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Covo, excerto 24

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo Bigail

Text: -

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[1]
INF1 Depois lá bebi aquilo,
[2]
ao outro dia parece que estava melhor.
[3]
Parece que estava melhor…
[4]
Chegamos mais para diante,
[5]
que era para a casa do Asmodeu,
[6]
um dos senhores chamavam-lhe o chamado o Asmodeu,
[7]
tinha duas raparigas mais lindas, mais lindas!
[8]
Duas raparigas boas!
[9]
Andavam a encher um carro de estrume, um carro com de esterco.
[10]
Encheu o carro,
[11]
diz ela diz ele assim: "Ó [vocalização] patrão, você não nos arranjava aí qualquer coisa de comer"?
[12]
"Ó homem, você vem já atrapalhado logo de manhã"?!
[13]
"Olhe que nós só comemos ontem, às três horas da tarde, às duas horas da tarde".
[14]
Diz ele: "Venham para dentro".
[15]
Metemos o gado assim no meio bem como o meu,
[16]
e [vocalização] ele disse para a para as filhas: "Olha, uma vai buscar um peixe bacalhau
[17]
e a outra vai buscar u-, u-, um uma broa de pão".
[18]
Uma broa destas.
[19]
Ó rapaz, começou começamos ali –
[20]
botou-nos em cima dum carro uma toalha, uma faca –,
[21]
nós começamos a comer o bac-,
[22]
comemos um peixe de bacalhau todo!
[23]
INF2 E salgado, Arquibaldo!
[24]
INF1 Salgado!
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INF1 Sal- Então a fome!
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INF2 A fome é negra!
[27]
INF1 Comemos o peixe bacalhau,
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bebemos [pausa] para aí uns três litros de vinho.
[29]
Eu mais ele o outro.
[30]
Comemos,
[31]
dizia já ele assim: "Ó homem, quanto" –
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perguntámos quanto era –,
[33]
"bem, e quanto"?…
[34]
"Os senhores não pagam nada.
[35]
Os senhores vão-se embora
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que os senhores, na paz de Deus, de vocês não co-, não, não não cobro nada".
[37]
As raparigas assenta- assentaram-se ao pé de nós, o homem ta- o pai também,
[38]
a mãe também, ali comer, comer…
[39]
Quer dizer, nós enchemos…
[40]
Nós comemos bem!
[41]
INF1 E no fim deram-nos um garrafa de vinho para trazer para o caminho!
[42]
INF1 E não nos quiseram um tostão!
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INF2 Há gente boa!
[44]
INF2 Pois há.
[45]
INF1 E os outros lambões, veja lá, depois nós entregamos-lhe [vocalização] as mantas
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e arrecebemos o dinheiro.
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INF1 Viemos embora.
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E a nós não nos deram nada,
[49]
até a água fervida ele queria eu tive que a pagar.
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INF1 Só a água fervida.
[51]
INF2 Ai que gente há!
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INF1 Vocês, vocês vejam:
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é p– é pena, homem!
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INF1 Sabe Deus a vida de cada um, de quem anda por fora de suas casas…
[55]
INF2 Quem anda por fora de suas casas…
[56]
INF1 Oh, olhai, quem anda por fora de suas casas, apanha o bom
[57]
e apanha o mau.

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