INQ1 Olhe, a outra árvore que também dá uma espécie de bolotas e donde não se tira a cortiça?
INF A que dá dá bolotas?
INQ1 Outra que dá assim uma coisa parecida com a bolota.
INF É o [pausa] O que dá bolotas parecida [vocalização] … Um carrapiteiro. É. O carrapiteiro dá dá bolotas parecido parecida.
INQ1 É o mesmo que é…
INF Parece-me Parece-me que é o carrapiteiro. É o mesmo que é, que é que é o chaparro.
INQ1 É o mesmo que é o chaparro?
INF É. O carrapiteiro.
INQ1 Mas não dá à superfície?
INF Mas não dá cortiça.
INQ1 É o mesmo que o azinheiro?
INF É o azinheiro! O azinheiro é que é. É como a
INQ1 O azinheiro e o carrapiteiro é a mesma coisa?
INF [vocalização] O az-, o carrapiteiro O carrapiteiro é outra coisa. O carrapiteiro dá para enxertar [pausa] uma uma pereira, uma pereira. O carrapiteiro dá para enxertar uma c-, uma uma pereira. E o [vocalização] E o azinheiro dá para enxertar uma, uma uma sobreira. [pausa] Mas isso é [vocalização] é raro fazerem isso. O azinheiro O azinheiro é mesmo preparado – que há, há, há azinheiros que há há madeira mesmo de azinheiro e há bolotas de azinho. Que a bolota de azinho é mais doce que a outra. [pausa] Agora o que é, é que não tiram é a cortiça.
INQ2 Pois.
INF Esse não tiram a cortiça. É. O azinheiro não tiram a cortiça, mas dá bolotas. Dá bolotas d- doces, [pausa] grandes. Mais do que a É mais grande do que a outra do chaparro.
INQ1 Um sítio onde há muitos azinheiros?…
INF É [vocalização] Sabe onde é que é que há que há muitas azinheiras? É [vocalização] Moura. [pausa] Uma herdade grande, porque era ali para o Alentejo, que era do Armelim. [pausa] Meu avô ia lá a valar e trazia muita bolota de azinho. [vocalização] Isso é que há muito aí – [pausa] Moura!
INQ2 Aqui, aqui perto de Alcochete, não há?
INF Aqui não há aqui, aqui. Eu não conheço aqui nada, perto disso, aqui dentro da charneca. Aqui, uma charneca grande que está aqui mesmo a seguir ao Olívio das Enguias, não vejo nada disso. [pausa] Azinheiro, é raro.
INQ1 Olhe, e outra árvore que é, que é muito grande, muito alta, e que também dá madeira boa para fazer…
INQ2 Móveis.
INQ1 Móveis. Os móveis… A madeira mais barata para fazer móveis, é o qual?
INF Então isso é… A madeira de móveles, onde é que isso dá [pausa] é lá para o norte.
INQ1 Mas aqui com que é que se fazem móveis baratos? Esses móveis de…
INF Isso é a madeira de pinho, é o mais barato. É o que se fazem aí. Mas [vocalização] dessa madeira [pausa] que é boa, isso é lá para a banda de Leiria, [vocalização] isso aí é que há, [pausa] essas madeiras.
INQ1 Mas esse pinho tira-se donde?
INF Esse pinho é cortado da da charneca, onde é que está os pinha- os pinhais.
INQ1 E há os…
INF E há pinho manso. Há pinho Há pinho manso [pausa] e há pinho bravo. Há duas qualidades de pinheiro.
INQ2 Pinheiro e pinho é a mesma coisa?
INF É. Pinheiro, [pausa] é [vocalização] é só o que tem diferença é do manso para o bravo. [pausa] O manso é [pausa] é um pinheiro com mais copa e mais pequeno; cria mais copa. E o bravo [pausa] é de deitar lá por aí acima. [pausa] Desse é que vem muita madeira para as serrações. Vem também do outro!…
INQ1 Olhe, os pinheiros mansos, além da madeira, também dão outra coisa que se come.
INF Dão pinhas. Come-se. Assa-se, assa-se.
INQ1 E o que é que se come? Assa-se a pinha e o que é que se come?
INF [vocalização] Assa. [vocalização] Come-se os pinhões. [pausa] Tira-se os pinhões, bate-se com um martelo ou com uma pedra e tira-se aquilo lá de dentro. O pinhão. O p-, o p- O pinhãozinho, o pinhãozinho. E chama-se o pinhão.
INQ1 A folha do pinheiro não é como a das outras árvores.
INF Não. Ele a folha do pinheiro é em bico. [vocalização] É um É um bico.
INQ1 E como é que chama àquela coisa quando está?…
INF É o pico.
INQ1 O pico.
INF Chama-se o pico. Cá a gente é pico.
INQ1 Pico do pinheiro?…
INF Pois. E a gente ia… Íamos aí, às vezes: "Vamos apanhar um bocado de pico aí, homem"! [pausa] Olhe, eu, às vezes, ainda vou apanhar para a cama do cavalo – do pico de pico. Ali em cima, a um terreno que está ali, uns pinheiros que é da Câmara, vou lá e apanho [pausa] um bocado de pico. [vocalização] Aquilo chama-se pico.
INQ1 E em certas zonas onde há muitos, costuma-se-lhes dar um corte, pôr lá uma coisinha para apanhar o quê? No tronco, no pé.
INF Ah! Isso é mato.
INQ2 Não. Uma coisa que sai do, do tronco do pinheiro?
INQ1 Do pinho.
INQ2 Que é preciso, que se corta…
INQ1 Se o senhor der um, um, um, sei lá, um golpe, uma coisa qualquer, o pinheiro escorre.
INF Ah! Isso é a resina. Isso é: dá-se um traço do pinheiro com uma machada, põe-se ali um, um, um um diabo dum duma tigela, [pausa] em [vocalização] barro, e está ali a escorrer ali para dentro. Depois andam homens – passado daquilo estar cheio –, andam homens a apanhar aquilo para pôr dentro dumas barricas.
INQ1 E diz-se que…
INF E esse ag- A barrica depois vai cheia de resina e vai para a fábrica.
INQ1 Diz-se que aquele, aquele… Estão a fazer o quê ao pinheiro?
INF É tirar a resina.
INQ1 Um sítio onde há muitos pinheiros é um?…
INF Ah! Onde é que há muitos pinheiros é um pinhal!
INQ1 E, sabe, a resina, alguma coisa que se pode fazer com?… O que é que se pode fazer com a resina?
INF Isso agora é que eu não sei. [pausa] O que é o material que se faz daquilo é que eu não sei. Aquilo é levado para a fábrica, e depois da fábrica é que sabem [pausa] como isso é feito. Mas isso Mas isso só quem sabe isso é quem trabalha com essas coisas –
INQ2 Pois.
INF como é o fim da resina feita.
INQ2 Rhum. Parece que os sapateiros usam uma coisa qualquer feita da resina para os sapatos. Sabe?
INF Isso é a cola. Isso é cola, [pausa] que eles usam isso.
INQ1 Olhe, com que é que a gente se aquece no Inverno? Em sua casa?
INF Em, quer dizer No Inverno? [pausa] Às vezes é carvão [pausa] e agora, mais moderno, é um aquecedor.
INQ1 Mas antigamente?
INF Mas agora antigamente, para a gente se aquecer, era lenha. Ia-se às charnecas buscar um molho de lenha e fazia-se uma fogueira da chaminé e estávamos ali à borralha.
INQ1 Já não tem chaminé, o senhor?
INF Tenho. Mas aquilo agora já já não se usa nada disso.
INQ1 Então não usa?
INF Não.
INQ2 Olhe, agora é que a gente usa…
INQ1 Agora até na cidade! Agora toda a gente quer, nas cidades, ter uma lareira. É, é.
INF E isso aí E então para o Alentejo então é que há muito disso. As lareiras eram em chaminés grandes!… Eu ainda [vocalização], do fim do Verão, fui [vocalização] lá àquela terra que se dá aquela festa muito grande que é a [vocalização]… Olhe, foi com esta rapariga desta esta manhã. [vocalização]
INQ2 Onde é que foi isso? No Alentejo?
INF Sim. É [vocalização] onde é que se dá uma, uma, uma uma festa muito grande, que é feita de quatro em quatro anos.
INQ2 Ah! Campo Maior.
INF Campo Maior! E de maneira que ficámos lá uma noite em casa dum dum pai duma, duma duma rapariga que está empregada lá dum patrão do, do do irmão delas.
INQ2 Rhum-rhum!
INF É chofer. E de maneira que ficámos lá em casa do [pausa] do pai dela e da mãe. Jantámos lá. [vocalização] Fomos algumas doze pessoas. De maneira que – nem queira saber – eu cá achei uma graça àquilo! As casas, com uma grande chaminé! [pausa] Mesmo em cima, uma grande chaminé; e em dentro, também. Ali é que fazem então um grande lareiro, com grandes faxinas de lenha de sobro. E ali fazem um grande borralho! Mas eu achei graça àquilo.
INQ2 Pois, pois.
INQ1 Olhe, os homens que andavam a apanhar lenha, eram quê?
INF Isso, os homens que apanhavam a lenha é, é, é [vocalização] chamavam-se os homens que iam buscar lenha. É assim como eu. E eu che- eu fui buscar tanta.
INQ1 Não eram os rachadores?
INF Não. Isso é rachadores de lenha isso é quem anda a rachar lenha mesmo para as máquinas.
INQ2 Mesmo para quê?
INF Para as máquinas. [pausa] Há máquinas que estão a trabalhar, a puxar água para o arroz, e têm uma caldeira.
INQ2 Rhã-rhã!
INF E é preciso estar a pôr lenha. Depois é que houvia esses rachadores que iam rachar lenha com um machado e com umas cunhas, com uma marreta, para abrir as fi- os traços da das faxinas para pôr da caldeira.
INQ2 Sim.
INQ1 Portanto, as faxinas o que é que são?
INF É os traços da madeira.
INQ1 Portanto…
INF Por exemplo, traços assim deste tamanho, [pausa] grossos! E depois é que a-
INQ1 Isso é que é uma faxina?
INF Pois. Isso é uma faxina. Depois é [vocalização] serrado aqui ao meio. E depois, daqui, metia-se uma cunha e batia-se com uma marreta, abria. Fazia a as achas.