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ALV36

Alvor, excerto 36

LocationAlvor (Portimão, Faro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Ápio
SurveyALEPG
Survey year1977
Interviewer(s)José Sobral
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INF no Algarve é assim. Uma pessoa, a gente é pobre aqui. Juntar para umas casinhas, ah! Corri o arrasto, nada ganhei. E daqui ele daquilo também dava andar do arrasto. Bom, andei a contramestre. [pausa] Ganhava mais que uma parte [pausa] e sempre favorecia, além de ajuntar mais que um camarada. Sempre vinha uns patacos. Os outros ganhavam uma parte, eu ganhava duas. Quer dizer, comia igual a eles e aquela parte era para forrar. Se desse para eles, também davam para mim. Por exemplo, ganhava num ano dez ou doze contos, ou quinze contos, ou dez ou doze não era nada ou quinze contos, que ganhava-se pouco, agora é que ganham mais. Quer dizer, com os dez ou doze contos comia igual a eles [pausa] e podia forrar cinco ou seis num ano; para o outro ano forrava sete ou oito, e para o outro ano E assim forrado, dava mais que uma parte, que uma parte . E também andei em enviados, também dava mais uma parte e fui ajuntando os períodos. quem tenha uma ideia e quem tenha outra. Ele é assim. A gente tem uma ideia que há-de chegar, e tem umas casas para morar; e outros não têm, a gente não pode vir lho dar. Agora quem não tem nunca ele lhe pode comprar.

INQ Pois é.

INF Sim, quem não tem nunca pode comprar. E as ideias não são iguais. quem diga assim: " [vocalização] Ah, isto é comer e beber enquanto são novos. E a gente cada qual tem a sua ideia". E eu digo então: "Comer e beber é depois de ir mais para a idade". Sendo novos, forramos e depois quando se chegar à idade mais avançada, não se pode trabalhar, temos então é que comer e beber Na idade é que é; uma pessoa quando se é novos, poder, que pode-se. Se se puder; e se não se puder, paciência. Mas da idade é que precisa a gente de ter mais conta. E o contrá-. alguns que dizem: " [vocalização] Ah sendo isso de novos, é gastar e beber" E mais tarde em sendo velhos?! Quando eles queixam-se quando a gente estamos a dar alguma coisa aos nossos filhos. É porque o diário do marítimo não é certo se for um diário. [pausa] Se fosse corrido, pois eu não me importava. Este ano ga- Este mês ganho dez, sei que para o outro mês ganho cinco. Depois Pois eu não me importo, vou vivendo assim. Tenho o meu ofício. Mas não. Eu posso hoje ganhar seis, sete ou oito e para o mês que vem posso não ganhar senão dois ou três. [pausa] E assim como posso ganhar dez ou doze ou quinze ou vinte. Vou numa traineira e poupo o mais que eu puder. Portanto temos que deixar de moralizar umas pelas outras. Desde hoje temos que levar a vida [pausa] quando ela trama. "Olha eu agora vou-me alargando mais, pois tenho a vida mais larga"! A gente vai-se alargando conforme vai-se podendo. Tem Tenho sido períodos ruins, anos ruins, e anos bons de pesca. E tem tenho sido também anos de muitas fases pouco. Faltas é claro. Porque quem trabalha nunca sente muita falta, mas anos mais melhores que outros. anos que a pesca falha. E aqueles que tem que nunca nada colhe pois estão mais mal [pausa] Porque a gente não é não é uma coisa certa. A gente está acostumado, a gente diz assim: "Bom, este mês ganhei dez ou doze contos; vou-mos gastar". Mas vem outro mês que vem, não vem nada. A gente tem que deixar de pôr por umas coisas por as outras. Por isso deixa-se umas reservazinhas, vai-se deixando às vezes conforme se pode. Ah, não havendo doenças A minha mulher é que tem sido Eu tenho sido saudável. A minha mulher é que tem sido doente.


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