INQ1 Olhe, o sítio onde as galinhas vão pôr o ovo?
INF Isso pode-se pôr aí dum caixote
INQ2 E como é que se chama?
INF u- uma mancheia de palha e [vocalização] ali dali é que elas vão pôr.
INQ2 Portanto, dão nome a esse sítio?
INF É só caixote, a esse sítio. Ali ao A gente diz assim: "Eh! Olha, lá está aquele canto do caixote, onde a galinha põe os ovos".
INQ1 Não costuma pôr lá um ovo para elas irem, se habituarem a ir àquele sítio?
INF Não. Ele nunca lá se põe ovos nenhuns. Põe-se é o caixote, que elas quando vêem o caixote vão logo lá.
INQ2 Pois.
INQ1 Mas assim um ovo, a imitar um ovo ou um ovo velho, um ovo goro.
INF Não. Nunca lá se põe ovos porque elas, [pausa] quando é a primeira vez de lá ir o ovo, tem que não lá estar novo não ovo nenhum, que é por causa de elas não se acostumarem a picar e a comer. Que, se elas vêem lá outro ovo, começam a picar e partem os ovos. Comem. Comem até os ovos! É preciso até estar a queimar o o bico, é preciso estar a queimar o bico a elas para elas deixar de comer os ovos.
INQ2 Pois.
INQ1 E queima-se-lhe o bico?
INF Aquilo queima-se com um ferro em brasa.
INQ1 Ai, é?
INQ2 Olhe, e elas quando, quando se criam galinhas assim para ter em casa no quintal, onde é que se criam as galinhas?
INF Dentro duma capoeira.
INQ2 E dentro da capoeira é que está o sítio?…
INF E dentro da capoeira, den- Dentro da capoeira é tudo vedada com arame, à roda; faz-se uma casinhola lá dentro, aonde ela vai pôr os ovos. [pausa] Põe-se lá o caixote, com palha, ou com uma mancheia de serradura, e elas ali é que vão. Pronto! Acochaçam-se ali e põem o ovo, [pausa] dentro daquele caixote. Quando acaba duma de pôr, vai a outra. [pausa] Às vezes, como é muitas, põe-se dois caixotes.
INQ2 E não chamam ninheiro ou linheiro a esse sítio dos ovos?
INF Isso o [vocalização] galinheiro chama-se é à capoeira.
INQ2 Pois.
INF Isso é que se chama chama o galinheiro. Mas é: está tudo preparado.
INQ2 Pois.
INF Porque o nome do galinheiro é preparado mesmo com tijolo. É com tudo! Por isso é que se Por isso é que se emprega o nome dum galinheiro, mas é é preparado como como deve ser.
INQ1 Portanto, galinheiro ou capoeira é a mesma coisa?
INF Agora a gente fazer cá uma capoeira, cá assim volante, é uma capoeira… Com arame faz-se uma casinhola lá dentro para se pôr [pausa] os poleiros, para elas estarem abrigadas por causa da chuva, e [vocalização] põe-se os caixotes para elas porem os ovos, e depois vêm cá para fora para a para o pátio. Porque chama a gente um pátio, que é para elas andarem ali à vontade, a espojarem-se e tudo.
INQ2 Olhe e quando a galinha vai, que se põe sempre em cima do, do ovo para, para nascer o?…
INF A galinha quando se põe em cima do ovo é quando está a chocar.
INQ2 Quando está quê?
INF A chocar.
INQ2 Portanto, quando está a chocar, que está?…
INF Está agarrada, nem se quer tirar lá de cima dos ovos que não é dela. Mas quando ela está mesmo agarrada de todo, agarra-se numa dúzia de ovos, [pausa] e agarra-se um numa caixa – mesmo um caixotezito – com palha, põe-se ela além em cima dos ovos e ela acarra-se além aos ovos. [pausa] Está ali agarrada aos ovos até o tempo de tirar os pintos. Quando se tira os pintos, tira-se de lá ela lá de cima, para dar de comer a ela. Põe-se uma coisa com água, e põe-se o comer do chão e ela come. Depois galga outra vez para cima dos ovos.
INQ2 Pois.
INF Leva três semanas.
INQ2 Portanto, nessa altura diz-se que a galinha está quê?
INF Está do Está do, do do diabo do … Ai!…
INQ1 Se está a chocar…
INF Estavam… Estavam…
INQ2 Se está a chocar, a galinha está quê?
INF Está dentro do choco.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Está Está agarrada do choco [pausa] em cima dos ovos. É o que a gente tem cá falta.
INQ1 E a galinha pode-se comer nessa altura?
INF Nessa altura não, que ela está cheia de febre!
INQ2 Ah!
INQ1 Diz-se que está quê?
INF Não o, des- Desde aquela altura do choco que ela está com febre. [pausa] Até Até ela não deixar os pintos, [pausa] nunca se pode comer. Ela, enquanto tem os pintos, está sempre com febre.
INQ2 Ah!
INF Anda sempre com aquele: có-có, có-có, có-có, có-có, có-có, có!
INQ2 Pois.
INF É a chamar ela os pintos.
INQ1 Olhe, e um ovo que não foi galado?
INF Nunca gema. Nunca tira nada.
INQ2 E o quê, como é que se chama?…
INF Não tem, não tem Não tem a gema do lá dentro.
INQ1 Diz-se o quê?
INF Não, não Não tem a ga- a galação.
INQ2 Pois.
INQ1 Diz que está quê?
INF Às vezes até apodrece.
INQ2 Pois.
INF Ele leva aquele tempo debaixo da galinha, do calor, apodrece.
INQ2 Pois. Portanto…
INF Porque os ovos, quando são tirados, é aqueles que são galados. O que não é galado apodrece debaixo da galinha.
INQ2 Pois. E o que é que dizem: "Olha, naquela, naquela porção de ovos, há um ovo" quê?
INF Há um ovo que apodreceu, porque não foi galado.
INQ2 Não dão nome nenhum a esse no-, a esse?…
INF Não senhora. Não foi galado, apodreceu. Pronto!
INQ2 Não lhe chamam goro ou?…
INF Não, não senhora. Cá não se chama. "Aquele ovo que apodreceu não foi galado". [pausa] "Não foi galado, apodreceu".
INQ2 Olhe, e aquela parte que a galinha tem aqui assim por baixo?…
INF Isso é o papo.
INQ2 E aquelas partes lá de dentro, que, que quando se mata uma galinha também?…
INF Ah! E tem tem os ovários. Tem os ovários. Tem…
INQ2 Sim. Aquela parte para onde vai a comida?…
INF É. E tem o… Isso é o é o bucho. É o bucho da galinha. E é os ovários. E é o [vocalização] moela. Que eu sei que ele há ele é outra coisa que se tira, aquilo… Mas aquilo tudo tira-se da galinha e tudo se come.
INQ2 Pois. Está bem.