INF1 Então ele e do linho era: lavravam a terra [pausa] com uma charrua. Depois semeavam o linho… Não, minto. E depois davam-lhe uma corrida com grade. À primeira corrida [vocalização], davam a corrida toda depois de semearem o linho; depois davam outra vez outra corrida para cobrir o linho. O linho nascia. Quanto mais vezes tinha fosse semeado, melhor era. Nascia… Se estivessem a ver-se os erva [pausa] daninha que fosse mu-, que fosse
INF2 É erva daninha, é erva ruim.
INF1 que fosse má, tinham tinha de o mondar. E se vie- viesse limpo, deixavam-no ficar. Quando ele estivesse vingado, já assim a ficar amarelo, arrancava-se todo, tudo arrancadinho, levava-se para a eira [pausa] aos molhos [pausa] e e depois havia um homem na Arzila que tinha um um [vocalização] …
INF2 Era uma família que tinha… Aquilo era um maçadoiro.
INF1 Tinha tinha um um aparelho que eu não sei como aquilo se chamava, que tinha – parecia umas entrosas entradas que passava o linho, porque…
INQ Sim.
INF1 E E o próprio coiso é que puxava o linho.
INF2 Maçava, também maçava.
INF1 Maçava, maçava, maçava-se até que ficasse sem a [pausa] com a pele da, do, do do pé do linho todo separado.
INQ Rhum-rhum.
INF1 Depois Depois aí eram as mulheres que tinham um corr- um cortiço que de de cortiça.
INF2 De cortiça.
INF1 Grande e redondo. Qua- Quase do taman- Do tamanho desta mesa, mesmo alto, não estavam sentadas e tinham uma, uma uma coisa de pau, parecia uma c-, uma uma catana, ou como é que se chamam aquilo, e maçavam, maçavam, maçavam, maçavam, até que saísse saía-se aquela pragana de dentro da da pele do linho.
INQ Rhum.
INF1 Depois havia umas mulheres – que aí havia aí também – com um bocadinho que estava assim, cheio de pregos pequeninos, e naquele era escarnaçado, ia naquilo assim. E cortavam, e ele puxavam, até que saísse o resto da até que saísse o resto da, da daquela pragana. [pausa] Depois [pausa] botava-se… Ele preparavam-no, enfiavam-no com uma roca – não sei se os senhores…
INF2
INF1 Uma Uma roca.
INF2 Não punham aí por um riba, ou coisa assim?
INF1 Não. Isso era as meadas.
INF2 Ah, era as meadas.
INF1 Fiavam aquilo tudo, depois davam-lhe uma barrela, depois de aquilo estar já feito em meadas. Sabem o que é uma barrela?
INQ Diga lá como é que se fazia a barrela?
INF1 A barrela era: [vocalização] lavava-se aquilo tudo muito bem lavadinho, com com água e sabão, pronto. E botavam… Havia aí gente que tinha uns poceiros – que se chamam o pessoal da barreleira –, botavam a lavar no no poceiro, acamadinho. Quanto mais acamado, melhor. Depois no fim disso botavam-lhe [pausa] alecrim e folha da de laranjeira por cima da da roupa. Botavam num paninho, um pano que se fosse assim meio vedado e depois botavam borralha. Cinza.
INF2 Era a cinza das das cavacas.
INF1 Pois, das cavacas.
INF2 Pois.
INF1 Com uma peneira. E peneiravam aquilo tudo em acção de ficar só o pó. Punham-lhe um bocadinho de de carvão só para… A ge-, a gen- Agora a gente diz que é uma carvão, mas naquela altura dizíamos que era uma brasa. [pausa] Estava aquilo tudo e depois tinha uma um panelão grande ao lume, em cima das trempes, [pausa] a ferver. Iam tirar baldes de água desse panelão a ferver e passavam por cima da roupa toda, [vocalização] das meadas.
INF2 Do linho, das meadas.
INF1 Quer fosse meada, quer fosse roupa, era na mesma. Por cima daquilo tudo, para molhar aquela aquela [vocalização] cinza. Toda molhadinha. Quando ela começasse a correr pelas meadas abaixo, saía fria. Fria, no fundo do poceiro. Quando ela saísse já quente, em acção [pausa] que viesse quase da, da da temperatura da panela estava a [pausa] a barrela feita.
INF2 Estava a barrela feita.
INF1 Estavam preparadas. Depois iam então para o rio. [pausa] Lavavam, lavavam, lavavam, botávamos-lhe botávamos-lhe sabão e botavam-nas a corar. A corar na areia. Quando elas Quando as mulheres já viam que aquilo estava em condições, apanhavam e lavavam-na e depois botavam-na a enxugar. Que aquelas meadas, se se enxugarem na areia, depois de estar enxuta, ficava a parecer linha, grossa. Mandavam para, para a para as tecedeiras para fazer mantas. Cobertas. A gente diz agora… Mas naquela altura dizíamos mantas.
INF2
INF1 Para fazer lençóis de linho. [pausa] E E antigamente, nessa altura, também então até
INF2 Até ceroulas. Ainda tive ceroulas!
INF1 até haviam homens que andavam no no campo, e aquilo era forte, faziam até ceroulas até ao joelho. E assim andavam no campo. E não me lembro de mais nada.
INQ Sim senhor.