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COV15

Covo, excerto 15

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo

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INF Nós aqui, ainda é ainda é um bem: a gente não paga lenha; a gente não paga luz [vocalização] a luz, paga a electricidade, mas quer dizer , não paga água, não paga [vocalização] O que é que a gente gasta? Algum Algum arrozito, nalguma massa, o resto é tudo de casa. Tem a hortaliça, tem fe- tem o feijão, tem O lavrador

INQ1 É nas cidades é o que é pior. É a miséria maior é nas cidades.

INF É nas cidades.

INQ2 Pois é.

INQ1 Porque as pessoas não têm nada.

INF Não tem têm nada.

INQ1 Não têm nada, se não ganham, se não estão empregadas, pronto!

INF Mas, olhe , ó senhora Gabriela, diga-me uma coisa: a que é que você vocês conhecem-me bem e esta senhora conhece-me porque é que vão atrás do dinheiro

INQ1 É.

INF e se você pode ter uma casa cheia de dinheiro mas não tendo comer você morre à fome?!

INQ1 Claro.

INQ2 Exactamente.

INQ1 É isso.

INF É ou não é?

INQ1 É, é claro.

INF E se você n- tiver menos dinheiro ou pouco dinheiro mas tiver muito comer, não morre.

INQ1 Claro.

INQ2 Claro. É evidente.

INF Não morre! Para mim, é este: eu fui um homem sempre desde menino pequeno sempre agarrado à agricultura. Sempre, de menino pequeno! E eu entendo eles fazem mangação da gente. Dizem: "Ai! Anda à terra, anda sujo, anda" Deixá-lo, mas uma pessoa tem que comer!

INQ1 Claro.

INQ2 Pois claro.

INF Não acham?

INQ1 Eu acho que tem toda a razão. Eu acho que tem toda a razão.

INQ2 É sim senhor.

INF Eu acho que é assim, mas gente que não, não pensa nisso. gente que [vocalização] que quer o dinheirito. Conheço

INQ2 Também muita gente nova que agora não quer.

INF Não quer, não senhor.

INQ2 E sabe que mesmo muito agricultores que não querem que os filhos continuem na vida de agricultor.

INF Então e depois , a, a a miséria está .

INQ2 Querem, querem que os filhos vão tirar cursos e não sei quê, acho que isso é um disparate.

INF Mas Mas a miséria está . Olhe , como é que o governo há-de empregar tanta gente?

INQ2 Pois.

INF Diga-me. Aonde? Aonde? Eu digo-lhe aonde! E se protegesse mais agricultura, se agarra mais à terra.

INQ2 É.

INF O meu netito diz ao acaso: "Ó avô! Ah, eu, se não puder estudar, tenho que me agarrar à terra; mas se puder estudar vou estudar e não quero saber da terra". Ora, o que é que um homem O que é que me valeu andar a matar?!

INQ1 Pois.

INF Sim. Veja , o pequenito que

INQ2 Mas ele também pode estudar e voltar outra vez para a terra.

INF Pois pode.

INQ2 Pode estudar qualquer coisa relacionada com a terra. Pode ser

INF Sim senhor. Pode, pode, pode. Pois pode. E, e, e E se eu for vivo para então, é o que eu vou fazer. Não queria que ele desprezasse a terra.

INQ1 Pois.

INF Porque quem tanto trabalhou, quem tanto se matou, quem tanto fez, e agora vê-la deixar assim, olhe, a tojo, a mato, [pausa] custa um bocado.

INQ1 Pois é. É triste.

INQ2 Pois claro.

INF Para mim custa-me.

INQ2 Pois.

INF Mas gente que não pensa nisso.

INQ2 Pois não.

INF Sim, gente que não quer saber disto, mas eu custa-me. Custa-me porque [pausa] fui aga- agarrado a isto.

INQ1 Pois. Eu também.

INF Mas [pausa] é uma coisa que pouco. A agricultura é uma coisa que está muito em baixo. Mas que havemos nós de fazer? Nem todos pode estudar, nem todos pode trabalhar na terra. Mas, meu amigo Eu vejo tenho que ver; saio, às vezes, para o Porto, ou outras vezes para para Coimbra, e às vezes quando vou à caça campos e campos e campos tão bons, tudo, tudo desprezado.

INQ1 Tudo desprezado.

INF Aquela vinha tudo desprezado! Eu logo o que lembra-me assim: ó que esta gente não terá? Que é que eles comem?


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