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LAR17

Larinho, excerto 17

LocationLarinho (Torre de Moncorvo, Bragança)
SubjectO leite e o queijo
Informant(s) Clara César Cesário
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 O que é que a senhora põe no leite para fazer o queijo?

INF1 [vocalização] Coalho.

INQ1 E o coalho é o quê?

INF1 O coalho é o coalho

INQ1 Antigamente.

INF1 Antigamente era o coalho de do que saía dos borregos.

INQ1 Como é que fazia para aproveitar o coalho?

INF1 É uma colh-, é uma O bucho. Parece-me que é o bucho ou o bucho que eles têm que é que Têm dentro de uma mão o leite, e depois daí é que se forma o coalho. Depois ele, ao matar os borregos, tira aquilo, a gente aproveita, seca, e guarda para fazer a para pôr depois no leite.

INQ1 E era dos borregos?

INF1 Dos borregos.

INQ1 Não era dos, dos cabritos. Eu pensava que era dos cabritos.

INF1 E também. Também, também. Também É dos cabritos e de

INF2 Quem tem cabritos, é dos cabritos; nós temos borregos, é dos borregos.

INF1 Pois. Nós temos os borregos, é dos borregos; quem tem cabritos, é dos cabritos que sai. E [vocalização] E depois des- [vocalização] desfaz-se numa pinguinha de água. Depois de o leite estar coalhado e composto, deita-se , espera-se que coalhe. E

INQ1 Rhum-rhum. E como é que chama depois aquele coiso assim todo?

INF1 [vocalização] Coalhada.

INQ1 A coalhada.

INF1 Coalhada. Da coalhada, sai o soro; depois, do soro, saem os requeijões.

INQ1 Faz requeijões, do soro?

INF1 Requeijões [pausa] do soro.

INQ1 Como é que se faz o requeijão?

INF1 O requeijão, põe-se ao lume e vai-se fervendo, fervendo, fervendo, até que ele tome uma, lentamente, até que forma uma coalhada e depois dessa coalhada é que ele sai os requeijões.

INQ1 Pois. E a coalhada, onde é que punha depois?

INF1 Nos aros e na francela. Primeiro [vocalização] era uma francela em madeira, antiga, não é?

INQ1 Como é que é a francela? É redonda ou é comprida?

INF1 Em madeira. Não, é comprida, assim deste tamanho, e depois leva os aros para a gente, com umas patas E depois leva então os aros em cima, a gente bota ali a coalhada e espreme-se e [vocalização]

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 e faz-se.

INQ1 E é com leite de ovelha?

INF1 com leite de ovelha.

INQ1 Rhum-rhum.

INF2 Quem tem cabra também faz de cabra.

INF1 Quem tem cabra faz com um bocado de cabra. Quem tem, pois

INQ1 Não usava cabra?

INF1 Não.

INQ1 Isto Faz separado?

INF2 Sim.

INF1 Separado. Não é com

INQ1 Ah, portanto, faz-se de cabra dum lado e de ovelha do outro?

INF1 Cada um Pois, pois.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 E [vocalização] depois, pronto, não tem mais

INQ1 Não tem mais nada?

INF2 E bota-se [vocalização] o coalho nas arrequeijoeiras para os tais requeijões.

INQ1 Diga?

INF2 Para os tais requeijões, o coalho [pausa] do soro que se, que se que se forma, um umas arrequeijoeiras, uma coisinha assim pequenina, pronto.

INF1 Pois. Nas arrequeijoeiras.

INF2 Chama-lhe a gente arrequeijoeiras ou

INQ1 E cha- Mas é A arrequeijoeira é de quê?

INF1 É em lata.

INQ2 Como é?

INQ1 Em madeira?

INF2 É de, de de zinco, espécie de zinco, .

INQ1 É como se fosse o aro?

INF1 Não, não, não. Vai buscar uma requeijoeira.

INQ1 Não, não vale a pena. Depois a gente quando for para .

INF2 É uma coisinha pequenina, . É uma coisa pequenina. [vocalização] Quer dizer

INQ1 Mas é como se fosse um cesto?

INF2 É [vocalização]

INQ1 Não é em vime.

INF1 Não é de vime. Não é em vime. Não é em vime nem.

INQ1 Não. É porque eu vi noutros sítios em vime.

INF1 Pois. para baixo é uns cestinhos de em vime e outros em plásticos.

INF3 A minha mãe também tinha.

INF1 Também tenho desses plásticos. Chamam-lhe as queijadinhas até, para baixo. Mas não. Nós aqui é em lata. Uma Uma requeijoeirinha, depois tem assim este ra- cuzinho, depois vai assim É uma espécie dum cuzinho para cima e forma uma requeijoeira dum funil.

INF2 Espécie dum funil. Espécie dum funil.

INQ1 Uma espécie dum funil?

INF2 É espécie dum funil, praticamente. , não é bem Não é bem

INF1 Uns piquinhos em toda a volta.

INQ1 Mas, portanto, volta a pôr coalho no, no, no soro?

INF1 Não, não, não não. No soro, não leva mais nada.

INQ1 Ai não?

INF1 Não leva mais nada.

INQ1 Ai não leva mais nada?

INF1 Não leva mais nada. O soro, depois de estar preparado e composto, que saia do queijo, vai para cima du- duma panela ou duma caldeira de antigamente, era uma caldeira que fervia o soro; a gente agora, às vezes, para não estar a acender lume, mete-o numa panela , mas antigamente era numa caldeira, e depois uma fateca, mexe-se, mexe-se até que que ele saia aquela coalhada;

INF2 Que ele pega a coalhar.

INF1 e depois tira-se daí os requeijões para para a travessa e a e as malguinhas, é que se fazem os requeijões.

INF2 Era as tais malguinhas.

INQ1 A fateca, a senhora chama fateca, é o quê?

INF1 Fateca, um coiso de mexer [pausa] o o pau.

INF2 O pau.

INQ1 Mas é um pau?

INF1 Um pau.

INQ1 Não é uma colher?

INF3 Uma colher feita de pau.

INF1 Uma colher [vocalização].

INQ1 Ai é uma colher de pau?

INF1 [vocalização] É uma colher de pau agora, mas antigamente não era uma colher de pau. [vocalização]

INQ2 Era direito.

INF1 Era direi- um pau direito e [vocalização] daí é que é uma fateca mesmo, que lhe chamam a fateca. E a [vocalização] Pronto.

INF2 Um pau direito, pronto, com . Antigamente até os até os arranjavam de sanguinho.

INF1 Sanguinho, pois. Antigamente era desses

INQ1 Ah!

INF2 Paus de sanguinho. De um pau que de sanguinho.

INQ1 Que é assim um tronquinho brilhante?

INF1 É.

INF2 Um assim muito brilhantinho. Diz que era a coisa mais própria para mexer o soro.

INF1 Para mexer o soro, sim senhora.

INF2 Agora, é claro, hoje tudo.

INF1 Pois é. A gente vai comprar uma colher de pau.

INF2 Hoje tudo. não é preciso ir ao campo aos paus, nem a nada. Hoje tudo.

INQ1

INF2 Hoje tudo. É verdade.

INQ1 se compra tudo.

INF2 se compra tudo. É verdade.

INQ1 Sim senhora.

INF2 É assim. Ainda bem.


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