INQ1 Como é que se chama o homem então que anda atrás do arado?

INF O lavrador.

INQ1 As mulheres nunca lavravam aqui?

INF Talvez em tempos lavravam. [pausa] Mas em meu tempo não. Eu via [vocalização] a [vocalização] minha avó que era era, era… [pausa] Eu agora não sei qual era. Não sei se era a avó daqui do Flamínio, se era a avó do, do, do do Flamino. Essa tia, quando queriam semear junça… Também cultivavam junça, mas em meu tempo pouca. Já cultivaram pouca junça, em meu tempo, aqui. Mas antigamente trabalhavam cultivavam muita junça. E [vocalização] E gostavam agora de ver o o reguinho da junça direito. [pausa] Porque eu era lavrador porco; o meu rego, ele tinha tinha cambas. Mas diz que essa mulher que lavrava direitinho, que parecia que o rego dela que era que era feito com uma fita. O que tinha opinião, que queria ver o rego sempre direitinho, tinha que a ir buscar para ajudar a semear a junça. [pausa] Mas eu nunca vi mulheres lavrar aqui.

INQ1 Rhum-rhum.

INQ2 Essas co-, esses desvios que faz, como é que chama?

INF Olhe, chamo-lhe cambas. Risos

INQ1 Portanto, ainda se lembra como é que, como é que se cultivava a junça, a junça?

INF Homem, não sei. Mas a junça queria a terra, ele a terra a terra direita, toda à monda. Que a terra era bem lavrada, ele ele toda à monda, tudo escolhido. Depois é que semeavam aquilo. Estava um lavrando e estava outro a a deitar a junça atrás do, do do arado [pausa] para ela [pausa] ficar enterrada na terra. Era como o milho. A diferença que tinha é que queria mais mais semente do que o milho. O milho quer pouca.

INQ1 Pois.

INF E a junça queria muita. Mas dava muito trabalho.

INQ1 Mas a semente, a, aquilo da junça era parecido com a coisa do juncilho?

INF É.

INQ1 É?

INF É.

INQ1 E aquilo, portanto, tinha o seu tempo de crescer, era?

INF Tinha. Tinha. Ele amadurecia agora em Outubro. Agora aquilo dava um trabalho de levado da breca, acarearem milho dacolá de cima e a ap-, e [vocalização] e [vocalização] apanharem junça. Era preciso ser batida numa pedra. Depois diz que botavam aquilo num cesto, limpando como quem limpa trigo. Estava uma mulher por baixo a a rodar aquela pedra e a terra que vinha junta com ela e então e aquilo a cair por cima dela, ela depois vinha para casa.

INQ1 Vinha suja?

INF Oh, vinha suja?!

INQ1 Mas ela não era… A junça não era seca, nem era nada? Portanto, aquilo apanhava-se, sacudia-se?…

INF Rhã-rhã.

INQ1 E como é que eles cor-… Cortavam aquela parte de cima?

INF Não. Batiam-na nu- numa pedra. Tinham uma pedra agora [pausa] assim mais ou menos, por exemplo, esta esta largura,

INQ1 Rhum.

INF uma pedra agora ao alto na terra, e estava agora um homem com a com a junça. Ela ti- deitava rama desta altura, mais ou menos. Estava com aquilo a a bater na pedra, o grão ia caindo para baixo e [vocalização] e estavam então rodando para trás para para dar lugar. E levavam agora o dia agora a [vocalização] a baterem naquilo para aquele dia ir… A rama iam botando lá para um monte e e a junça ia para outro.

INQ1 Rhum-rhum. E depois ela ia directamente ali para dentro da, daquelas coisas de terra, era?

INF Limpavam-na como é que é limpo o trigo.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E metiam-na então nessas nessas covas [vocalização] até por aí adiante. Porque no Inverno… Para o outro ano, naquele tempo é que a tinham lá.

INQ1 Depois não sabe como é que se fazia para fazer o, o?… Aquilo fazia pão!

INF Alguns faziam, com fome! Mas o mais era para para alimentação dos porcos.

INQ1 Era mais só para a alimentação dos porcos?

INF É.

INQ1 Dava-se-lhe assim? Aquilo ficava lá assim um ano a?… Dentro das covas…

INF Pois, ele era conforme conforme a falta que tinham.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Os que Os que tinham muita, ela estava lá até ao Verão; outros que tinham mais pouca, acabavam-na mais cedo. Era como como a falta que tinham dela.