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Cabeço de Vide, excerto 28

LocationCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
SubjectA vida humana
Informant(s) André
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Estive quinze anos casado sem ter filhos, [pausa] sem a mulher ter filhos.
[2]
Ouviu?
[3]
E depois morreu-me uma cunhada minha
[4]
[vocalização] e a mulher foi ao funeral.
[5]
Eu, nessa altura, era o hortelão na tal horta, da de Mateus.
[6]
A mulher foi ao funeral da irmã.
[7]
que é Foi na Ribeira de Nisa.
[8]
[vocalização] A irmã morreu,
[9]
deixou um um rapazinho e uma uma menina.
[10]
Ela trouxe a menina era a mais velhinha ,
[11]
trouxe a menina.
[12]
"Olha, homem, eu trouxe a [vocalização] a garota".
[13]
"Fizestes bem.
[14]
[pausa] Fizestes bem".
[15]
Tive a garota três anos em casa.
[16]
A garota era esperta,
[17]
[vocalização] era violenta
[18]
era
[19]
E eu começo a pensar assim:
[20]
"Esta garota [pausa] agora anda aqui assim neste feitio
[21]
e amanhã ou no outro dia começa a ter qualquer préstimo,
[22]
o pai abala com ela.
[23]
Eu vou dar aqui uma liberdade [pausa] à garota, a ver se o pai quer".
[24]
Ele veio
[25]
e digo-lhe assim para ele:
[26]
"Olha , queres dar uma liberdade à tua filha"?
[27]
"Então, mas que liberdade é"?
[28]
"É
[29]
Tu és o pai dela.
[30]
[pausa] Mas [vocalização] um dia se a quiseres levar, ela vai se quiser.
[31]
[pausa] Se ela quiser ir para a tua casa, vai para a tua casa;
[32]
e se quiser estar na minha, está na minha.
[33]
[pausa] Uma liberdade a ela"!
[34]
Hem?
[35]
"Eh, mas eu não tenho coragem de dar um filho,
[36]
eu não tenho coragem de dar um filho"!
[37]
"Mas eu não te estou a dizer para tu a dares, !
[38]
Ela é tua filha sempre.
[39]
É dar uma liberdade a ela.
[40]
Ela está aonde quiser.
[41]
Se quiser estar na minha casa, está na minha casa;
[42]
e se não quiser estar na minha casa, quer ir para a tua,
[43]
vai para a tua".
[44]
Mas eu sempre lembrando-me que ela que nunca queria ir para casa do pai,
[45]
[pausa] porque, é claro, era um homem sozinho.
[46]
[pausa] Bem, ele não tinha coragem,
[47]
não tinha coragem,
[48]
não tinha coragem,
[49]
não tinha coragem,
[50]
e aquilo ficou assim.
[51]
Às tantas, ele vem
[52]
e abala com a gaiata.
[53]
E começo eu assim a dizer para a mulher:
[54]
"Tu vistes isto?
[55]
Anda uma pessoa a criar os filhos dos outros!
[56]
Depois de ter-lhe [vocalização] u-, uma certa uma certa simpatia, uma certa moridade por eles, vem assim
[57]
"Vou ma- Vamos mandar vir um agora depois de velho"!
[58]
Mas
[59]
INF Comecei logo Eu comecei logo a [vocalização]
[60]
Apareceu.
[61]
[vocalização] Depois quando ela apareceu, eu era criado do tal Andrémon.
[62]
Diz-me ele assim para mim:
[63]
"Eh !
[64]
o que é que tu arranjas!
[65]
Olha que o Dom Aniceto" é o dono da Quinta do Leão , "olha que o Dom Aniceto tinha um grande desgosto da mulher não ter filhos,
[66]
em três vezes tem seis filhos.
[67]
[pausa] o que é que tu arranjas"!
[68]
Digo:
[69]
"Ai!
[70]
Isto há-de ser o que Deus quiser "!
[71]
"Eh, !
[72]
Mas tu vistes na tua idade",
[73]
e coisa e tal
[74]
Mas, olha, ela tem quarenta e um ano, ou uma coisa qualquer assim,
[75]
e ainda estamos.

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