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Cabeço de Vide, excerto 59

LocalidadeCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
AssuntoA criação de gado
Informante(s) André

Text: -

[1]
INF [vocalização] Eu, uma vez, discuti com um…
[2]
Discuti não.
[3]
Só eu é que é que disse coisas a um [vocalização] a um veterinário.
[4]
. [pausa] Que eu estava a tratar de uma data de bezerros –
[5]
que tínhamos comprado bezerros leiteiros –
[6]
[pausa] e um adoeceu.
[7]
E eu fui a correr chamar o veterinário.
[8]
[pausa] Fui a Alter.
[9]
Cheguei cá a Cabeço de Vide,
[10]
encontrei aqui um homem.
[11]
[pausa] Eu digo assim:
[12]
"Então onde é que você vai"?
[13]
"Vou a Alter".
[14]
Digo eu assim:
[15]
"Eh pá!
[16]
Eu fui lá a Alter
[17]
e disse à irmã do do veterinário:
[18]
"Veja lá se vê lá o veterinário
[19]
e diga-lhe lá a ele que sem falta que vá ao monte da de Mateus,
[20]
que está lá um bezerro doente".
[21]
O homem foi lá.
[22]
O homem foi lá
[23]
e disse-lhe.
[24]
[pausa] Ninguém coiso.
[25]
No outro dia tornei lá a ir.
[26]
Também lá não estava.
[27]
Tornei a recomendar.
[28]
[pausa] Bem, aquilo demorou quatro dias.
[29]
No fim de quatro dias, o bezerro morreu.
[30]
Você sabe que eu que chorei?
[31]
INF Eu estava no monte,
[32]
estava sozinho.
[33]
[pausa] Ia assim com a colher cheia de sopas, [pausa] para meter para a boca,
[34]
[pausa] o bezerro [vocalização] berrou.
[35]
Eu pus a colher dentro da coisa
[36]
e [vocalização] e corri lá.
[37]
Foi quando morreu.
[38]
INF Depois…
[39]
[pausa] Isto foi num sábado à noite.
[40]
Eu estava sozinho lá no monte.
[41]
No outro dia de manhã,
[42]
montei-me na mota, [pausa]eu marchei caminho de Vaiamonte
[43]
e fui chamar os homens – porque no domingo não iam trabalhar – para irem lá para desfolarem o bezerro e abrirem a cova para se enterrar.
[44]
[vocalização] Os homens foram logo lá.
[45]
Chegaram lá,
[46]
[pausa] desfolaram o bezerro,
[47]
abriram-no:
[48]
"Então onde é que quer que"…
[49]
"Abram aqui [vocalização], aqui arrumado ao ribeiro.
[50]
[pausa] Isto aqui tem muito chão,
[51]
fazem aqui uma cova depressa para para enterrar aqui o bicho".
[52]
Acaba-se de enterrar o bicho,
[53]
os homens foram-se embora
[54]
INF e vejo vir um gajo direito lá à arribana, aonde estavam os os vitelos.
[55]
Mas eu não conhecia bem o gajo.
[56]
[pausa] Digo:
[57]
"Eh pá!
[58]
É capaz de ser o veterinário".
[59]
[pausa] Quando o gajo ia chegando lá perto da porta e eu faço aqui assim:
[60]
"Ó amigo, o que é que você vai para aí fazer"?
[61]
[vocalização] Mas eu estava a falar já assim já
[62]
que estava desconfiado que era ele.
[63]
INF E diz ele aqui assim –
[64]
ele matou-se mesmo pelas mãos dele –,
[65]
e ele diz-me assim para mim:
[66]
"Ó homem, tanto recado por causa de vir cá, por causa de ver o bezerro!
[67]
[vocalização] Venho ver o bezerro".
[68]
"Então, você é que é o veterinário"?
[69]
[pausa] Foi assim mesmo que eu tratei o homem.
[70]
[pausa] "Sou eu o veterinário,
[71]
sou".
[72]
[pausa] "Então, o [vocalização] você fazia muito empenho em ver o bezerro"?
[73]
"Pois então tanto recado"!
[74]
"Mas mesmo assim, muitos, não lhe chegaram.
[75]
[pausa] Tantos que eu para lá mandei
[76]
e nesse caso você recebeu os recados todos.
[77]
Mas mesmo assim não chegaram.
[78]
Agora se você faz muito empenho em ver o bezerro,
[79]
eu vou a Vaiamonte chamar os homens para abrirem-lhe o bezerro, que é para você o ver,
[80]
que está além enterrado, além ao pé do ribeiro.
[81]
[pausa] O bezerro morreu por sua falta"!
[82]
INF "Então você sabe o que tinha o bezerro"?
[83]
"Pois sei.
[84]
[pausa] O que eu não o sabia era tratar.
[85]
[pausa] O bezerro morreu com uma pneumonia".
[86]
INF O animal gemia como a uma pessoa.
[87]
INF Olhe, [pausa] eu piquei aquela trapalhada tanto,
[88]
o homem nunca mais lá arrumou.
[89]
INF Foi outro veterinário para lá [vocalização],
[90]
mas ele…
[91]
INF E se ele devia favores ao patrão!

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