INQ Que objectos é que fazia com o barro?
INF Então, fazia cântaros, fazia vasos, tachos, panelas, todas essas coisas. Isto assim deste tipo, vasos para as flores, aquilo que está aí, barris, cântaros, [pausa] diversas coisas, não é? Nesse Nesse tempo, [vocalização] era muito diferente do que é hoje. E E até exactamente por a coisa se ter modificado é que nós abandonámos a arte.
INQ Rhum-rhum.
INF É [vocalização] É que nós trabalhámos aqui em conjunto e quando trab- começámos aqui, tínhamos, mais ou menos, um nível de vida escapatório: tirávamos um ordenadozinho [vocalização] muito muito razoável! Tirámos um ordenadozito como tirava qualquer outro operário: um pedreiro, um carpinteiro. A gente safávamos-se aqui bem. [vocalização] Depois [vocalização] a coisa começou assim a evoluir, apareceu os alumínios – foi quando apareceram os alumínios. Quando nós aqui trabalhámos, praticamente nem havia alumínios, não havia… Só que Quem tinha [vocalização] uma peça de alumínio era, às vezes, só para compor, nem se servia dela. Depois apareceram os alumínios assim em grandes quantidades e [vocalização] a preços bons também, preços acessíveis, quer dizer que começou a, a castigar começou a castigar a arte do do oleiro. A gente chegámos aqui a pontos [vocalização]… Porque aqui isto era é uma zona [vocalização] que se trabalha muito no campo, uma zona agrícola, muito – ele aqui há pouca fábrica – é muito uma zona agrícola. E [vocalização] E então panelas assim daquele género, aquilo gastava-se para ali milhares de panelas. Que as pessoas coziam no campo – e mesmo cá em casa! [vocalização] Nesse tempo até se usava pouco fogão. E E então, mesmo até no fogão, trabalhavam. Alguns poucos que havia trabalhavam com a louça de barro. Depois apareceu o alumínio; o alumínio [vocalização] primeiro começou a aparecer com boa qualidade; depois era já mesmo com má qualidade, mas muito barato, reduziu reduziu a louça. A gente chegávamos a pontos de [vocalização] só fabricarmos já era vasos para flores e e cântaros para a água, porque o alumínio não não prestava para a água. E depois começámos a não ter escoamento do produto. Tínhamos de ir levá-lo daqui para longe: a gente chegámos a ir levar… [vocalização] Carregámos muito ali para Montargil, ali para aquelas zonas, ali mais para o Alentejo, porque aqui não não se escoava o produto. Então começámos a ter dificuldade [vocalização] n- no ordenado. É claro, como era só a fabricar aqueles dois tipos de produto e [vocalização] com pouco escoamento dele – às vezes tínhamos aí quantidades de louça armazenada, porque não tinha escoamento. E E começámos a pensar que que a vida assim que estava mal. A gente já já ganhávamos menos do que do que um qualquer indivíduo que trabalhava aí no campo. [pausa] E depois o meu pai foi um homem que toda a vida fez searas no campo – toda a vida trabalhou no campo e toda a vida fez searas – e [vocalização] nós até tínhamos cegueira com aquilo, pois fomos criados naquilo. Começámos a pensar em, em ir em ir para o campo, em ir para as searas. Quer dizer que depois ainda, ainda os primeiros anos ainda fizemos searas de tomate, searas de arroz e trabalhámos aqui nos períodos que a gente via que tinha assim mais rentabilidade. Por Por períodos assim como na Primavera, que dava mais rentabilidade e que o produto também se vendia melhor, porque era nas entradas dos serviços, vendia-se muito cântaro, muita coisa.
INQ Rhum-rhum.
INF Ainda fizemos assim dois anos. Mas depois começámos a ver que tínhamos muito mais lucros [pausa] a tratar de tomate e arroz que tínhamos na, na na oficina de olaria e pensámos em em abandonar a oficina. E abandonámos. Hoje [pausa] já [vocalização] há cerca de vinte cinco, vinte seis anos – não tenho bem, bem isso coiso, mas deve ser isso, tudo, aí uns vinte e seis anos, com certeza.