INF Fui outra vez para sapateiro. Já era um homenzinho – que era coiso, já já tinha treze anos ou coiso – e fui outra vez para sapateiro. Que eu já sabia aquilo aos olhos fechados!
INQ Pois.
INF Comecei outra vez em sapateiro, então nunca mais parou. Fui trabalhar para o Bairro da Encarnação. Estive lá dois anos, não gostava de estar naqueles ambientes ali, venho outra vez para para o patrão, aqui para Pêro Negro; depois de Pêro Negro, ele pôs aqui uma casa para oficina de sapateiro, éramos cinco a trabalhar, eu é que já tomava já conta da oficina.
INQ Pois.
INF Depois eu pus-me… Eu cas-… Eu abalei com a minha mulher tinha eu dezanove anos, ela outros dezanove. Fugi com ela. Lá me alinhavei. Comecei a pôr uma vida nova, comecei a trabalhar por minha conta.
INQ Pois.
INF Sapateiro. [pausa] Comecei a trabalhar por minha conta por sapateiro, mas aquilo era uma uma miséria! Cheguei então a ter cinco empregados.
INQ Ah!
INF Fornecia aqui estas áreas todas de calçado. Iam lá lojas e tudo. E então, depois… Mas era uma miséria! Era uma miséria! A gente para arranjar dinheiro para os empregados,
INQ Pois. Pois. Pois.
INF e para ficar com algum, Jesus, sabe lá!
INQ Pois era, era uma vida dura…
INF Aquilo era uma miséria! Fazia-se um par de botas por por cento e vinte escudos, davam vinte escudos [pausa] de entrada.
INQ E o resto…
INF O resto era a dar dez escudos por semana; muitas das vezes, a minha mulher chegava às, às aos postigos a bater, viam que era ela,
INQ Não lhe abriam…
INF calavam-se e não abriam a porta. Pronto!