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MTM25

Moita do Martinho, excerto 25

LocationMoita do Martinho (Batalha, Leiria)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Castorino Cinira
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Tenho muita pena de não ter moinho. Muita!

INQ1 Pois é.

INF1 Olhe, antes queria ter Preciso muito de dinheiro, [pausa] que não o tenho, mas antes queria ter moinho que tinha cinco ou dez mil contos. [pausa]

INF2 É o dele. Ele foi nascido. Foi nascido.

INQ2 Era a vida Gostou!

INF1 Era a minha vida. Era a minha vida.

INQ2 Gostou!

INQ1 Mas é pena! Mas não tem o sítio do moinho nem nada? não tem nada ?

INF1 Criei [pausa] Criei c- Ainda está. Criei cinco f-

INQ1 E porque é que não?

INQ2 De qualquer maneira, ele foi-se embora

INQ1 Pois, pois.

INF1 Ainda o podia utilizar.

INQ1 Podia fazer. Comprava

INF1 Podia. Davam-me ordem para fazer isso. O que é é que

INQ1 Pois é.

INF1 isso era uma despesona agora! Um moinho daqueles, para colocar aquilo tudo como devia de ser

INQ1 Pois é.

INF2 Pois é.

INQ1 Mas se calhar pode é pedir um subsídio ou assim, não? Não ?

INF2 Eu acho que não. não.

INQ1 Para essas coisas do turismo, coisas assim, não?

INF2 Eu acho que Eu acho que não.

INF1 Eu acho que não.

INF2 Eu acho que não.

INQ2 E resta saber se ainda haveria algum carpinteiro que conseguisse fazer umas, aquelas Quem é que fazia? Era os carpinteiros que faziam isso?

INF1 Eles morreram quase todos.

INF2 , daquele tempo.

INF1 . por . artistas .

INF2 Não sei. Daqueles dentes que faziam para as entrosas não sei se haverá agora.

INF1 , ! ainda quem faça isso.

INF2 Não sei.

INF1 ainda quem faça isso. Tem que fazer Quebra-se um, tem que se fazer.

INF2 Às vezes partia

INQ2 Pois.

INF2 partia um dente ou dois, ia ele direito ao carpinteiro para fazer os dentes para a entrosa.

INF1 Aquilo é E ele viria. Ele, às vezes, de

INQ1 Claro.

INF1 de três ou qu-, ou dez anos, ou cinco anos, [vocalização] aquela entrosa precisava de ser endentada, precisava de levar dentes novos.

INF2 Porque os dentes gastavam-se. Eles gastavam-se.

INF1 Tínhamos que ir buscar um carpinteiro para endentar isso,

INQ1 Pois, pois.

INF1 para endentar aquilo tudo de novo.

INQ2 Era uma vida!

INF1 Aquilo eram eram vidas que eu gostava muito. E [vocalização] E levava muito boa vida! Levava muito boa vida, não fazia nada quase! A gente estávamos ali então à espera do vento.

INQ1 Não fazia nada! Risos

INQ2 Então mas não tinha que ir buscar a, a, as taleigas?

INF2 Ah, mas isso [vocalização] tinham eles um

INF1 Tínhamos um criado, um carreteiro.

INF2 Os moleiros tinham sempre um carreteiro, não eram eles!

INF1 O moinho estava

INQ1 Ai não?

INF1 O moleiro não podia desprezar o moinho.

INF2 Não. Os carreteiros é que têm uma vida ruim; agora os moleiros não.

INF1 A gente não podia desprezar

INQ2 Ah, tinham os carreteiros.

INF2 Tinham!

INF1 Pois, tínhamos um carreteiro que andava a acartar.

INF2 Olha que eu lembro-me um pouco aquela vida! Risos

INF1 Ora Ora eu estava sempre [pausa] estava sempre porque a gente não podíamos desprezar o mo- o moinho.

INF2 Muito tempo, não.

INF1 O vento hoje estava daqui, am- daqui a nada estava dali, e se ele virasse e a gente não estivesse, quebrava o moinho.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Dava-lhe por trás nas velas e as velas roçavam-se para diante, iam

INF2 Isso dormiam grandes sestas!

INF1 Ia-se tudo embora! Ia-se tudo embora! Ai, isso dormi algumas!

INF2 Isso eram Não! Olha, isso eram te- São terríveis para dormir os moleiros!

INQ2 O barulho, o barulho até em-, embala! Com aquele barulho, assim!

INF2 E acostumavam-se. Estavam acostumados.

INF1 Ai, eu dormia à mesma com o barulho do moinho!

INQ2 Claro, claro. Até serve para embalar.

INF2 Estavam acostumados. É verdade!

INQ1 Pois.

INF1 Às vezes queria eu ir com o barulho A gente tinha essas buzinos no moinho chamava-lhe a gente os buzinos de cana

INF2 De cana ou de de, de barro. Também havia os buzinos de barro.

INF1 Ou de barro. De barro quebrava-se o moinho e o barro ia logo todo embora; e os de cana não, caíam e não se quebravam. E se se quebrassem, a gente arranjava logo outros.

INF2 É, punham os buzinos.

INF1 Depois a gente quando está- estávamos aqui em casa Eu estava aqui e sabia se o moinho andava depressa, se andava devagar.

INF2 Ou não. Com aquele Com aqueles buzinos.

INF1 Com aquilo eu sabia se o moinho andava depressa ou devagar.

INQ1 Que engraçado!

INF1 Às vezes abalava daqui a correr, andava a criar os garotos, cheguei daqui a abalar Esta ia buscar [pausa] carradas de, com a carroça e o burrico, ia buscar uma carrada de [vocalização] milho, taleigos duns e doutros, às vezes mais de dez e vinte taleigos em cima da carroça, e eu ficava aqui a trabalhar e às vezes abalava com os garotos para o moinho. Eram vidas apertadas!

INQ1 Pois, pois, pois.

INQ2 Claro.

INF2 Ah, isso eram! Eram vidas apertadas!

INF1 E a gente abalávamos e íamos íamos Eu ia para o moinho, depois ela ia ter com a carrada de milho, taleigos dos fregueses, e depois às vezes estava , outras vezes não estava . Pronto. Era Passava-se assim a vida. Tinha que ser assim.

INQ2 Sim senhor.

INF2 Naquele tempo era assim.


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