 E depois tiravam, porque era para puxar aquela aquele .

INF1 A dor fora. Aquela porcaria fora.

INF2 Enquanto não fomos a um bento, [pausa] o rapaz secava-se. [pausa] O doutor não dava com o remédio, com com a doença. Como é que havia de dar? Não dava. [pausa] O homem, assim que chegou, disse assim o meu Epaminondas Disse-lhe o meu Epaminondas E eu cuidei que Era no tempo das castanhas, que andavam as raparigas, que lhe dessem alguma mistela. E ele estava doido. Não dizia coisa com coisa, com a febre, não dizia coisa com coisa. [pausa] "O seu filho não foi nada que lhe fizeram! Sabe o que foi? [pausa] Foi a guardar umas vacas". É por isso que ele invoca um espírito e o espírito é que lhe diz para ele o que é e o que é que não há-de fazer. [pausa] O que é que é? pessoas médias.

INF1 Pois .

INF2 Eu não.

INF1 A minha menina, a minha neta

INF2 Eu não.

INF1 Olhe, a minha netinha, a que está em Lisboa, a a tolita, a que é é tolinha. Tenho uma neta mui- com vinte e seis anos que é doidinha. Não é assim bem doida, coitadinha! Foi a meningite que lhe deu, pequenina.

INF2 Foi a meningite que lhe deu de pequenina.

INF1 Foi a meningite. Mas essa minha netinha, foi a meningite e quan- e quando nasceu, logo quando nasceu, entrou para ela um espírito marinheiro! Pescador. Olhe, a senhora não se lembra que ela ia a uma faixa de palha, ripava-a toda e andava sempre: bumba! Não se lembra? Ela ripava as palhas, ia para o do tanque, para a água: bumba, bumba! Tal e qual como o pescador botava o anzol para pescar, assim ela andava sempre com as palhitas. Ou uma linha que encontrasse no na rua, andava sempre assim. Em volta daqueles tanques todos. E nunca caiu a um tanque! Nunca! E quando fomos co- àquela que havia ali ao de Moimenta, ao Castelo

INF2 Ao Castelo.

INF1 Ao Castelo. Ela disse-nos assim: "Essa menina não é média. É uma média grande. É pena ela não ter vocação que se possa governar. Porque é uma média mas é uma média grande. Porque entrou para ela, logo quando ela nasceu, um espírito pescador". Ao nascer, ao nascer, veja !

INF2 Veja !

INF1 Ao nascer!

INF2 Vejam !


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