INF E de maneira que agora então… A [vocalização] agricultura antigamente, semeava-se muito grão, muito feijão, muito trigo… Conseguia a estar aqui duas debulhadeiras neste sítio um mês inteiro a debulhar quarenta e tal moios – sabe o que é o moio?
INQ Que… A porção que é não sei.
INF São dez sacos de sessenta e seis quilos, [pausa] cada, são cada moio.
INQ Pois. Cada moio.
INF Ele uma máquina fazia uma média de cinquenta, quarenta e cinco, cinquenta, cinquenta e dois moios por dia. E conseguia a estar aqui duas máquinas a trabalhar de, um um mês inteiro.
INQ Rhum-rhum.
INF O mezinho inteiro era duas máquinas! Olha, que fazia muito moio de trigo, hem?
INQ Pois. Pois.
INF Hoje não há aqui uma máquina.
INQ Pois.
INF Hoje não vem aqui uma máquina. Hoje não se amanha nada. Não se amanha nada. E eu o ano pa- há dois anos semeei uma terra de trigo, ele foi um castigo para arranjar uma debulhadeira para lá ir – que é meia ceifeira e debulhadeira –, foi um castigo, porque não queriam cá vir por causa de tão poucachinho, [pausa] tive que desistir.
INQ Pois. Oh! É uma pena!
INF Pronto! Tinha duas terras a jeito para trigo este ano e não as semeei.
INQ Pois.
INF Pronto! Porque a gente não pode… Não tenho já quem me venha cá fazer o trabalho.
INQ Pois.
INF Porque se fosse muitos, a debulhadeira vinha cá ma- – debulhadeiras que andam aí ao ganhanço – não é? –, que até são de longe. E eles vão a áreas que haja muito trigo, que lhe dê resultado. Agora, por exemplos, vir aqui a uma terra, pois vem a máquina por um por uns caminhos velhos acima – que aquilo é uma coisa larga – para ir para outra terra fazer umas terras pequeni- pequeninas, nem lhe dá o rendimento que eles querem. Pronto! E eles não vêm.
INQ Pois é. Pois é.
INF De maneira que agora não se semeia nada dessas coisas. Então antigamente semeava-se eram muitas vinhas, era muito trigo, era muito grão, era muito feijão. Tirava-se aqui moios e moios de feijão, era moios e moios de milho. Havia eiras antigas, que fazia-se a eira com um rebanho de ovelhas no no chão, e [vocalização] com umas poucas de barricas de água molhava-se aquilo, punha-se palha de trigo, as ovelhas vinham de madrugada de fazer a eira, tocadas com três ou quatro pessoas,
INQ Rhum-rhum.
INF andavam ali de roda, de roda, até calcar aquilo. Depois punha-se uma mancheia de palha de trigo a enxugar; depois de ela estar enxuta, é tirada a palha, era varrida, ali ficava uma eira para debulhar feijão, milho, trigo, à mão, a trilho…
INQ Pois.
INF Antigamente era um trilho.
INQ E ainda se lembra disso?
INF Então não me lembra?! Então havia tanto trigo a trilho, quan- tocado a bois e…
INQ Pois. Pois.
INF Puxado a bois e puxado a burros ou a machos. E os palheiros era um… Fa- Fazia-se um buraco, não havia enfardadeiras… Nem havia enfardadeiras, nesse tempo!
INQ Pois.
INF Era um, [pausa] era um Fazia-se um buraco nas casas, nas casas de palheiros, e depois apanha- era acartadas com uns panos a palha e eram metidas por um pelo buraco do do telhado, enchia-se uma casa de palha. Assim é que era o palheiro feito.
INQ E agora já não há?
INF Agora não. Agora, é claro, depois começou a haver as máquinas, as debulhadeiras assentes nas eiras…
INQ Pois.
INF Começou a haver as enfardadeiras a fazer os fardos; e [vocalização], e hou- e começou a haver outras máquinas também a debulhar e depois vir as enfardadeiras debulhar à enfardar à terra. Agora é tudo diferente, não é?
INQ Pois.
INF E eu conheci esses, essa essas épocas que não havia nada dessas coisas.
INQ Pois é.
INF As uvas eram esmagadas todas dentro dos lagares a pés.
INQ Pois.
INF [vocalização] O [vocalização] Nesse tempo é que havia bom vinho, [pausa] que se podia beber, não é agora.
INQ Pois.
INF Porque agora o, a, o as pessoas não têm consciência. Não têm consciência! Há sempre aqueles truques de se enganarem uns aos outros e de enganarem o povo.
INQ Pois é.
INF O povo , há certo povo pelo por dinheiro
INQ Faz tudo.
INF são capazes de envenenar a huma- a humanidade toda.
INQ Pois é.
INF O povo todo. Hoje faz-se um morangal… Sabe o que é morango, não sabe?
INQ Rhum-rhum.
INF O morango está a querer amarelar, em dois dias põe-se capaz de apanhar. Quando ele está a querer amarelar, é sulfatado com um veneno.
INQ Que horror!
INF Um veneno mas é veneno! É um Seiscentos e Cinco Forte, ou o Decis, ou essas coisas assim, por causa de o de o mosquito não poisar, para na- não o morder, para ele não se espapaçar e coisa. Ao fim de três dois dias ou três, é apanhado.
INQ Ai, que horror!
INF É uma das frutas mais perigosas que a gente hoje come.
INQ Ai, pois é!
INF A alface é a mesma coisa. Para ela não se picar, é – vá – sul- um sulfato que há aí e um bocadinho de veneno em cima.
INQ Que horror!
INF Por causa de o mosquito não a picar.
INQ E nós a comer isso tudo!
INF Vem o mosquito e pica-a. E é mu- o pessoal agora come. Antigamente não era nada disso.
INQ Pois.
INF Porque o [vocalização] havia as pessoas a durar cem anos, noventa anos, e e a passarem fome, parece mentira!
INQ Pois.