COV37

Covo, excerto 37

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoAs abelhas e o mel
Informante(s) Arquibaldo Bigail

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INF1 Eu vou-lhe explicar. A gente tira um enxame chama aquilo um enxame; [vocalização] ele estava o cort- o cortiço cheio de abelhas e a gente se elas estão em termos de dar enxame. Bate, bate, bate assim noutro e põe um cortiço quase sem nada. É como está a senhora [vocalização] Gabriela e o cortiço está ali assim; e a gente põe aquilo no chão, o outro, com a boca encostada um ao outro, e começa a bater no que tem as abelhas: tumba, tumba, tumba, tumba, e as abelhas começam a correr para o cortiço sem nada. Quando elas estão para dar mestra! E depois sai a mestra; sai uma.

INQ1 Pois.

INF1 E vai para dentro e a gente tira-a daquele sítio e vai levá-la para longe Sim, porque [vocalização] ele

INQ2 Pois.

INF1 se for todas, elas ga- elas ganham uma corrente para para o mesmo. E a gente mo- muda-as como eu tenho-as aqui em baixo, naquela quinta que temos em baixo , e muda-as para onde não possam Nós tivemo-las mais para baixo, para a quinta que eu disse. Mudo-as para e elas começam a trabalhar e ali estão até E criam-se ali colmeias e fi- e fica ali o coiso.

INQ2 Pois é.

INF1 Portanto, eu não sei dizer se é a macho ou se é a fêmea. Sei dizer que a gente diz que é uma mestra, e põe uma , porque se fosse duas podia ser macho ou fêmea.

INQ2 Pois. Pois.

INF1 Mas se põe uma

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 E que E a gente, quando, às vezes, bate, bate e passam as abelhas e não passar a mestra, não a passar para o outro cortiço,

INQ2 Sim.

INF1 sabe o que eu faço? Com um lenço preto, desses das mulheres usarem na cabeça ou um pano qualquer preto, ponho-o no chão, da, da da que eu bati [vocalização] à colmeia para , sim, da- daquelas que foram as abelhas,

INQ2 Sim.

INF1 volto-a com a boca para baixo, e se ela tiver mestra, põe assim umas coisinhas, uns ovinhos, compridinhos, umas coisinhas, e a gente toca-lhe e aquilo saem tudo em água. Que ela Eu chamo aquilo varejar, [pausa] sabe? Chamo àquilo varejar. Se ela tiver tiver mestra, larga aqueles ovitos; se ele não tiver mestra, não larga nada.

INQ2 E chama-se àquilo varejar?

INF1 Varejar.

INQ1 Varejar é pôr esses ovinhos?

INF1 É. Se puser aqueles ovinhos, é varejar; se não puser aqueles ovinhos, não vareja. Não vareja, não tem mestra.

INQ1 Pois.

INF1 Se tiver mestra, vareja; se não tiver mestra, não vareja.

INQ2 Rhã-rhã.

INF1 E a gente, se tiver mestra, pronto!, pode tirá-lo embora, que é um enxame; se não tiver mestra, que não tenha mestra , não aquilo mal anda. pode levá- deixá-las estar que que no pa- no prazo daí de um quarto de hora elas passam todas outra vez para a mãe.

INQ1 Outra vez para o mesmo.

INF1 Para a mãe!

INQ1 Para a mãe.

INF1 Chama-se a mãe

INQ2 É o Aquela é a mãe, a primeira?

INF1 É aque a primeira. E se for enxame é o o que se tira.

INQ1 Pois.

INF1 Se não, elas fogem logo, logo, imediatamente.

INQ2 Olhe, e às vezes não aparece um enxame pequeno?

INF1 Aparece um [vocalização] um enxame fora, na terra ou ou numa árvore ou em qualquer sítio, tenho agarrado muitos desses. É, ele aparece. E a gente vai em torno das abelhas, mas está uma mestra.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Porque se não tiver a estiver a mestra, ele não fogem foge.

INQ1 Pois.

INF1 A mestra é a que, se for preciso, foge Porque tendo estando mais que uma mestra num cortiço, ele não se dão.

INQ2 Pois.

INF1 Uma tem que sair com as abelhas. Se o dono vai e bate-as [pausa] e tira-lhe a mestra, pronto, ela não foge. Se um homem não Se o me- o dono o dono ou uma pessoa qualquer não tirá-las, elas [pausa] saem com licença , fogem com qualquer [vocalização] punhado de abelhas. Fogem e saem estes pequeninos que a senhora está a acabar de dizer.

INQ2 E como é que lhe chama a esses pequeninos?

INF1 É o enxame. [pausa] Enxame.

INQ2 Também lhes chamam enxame, a esses pequeninos?

INF1 Enxame, mas é pequenino.

INQ1 Pois.

INF1 E os outros são enxames bons. A gente o que chama ele um enxame [pausa] grande é assim com um cortiço quase cheio de abelhas.

INF2 Ele é.

INF1 E as abelhas duram, ou dizem que duram Não duram mais que dois a três meses.

INQ1 Ai é?

INF1 Porque a abelha, durante aquele tempo, ela cria-se. E depois, essa doença que veio é disso: porque veio e as velhas morrem, e a e depois elas fazem uma têm criança. Criança é: é ele o que faz- Chamam criança é: nos próprios na própria cera, aquilo fica fechado e ele ali naqueles buraquinhos cria como uns bichinhos; e aqueles bichitos é as abelhas.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 E aquilo cria; de três em três meses, aquelas abelhinhas saem novas e as velhas morrem; mas ficam as novas, nunca morrem.

INQ2 Pois.

INF1 E aquele vi- aquela doença que veio vai matar aquelas novinhas que estão a vir.

INQ1 Ah!

INF1 Que estão dentro da própria

INQ2 Pois, pois.

INF1 da própria casula. Quer dizer, a casula é: dentro daqueles buraquinhos,

INQ1 Pois.

INF1 e depois aquele, aquela aquele mal, aquela doença matou-os, e aquelas morreram e morreram as velhas.

INQ1 Pronto. Claro, pois.

INF1 Sabe?

INQ1 E elas picam, as abelhas, não é?

INF1 Ah, pois picam!

INQ1 E aquilo que elas largam quando picam?

INF1 É o, é o, [vocalização] é o Olhe, uns chamam-lhe o ferrão; outros chamam-lhe o bico. [pausa] Olhe que a mim, a mim, Oi! Têm-me mordido, logo de uma vez, para mais de dez ou vinte, e a minha as minhas mãos ou o meu corpo não incha.

INQ2 Não?

INF1 Não.

INQ2 Não lhe faz reacção?

INF1 Não senhor! E outros que ficam logo [vocalização] Eu não, não ligo nada àquilo.

INQ2 Pois é.

INF Não ligo nada àquilo. Elas Parece que elas até me conhecem. Olhe que eu vou para A gente tem um peneiro chama àquilo um peneiro: é uma rede,

INQ1 Sim.

INF1 mas que não passa e, com uma saca, mete aquilo na cabeça, põe um chapéu por cima e a gente vê-as e [vocalização] está a ver. E eu às vezes vou , nem nem levo nada disso e elas não me mordem; e se mordem, ele às vezes, mordem-me na cara [vocalização] Não ligo nada àquilo!

INQ2 Não dói nada!

INF Nada!


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