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CBV59

Cabeço de Vide, excerto 59

LocationCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
SubjectA criação de gado
Informant(s) André
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF [vocalização] Eu, uma vez, discuti com um Discuti não. eu é que é que disse coisas a um [vocalização] a um veterinário. . [pausa] Que eu estava a tratar de uma data de bezerros que tínhamos comprado bezerros leiteiros [pausa] e um adoeceu. E eu fui a correr chamar o veterinário. [pausa] Fui a Alter. Cheguei a Cabeço de Vide, encontrei aqui um homem. [pausa] Eu digo assim: "Então onde é que você vai"? "Vou a Alter". Digo eu assim: "Eh ! Eu fui a Alter e disse à irmã do do veterinário: "Veja se o veterinário e diga-lhe a ele que sem falta que ao monte da de Mateus, que está um bezerro doente". O homem foi . O homem foi e disse-lhe. [pausa] Ninguém coiso. No outro dia tornei a ir. Também não estava. Tornei a recomendar. [pausa] Bem, aquilo demorou quatro dias. No fim de quatro dias, o bezerro morreu. Você sabe que eu que chorei?

INQ1 Rhum-rhum! Foi?

INQ2 Rhum-rhum!

INF Eu estava no monte, estava sozinho. [pausa] Ia assim com a colher cheia de sopas, [pausa] para meter para a boca, [pausa] o bezerro [vocalização] berrou. Eu pus a colher dentro da coisa e [vocalização] e corri . Foi quando morreu.

INQ2 Hum É, os animais criam amizade, também

INQ1 Pois. E a gente tem amizade a eles.

INF Depois [pausa] Isto foi num sábado à noite. Eu estava sozinho no monte. No outro dia de manhã, montei-me na mota, [pausa]eu marchei caminho de Vaiamonte e fui chamar os homens porque no domingo não iam trabalhar para irem para desfolarem o bezerro e abrirem a cova para se enterrar. [vocalização] Os homens foram logo . Chegaram , [pausa] desfolaram o bezerro, abriram-no: "Então onde é que quer que" "Abram aqui [vocalização], aqui arrumado ao ribeiro. [pausa] Isto aqui tem muito chão, fazem aqui uma cova depressa para para enterrar aqui o bicho". Acaba-se de enterrar o bicho, os homens foram-se embora [pausa]

INQ1 Aparece o

INF e vejo vir um gajo direito à arribana, aonde estavam os os vitelos. Mas eu não conhecia bem o gajo. [pausa] Digo: "Eh ! É capaz de ser o veterinário". [pausa] Quando o gajo ia chegando perto da porta e eu faço aqui assim: "Ó amigo, o que é que você vai para fazer"? [vocalização] Mas eu estava a falar assim que estava desconfiado que era ele.

INQ1 Pois.

INF E diz ele aqui assim ele matou-se mesmo pelas mãos dele , e ele diz-me assim para mim: "Ó homem, tanto recado por causa de vir , por causa de ver o bezerro! [vocalização] Venho ver o bezerro". "Então, você é que é o veterinário"? [pausa] Foi assim mesmo que eu tratei o homem. [pausa] "Sou eu o veterinário, sou". [pausa] "Então, o [vocalização] você fazia muito empenho em ver o bezerro"? "Pois então tanto recado"! "Mas mesmo assim, muitos, não lhe chegaram. [pausa] Tantos que eu para mandei e nesse caso você recebeu os recados todos. Mas mesmo assim não chegaram. Agora se você faz muito empenho em ver o bezerro, eu vou a Vaiamonte chamar os homens para abrirem-lhe o bezerro, que é para você o ver, que está além enterrado, além ao do ribeiro. [pausa] O bezerro morreu por sua falta"!

INQ2 Rhum-rhum.

INF "Então você sabe o que tinha o bezerro"? "Pois sei. [pausa] O que eu não o sabia era tratar. [pausa] O bezerro morreu com uma pneumonia".

INQ1 Ah!

INF O animal gemia como a uma pessoa.

INQ2 Pois.

INQ1 Pois. Coitadinho.

INQ2 Devia querer respirar e não, não podia.

INF Olhe, [pausa] eu piquei aquela trapalhada tanto, o homem nunca mais arrumou.

INQ1 Pois.

INF Foi outro veterinário para [vocalização], mas ele

INQ2 Ele não.

INF E se ele devia favores ao patrão!


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