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PIC09

Ribeiras, excerto 9

LocationRibeiras (Lages do Pico, Horta)
SubjectOs barcos e a pesca
Informant(s) Balduíno Baltasar
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INQ Desde que a vigia anuncia

INF1 Ah! Estou a perceber [pausa] Pois é, a gente, aqui, [vocalização] esperamos aqui a baleia aqui Mais ou menos, estamos num local aqui de perto, nunca estamos muito longe, por causa de quando estamos [pausa] para arrear. De forma que [vocalização] vinham , o sinal de cima é atirar um foguete. E a gente então vamos. [vocalização] A vigia por os rádios é que vai guiando guiando a gente por ali fora, por ali fora. E é que ele então O sítio mais ou menos donde ele [vocalização] que a baleia está não é? , manda parar a gente. E a lancha larga os botes. O bote além, isso é bote que a gente arreia agora um bote. De forma que a gente afasta-se um bocadinho da lancha, porque, é claro, nunca ele manda largar no lugar no sítio próprio da baleia. Manda um bocadinho desviado para a ba- a baleia não sentir a [vocalização] a lancha, [vocalização] o motor da lancha. E [vocalização] de forma que a gente faz o nosso cálculo, ele diz mais ou menos na direcção e esperamos. Em sendo baleia grande, que esteja mansa [vocalização], aquilo é mais ou menos, [pausa] uma hora, hora e u- hora e um quarto que está por baixo, [pausa] depois vem para cima flutuar. Em cima da água aquilo prrrr! [pausa] Às vezes, costuma estar, sei , [pausa] uns dez minutos, o máximo, nem nem talvez esteja. Dez minutos, por cima, [pausa] até ir para baixo. Portanto, a gente faz o nosso cálculo e vamos A baleia, então, a gente está mais perto do lugar que podemos chegar, pois a gente rema para ela ou remo ou de vela, também pode ser de vela, [pausa] e de remos. [pausa] E vamos então à baleia. Corremos a chança, procuramos a maneira como havemos de ir a ela É que o mais conveniente é ir [vocalização] ou por o por a banda da cauda, do rabo ou que a gente cha- [pausa] chamará bem a cauda! e a banda da cabeça, ao andar dela. É mais conveniente porque é mesmo é menos perigoso. Se não a gente saindo ao atravessado, temos que atrav- avançar por cima dela. De forma que é perigoso. De qualquer das maneiras é perigoso, mas assim é melhor. E [vocalização], e há-de , trancamo-la, e ela [pausa] se é boa, pois fica em cima da água. Ele, às vezes, pronto, [vocalização] fica acima da água, depois de a gente lhe dar com o arpão. Depois de lhe dar com o arpão, fica em cima de água. E a gente então vamos com as lanças e [vocalização] para dar cabo dela, claro. lugares próprios e a gente temos que [pausa] atacar por o lugar próprio para a matar. De forma que é E a [vocalização] Depois de estar morta, pois a [vocalização] a lancha reboca para o para o lugar das fábricas. [pausa] A gente faz-lhe um buraco não é? na cauda [pausa] e [vocalização] e amarramo-la. Depois vão rebocando para as fábricas. E é isto é que é a baleia, mais ou menos, que a gente O estilo que a gente usa por é isto! É mais ou menos isto. Porque, às vezes, pff, agarra-se um bocadinho de frescos fora, que é maus tempos, agarra-se, às vezes, maus tempos, mas É uma vida como outra qualquer, mas, é claro, uma vida, às vezes, meio esquisita. Às vezes, agarra-se um bocadinho de mau tempo.

INQ Quantas horas costumam estar no mar para pescar uma baleia?

INF1 [vocalização] Não tem horas certas, senhora. [vocalização]

INQ Assim uma, uma baleia que seja fácil?

INF1 Ah, fácil, é muito rápido, é muito rápido. Pois ele eu tenho eu tenho que transpor as milhas que elas estão desviadas da costa.

INQ Pois.

INF1 Mas depois de estar , às vezes pode estar na coincidência de a gente chegar e ela sair logo a caminho. E ela ser de bom jeito, ela ser de bo- bom modo, quer dizer, baleia de bom bom génio que a gente chega e tranca e mata rápido, não é? Acredite que o outro dia apanhámos uma, [pausa] acho que não levou bem uma hora, estava morta. Não levou uma hora. Ele entre largar e matar levou uma hora. Estava morta. [pausa] Sim senhora. É isto o que eu lhe posso dizer como que tenho passado.

INQ Quais são as baleias mais bravas que se deixam apanhar?

INF1 As mais bravas?

INQ Com mais dificuldades?

INF1 As mais dificuldades é as baleias que [vocalização] É a miúda, as de cardume, que estão Bom, todas elas tem umas mais más do que outras. Mas Mas, , a gente, que custa mais a morrer que a gente temos aqui é a baleia que está para ser mãe.

INQ Essa defende-se?

INF1 Não senhora. É mais custosa mesmo de morrer. Não sei porquê. Não posso então lhe explicar. Não tenho uma inteligência para lhe explicar mais. A gente [vocalização] faz o mesmo que faz com as outras e custa mais a morrer. [pausa] Não sei por qual é a razão. Mas mas is- isso dá-se. As baleias que estão para ser mãe para serem mãe, é mais custosa de de morrer. [pausa] Sim senhora. [pausa] É isto o que é a nossa vida de . É a nossa vida de .

INQ

INF2 E a baleia quase sempre morre direita ao sol?

INF1 Ah, pois!

INF2 Agora me explique isso.

INF1 A baleia quase sempre, quando está para morrer Que a gente conhece a baleia quando está para morrer. Que a baleia em [pausa] tombar-se de lado, e tal, e a gente que está na na hora de morrer. A gente é preciso ter muito cuidado nessa hora, porque nessa hora ela não se desvia da embarcação. A baleia quando [vocalização] está para morrer, está doida não é? para morrer, com as agonias; quer dizer, o animal também se-, so- sofre agonias. A gente desvia-se mais, mas quase sempre morre com a cabeça direito ao pôr-do-sol quase sempre, quase sempre! Bom, há-de haver ele talvez alguma que não, mas ele são raras as que falham. Quase sempre morrem com a cabeça direito ao [pausa] pôr-do-sol. [pausa] Sim senhora. [pausa]

INF2

INF1 estive. revirei algumas vezes, duas ou três vezes, e por também quebrei. E caí ao mar. Mas batem às vezes no bote e a gente Ruído de palmas da mão a baterem uma na outra são enviados. Mas, graças a Deus, até aqui nunca me pisei. Agora o, o, o filho daquele o irmão daquele, se pisou. se pisou. Levou uma boa pisadela boa e até agora ele anda no doutor por causa disso. Mas eu, felizmente, ainda nunca me pisei na baleia. Uma vida um bocadinho arriscada, mas a gente começa de pequenos, nesta vida, rapazinhos novos.

INQ Que idade tinha quando começou?

INF1 Eu? Quinze anos.

INF2 E à proa?

INF1 À proa tinha dezanove anos. Comecei a ser trancador de baleia. Tinha dezanove anos. Arreando de trancador de meu pai. Tinha dezanove anos. Era praticamente um rapaz. E depois aquilo ficou-me a modos no sangue. Não sei porquê. Gostei sempre desta vida. À vezes até Às vezes, o homem da baleia [pausa] um super-homem. Não é. Somos criados mesmo naquilo. E é de forma que a gente habitua-se àquilo e gosta daquilo, acha que aquilo é mesmo um desporto e gostamos daquilo. Quer dizer, embora até aqui tenha sido um bocadinho mal remunerado, tem sido mal pago. Agora sempre mais um uma coisinha. Temos [vocalização] o azeite que agora está mais bem pago, sempre agora a coisa sempre vai a estar melhor. Está melhor. Mas é claro, também pouca gente, a dificuldade é de gente! Isto houve aqui nove botes a arrear. [pausa] E hoje [vocalização], hoje um. E, às vezes, dificuldades ainda para um . Da forma que isto foi! Quer dizer, foi mesmo o pão desta freguesia, o ar-, ba- a baleia. foi o pão da freguesia. Claro, veio as outras vidas, como a albacória E sem ser a albacória, houve esses emigrantes . A freguesia foi evoluindo e, é claro, deixaram o mar da vida da baleia, mas [pausa] mas [vocalização] a vida da baleia, quando eu era rapa- eu quando era rapaz era o pão da freguesia. Era, sim senhora.

INQ E alguns rapazes novos a aprender, ou não?

INF1 Pois, isso, sabe, os novos, [pausa] vai aprendendo alguns mas é desses que não vão para albacória, porque a albacória está a dar mais. Muito mais!

INQ Então o senhor acha que a pesca da baleia vai acabar?

INF1 Creio que agora talvez não, porque agora a coisa o preço do azeite veio para cima um bocado muito grande.

INQ Bem, mas daqui por dez anos, acha que ainda haverá alguém que pesque?

INF1 Pois não sei, senhora. Não sei. Isto a [vocalização] está um bocadinho baixo. Ora, a gente [vocalização] aqui, eu mais o irmão daquele, pois [vocalização] pegámos nisto e temos vontade que isto se aguente. E vamos tentar isto ague- aguentar isto. E não posso precisar se daqui a um ano, ou dois ou três, isto não esteja melhor do que o que está agora. Até o- Até o azeite como é que vai, pode calhar isto daqui a dois ou três anos estar melhor que o que está agora.

INQ Porque da baleia apro-, aproveita-se tudo, não é?

INF1 Sim senhora. Tudo, tudo. [pausa] É [vocalização] Resta pouco. Resta pouco da baleia. Ossos e [vocalização] coiso, isso é tudo derretido, tudo [pausa] farinhas e azeites e [vocalização] tudo. A baleia é uma coisa, é muito grande. , .

INF2 E o mais apreciado é é o marfim dela.

INF1 É o marfim também. A dentadura. Oh! Hoje em dia está-se pagando bem: a dois contos e tal, cada quilo; a dois contos e tal e até dizem que a três. Até houve uma [pausa] proposta nas Flores, creio eu, a [vocalização] a cinco. Ouvi.

INQ Eu sei que um, um dentezinho de, de baleia, assim, pequenito, que custa, para quem quiser comprar numa loja, custa quinhentos escudos.

INF1 Sim senhora.

INQ Quatrocentos, quinhentos.

INF1 É, sim senhora. Mas a gente estamos-se a referir ao quilo.

INQ Pois, porque para vocês nunca é tanto.

INF1 E da grada, nas Flores, a grada, disse-me o senhor Barnabé, que [vocalização] a baleia grada que um quilo de dente, que estava a ci- a cinco contos; e o da miúda a três.

INF2 Está a três contos.

INF1 Tem sido Tem sido uma coisa em grande. Tem subido bem.

INF2 Isto [pausa] se a albacória descesse um pouco Que a gente [pausa] temos anos de crises também de pesca de atum. Se ela diminuísse um pouco, pois esta ia progredir mais um bocado.

INF1 Bom, nunca era uma maravilha porque [vocalização]

INF2 Pois.

INF1 Baixar uma e levantar outra, acho não é bom. É bom é que as duas

INF2 Pois.

INF1 Depois a gente também passa as dificuldades da pesca da mesma maneira, porque houve anos também de não se ganhar nada na pesca do atum.

INF2 Pois. Também os tive.

INF1 !

INF2 tive muitos.

INF1 E a gente, a baleia, pode-se dizer que é uma coisa, um ano mais, outro ano a menos, mas sempre se apanha. sempre dificuldades. sem- Qualquer vida sempre dificuldades. sempre dificuldades. E é bom é que as duas aguentem. Isto sempre

INF2 Sim. E quase sempre para cima. É sempre bom.


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