INQ1 E agora como é que eu vou saber o que é a magoriça? É que eu pensava que a magoriça… Lá para a, para os meus lados, a magoriça é o, aquilo que chamam cá o mato ribeirinho, o mato da ribeira…
INF1 Não, nós ao…
INQ1 É aquele de flor branca?
INF1 O ribeirinho é a flor branca e aquele não. Tem a f-…
INQ1 É a flor cor-de-rosa?
INF1 É a flor verme- assim avermelhada.
INQ1 Avermelhada.
INF1 Avermelhada.
INQ1 Mas qual é a diferença da torga?
INF1 E tem assim, tem assim um pa– Tem assim pauzinhos; a torga é a que chamam o mato torgueiro.
INQ1 E é diferente da magoriça?
INF1 Pois, esse, a mag-, é esse diferente.
INQ1 E como é que eu vou saber se é magoriça?
INF1 Mas [pausa] esse é daq-, da, da donde tiram as torgas. às vezes, as, a
INQ1 Pois, pois, pois.
INF1 Torga. A torga que, que é o que é…
INQ1 Serve para fazer carvão?
INF1 Que era para fazer carvão. Em primeiro, quando não havia assim tanto gás, vendia-se muito, [vocalização] andavam muito, faziam muito carvão, que era para mor de [vocalização]… [vocalização] Ele até vinham de longe aí os carvoeiros, [vocalização] com com burros, machos, [vocalização] a levar o carvão, que era para para se aquecerem em sítios – não é? – que não havia… Em primeiro não havia gás, não havia tanto tantas coisas para para se aquecerem… Aquilo é para se aquecerem.
INF2 O lume com o carvão?
INQ1 Mas aqui não havia ninguém que fizesse carvão?
INF1 Faziam-no.
INQ1 Também cá? Pessoas de cá?
INF1 Cá também. Cá também. [vocalização] 'Acaria-se' muito mato de torga. Cá.
INQ1 Para fazer carvão mesmo?
INF1 Mesmo para fazer carvão.
INQ1 Mas a senhora nunca fez?
INF1 Eu, não senhora. Eu não o fazia.
INQ1 Nem o seu marido? Nunca viu? Não, o marido também não fazia…
INF1 Não. Nem o meu marido também não. Também… Nós tínhamos lenha de pinheiros assim le-…
INQ1 Pois.
INF1 A gente tem lenha de pinheiro. Mas para sítios para terras que não tinham que não tinham lenha, levavam ou acartavam o carvão para se aquecerem com ele.
INQ1 Pois.
INQ2 Mas sabia, sabe como é que se fazia o carvão?
INF1 O carvão faziam-no [vocalização]… Sim, eu não o fazia, mas via-o em sítios onde o faziam. Arrancavam as torgas e faziam ali assim uma poça grande na terra – uma poça muito grande –, e depois queimavam ali as torgas, e depois ao fim de se elas apagarem…
INF2 Botavam-lhe água para as ap- apagar.
INF1 [vocalização] Botavam-nas assim espalhadas e depois [vocalização] acartavam-nas, às sacas, nos nos burros e machos e cavalos.
INQ1 E tapavam com terra?
INF1 Tapavam-no sim. Quan- Quando acabavam, tapavam que era para mor de se apagarem e para não para o carvão não ficar assim derretido, para não ficar assim desfeito.
INQ1 Pois, para não fazer cinza.
INF1 E ele havia… A gente via aí por esses matos fora, mesmo em sítios que havia muita torga, via-se muito aquelas aquelas poças.
INQ1 Rhum-rhum.
INF2 A fumegar, [pausa] aquelas poças.
INF1 Aquelas poças. Aqui essas naquelas serras ali de – vossemecês não sabem –, [vocalização] ali de Bogas, em primeiro, nós tínhamos lá fazendas ali de à beira do rio, e víamos lá passar os carvoeiros, por mor de ir buscar o carvão, assim para o lume. Andavam uns homens a fazê-lo e vendiam-no àqueles que cá vinham buscar o carvão com os machos.
INQ1 E os car-, o carvoeiro andava com quê? Com machos e mulas e?…
INF1 Era com machos e mulas a acartar.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 E cantavam muito quando lá vinham a cavalo, lá pelas aquelas serras abaixo. Cantavam muito! Ainda não havia assim [vocalização] as estradas assim boas, para para irem; ainda não havia lá os carros; não passavam lá os carros naquela estradas; era só com machos e e com com, com…
INQ1 Mas com quê? Com machos e cangalhas ou?…
INF1 [vocalização] Pois, [vocalização] para acartar as fa-…
INQ1 Ou era com carroças?
INF1 Não, era com…
INQ1 Era mesmo?…
INF1 Era Era mesmo com, com assim com com cangalhas na, na a carregar assim as sacas, [vocalização] de cima dos machos.
INQ1 Pois.
INF1 E eles aquando vinham sem nada, que vinham andando, [pausa] fartavam-se lá de cantar.
INF2
INF1 A gente dizíamos: "Olha, já lá vêm os carvoeiros"!
INQ1 Que engraçado!
INF1 Ele ouvíamos assim a cantar… Até eu cantava muito! Havia aqui uma uma festa, aqui para cima, que cha-, que chamavam que era a Senhora da Póvoa; e lá a santinha era a Senhora da Póvoa e eles cantavam muito! Deixavam assim um rabo para trás, cantavam muito a Nossa Senhora da Póvoa aqui!
INQ1 Como é que é? Ainda se lembra como é que era a mú-, a letra?
INF1 Eu, eu não. Eu não. Eu ouvia-os a cantar, mas eu não o sabia.
INQ1 Ah!
INF1 Não. Não, não cantava.