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VPC13

Vila Pouca do Campo, excerto 13

LocationVila Pouca do Campo (Coimbra, Coimbra)
SubjectOs cereaisA rega
Informant(s) Dulcina
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ Então explique-me como é que era o trabalho do arroz? agora fica

INF Então o trabalho do arroz, olhe O trabalho do arroz, a gente, nos nossos princípios, [pausa] era semeado. Semeava-se e [vocalização] depois era mondado.

INQ Mas é ainda tudo dentro de água? Não, era em seco?

INF Não, não. Era tudo dentro de água. Ele se lavrava com as vacas.

INQ Rhum-rhum.

INF E gradava-se.

INQ Sim, é. Depois de tudo, corta isto. Diga, diga.

INF [vocalização] Semea- [vocalização] Lavrava-se a terra para começar a eito , depois gradava-se, depois metia-se-lhe a água. Quando era do rio Mondego, faziam

INQ Em que altura do ano é que era?

INF É Isso era em ma- em Março. Em Março.

INQ Lavrava-se e gradava-se em Março?

INF Sim senhora. E depois, quando era metia-se-lhe a água quando era do rio Mondego e outros que eram dos dos engenhos. Que eram uns engenhos com com uns alcatruzes e com umas entrosgas. E botava-se a vaca ao arrei- ao cangão, e tocava-se atrás dela e [vocalização] tirava a água para regar o arroz. Em sítios que a água do Mondego não ia. E ag-, e [vocalização], e se- semeava-se. Depois veio outra outra moda. Foi pela A gente semeávamos viveiros e [vocalização] . E semeávamos os viveiros também em Março e quando chegava ali ao princípio de Maio, arrancava-se, tornava-se a preparar as terras como era para semear. E E depois arrancávamo-lo, trazíamos pessoal a arrancar, e depois era plantado. E depois era: botávamos-lhe água e adubo, e era criado. era tudo

INQ Mas os viveiros era o primeiro sítio onde punham o?

INF Não, não. Era pa- fora do do arroz.

INQ Depois punha-se

INF Depois é que se punham. Vinham aqueles ranchos de todo o lado, vinham para aqui trabalhar arrancar e plantar. Era a plantação do arroz naquela altura.

INQ Mas isso foi uma moda? Ou sempre se fez?

INF Foi. Não, não. Eu, nos meus princípios, era semeado.

INQ

INF Depois é que veio aqui é que veio essa coisa para plantar

INQ Moda

INF Plantar-se o arroz, que mais produção.

INQ E dava?

INF E dava, sim senhora. Dava mais produção. Mas depois, quando começaram a vir as máquinas agrícolas, deixou-se de [vocalização] de semear viveiro. Porque as máquinas p- máquinas para semear o arroz agora.

INQ Pois.

INF Para semear, e para adubar, e para e para plantar e para, para.

INQ E para plantar como é que é? Tinha que fazer um buraquinho no chão e pôr?

INF Olha, ai! Isso era medonho [pausa] para a gente! Para a gente não era medonho, que a gente estamos habituados naquilo! Fazíamos [vocalização] Andavam aqueles ranchos, fazíamos uma uns calções,

INQ Rhum-rhum.

INF e [vocalização] e o arroz estava espalhado atrás da gente, e a gente de empreitada. [vocalização] Davam a Os patrões davam aquele a quem andava por fora. A gente, graças a Deus, não andávamos por fora. Andávamos aos dias por dias umas com as outras.

INQ Rhum-rhum.

INF Mas vinham aqueles ranchos, dávamos-lhe aquelas empreitadas e eles plantavam. Uma aguilhada, ou duas. E depois iam-se embora. E elas Aquilo era uma ligeireza! Aquilo era uma ligeireza!

INQ E como é que faziam o buraco no chão para pôr?

INF Era assim plantado. Agarrava-se às manzadinhas, a m-, [vocalização] a manzada aqui no braço esquerdo e o e a mão direita a plantar: tum, tum, tum, tumba!

INQ Mas que é Mas como é que plantavam?

INF Era com a mão.

INQ Mas e o chão o que é que Mas como é que a planta ficava presa no chão?

INF Ficava presa porque tinha a água.

INQ Ah, era fazer assim?

INF Era Era plantar assim. E a gente

INQ Aquilo estava quase

INF Preparavam-se as ma- é com umas marinas que eu digo , preparavam-se E aquilo parecia as marinas do sal. Depois a gente plan- distribuíamos o arroz. E então cada qual agarrava a sua coisa e era E quando era de empreitada aquilo era medonho! Era medonho andar a espalhar o arroz atrás delas, das mulheres. Porque elas o que queriam era [vocalização] fazer o serviço e depois iam-se embora.

INQ Para se ir embora.

INF Pois. [vocalização]

INQ Portanto, e isso era plantado. E depois quanto tempo é que ficava dentro da água?

INF Quanto ficava Chegámos a Chega a se-, a vi, , a [vocalização] a vinte de Setembro. Ceifa Ceifava-se nessa altura.

INQ não tinha água nenhuma?

INF Não senhora. Quando ele começa a a [vocalização] enleirar, que ele começa a vingar, a água é fora.

INQ E como é que se tirava a água para fora?

INF Tira-se: tapava-se o regadio. Porque agora temos [vocalização] Naquela altura [pausa] era duma maneira, agora é doutra. Naquela altura tínhamos de fazer represos no rio Mondego, e tinha uns cubos a atravessar a a mota, e cada qual dos lavradores que pertenciam àquela área [vocalização] iam fazer os represos no rio e a água vinha para fora.

INQ O represo era fazer uma espécie duma parede, era?

INF Sim, sim, sim com. Mas era com com lenha.

INQ Com lenha.

INF E areia. Era com lenha e areia.

INQ Que era para a água ficar ali?

INF Para a água ficar presa para sair depois.

INQ Para sair.

INF Cada qual tinha tínhamos aquelas Era umas, era [vocalização] Agora por exemplo aqui era um, [vocalização] aqui na nossa terra, depois em cima era outro. E era na área dos que regavam dali é que faziam o represo.

INQ Rhum-rhum.

INF Aquilo antigamente era assim. Agora depois agora é doutro formato.

INQ Isso era quando começava a alourar?

INF Quando o arroz começa a alourar

INQ É para Agosto, não é?

INF É para Não. Fim Agosto. E f- No fim de Agosto, ele começa a virar; depois em meados de Setembro [vocalização], em meados de Setembro, quem semeia mais cedo começa a ceifar. C- Começávamos a ceifá-lo à mão. Co- Era com as foicinhas [pausa] que a gente o cortava, naquela altura. Porque agora agora que eu depois explico-lhe como é agora [vocalização] Depois a gente ceifava-o, ficava a resteva para [vocalização], para para secar. Era, Eledava muito trabalhinho! Depois íamos atá-lo. Íamos atá-lo ao fim de dois dias ou três, conforme o sol estivesse. Íamos atá-lo, depois 'trazíamo-no' para casa. Depois botávamo-lo assim ao todo ao alto na eira, metíamos-lhe o gado [vocalização] a, para o para o malhar. E a gente com os malhos: tumba, tumba! Malhos de madeira, que ainda tenho um de malhar o feijão.

INQ Então há-de-me mostrar o malho para eu

INF Mas é que se eu se eu agora o encontrasse!


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