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Enxara do Bispo, excerto 3

LocalidadeEnxara do Bispo (Mafra, Lisboa)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Borromeu

Text: -


[1]
INF Oh, era batatas
[2]
É o que a senhora quer fazer, não é?
[3]
INF Feijões, muito mais que agora.
[4]
Que [vocalização] agora nem se pode semear feijões nem coiso,
[5]
puseram isto tudo em [vocalização] [pausa] em reservas de caça.
[6]
INF Porque isto até havia de ser proibido, porque [vocalização] os terrenos são retalhados, muito retalhados.
[7]
É um que tem um bocadinho,
[8]
é outro que tem outro bocadinho,
[9]
outro tem um bocadinho
[10]
Agora nem se consegue semear!
[11]
O ano passado se- gastei quarenta contos numa seara,
[12]
[vocalização] semeei-a de feijão,
[13]
ficou semeei vinte e dois quilos de feijão e [vocalização] e [vocalização], ou nove quilos de grão,
[14]
não apanhei um.
[15]
Os coelhos comeram tudo!
[16]
Começaram logo
[17]
Eu pus veneno,
[18]
eu pu- eu punha espantalhos,
[19]
eu punha
[20]
Punha o que pusesse!
[21]
Dois, três dias, afastava-os.
[22]
Depois começavam outra vez,
[23]
começaram que ele deixaram o restolho, pronto!
[24]
Não, não Não deixaram nada.
[25]
Antigamente não era assim.
[26]
Antigamente havia
[27]
O caçador era livre não é?
[28]
e, e apanha- e a caça era:
[29]
era três meses de caça todos os dias.
[30]
INF Quem quisesse caçar caçava.
[31]
O dono da fazenda ia para a fazenda,
[32]
levava uma espingarda
[33]
e [vocalização] e de manhãzinha apanhava um coelho ou dois, ou uma perdiz,
[34]
depois ia trabalhar;
[35]
INF à no- à tardinha vinha para casa,
[36]
apanhava mais um coelho ou dois, e coisa,
[37]
e os coelhos, havia mais desbaste aos coelhos.
[38]
INF Agora não.
[39]
Agora é três meses
[40]
mas é ao domingo e feriados [pausa] e quintas-feiras.
[41]
INF Quer dizer, apanha dezassete dias de caça, ou dezoito, um um ano.
[42]
INF Pois, no total.
[43]
E o coelho, a criação é muita.
[44]
E depois, agora, eles puseram isto em como sócios de caça-;
[45]
caçadores, em sócios.
[46]
São muito poucachinhos porque os de fora não podem vir.
[47]
INF Nem eu.
[48]
Eu não sou sócio,
[49]
sou contra essas coisas
[50]
INF Passei a não ser sócio,
[51]
não quis ser sócio.
[52]
INF E eu tenho o prejuízo:
[53]
tenho uma licença de caça,
[54]
tenho um porte de arma como outro qualquer e uma espingarda,
[55]
e não posso ir caçar dentro daquilo que é meu.
[56]
INF Pois, sim senhora.
[57]
Uma injustiça mesmo!
[58]
INF É uma injustiça mesmo.
[59]
A gente tem o [vocalização] prejuízo
[60]
e e, no fim, com a licença de caça e tudo, não se podemos caçar desde que a gente não pague ali [vocalização] à sociedade.
[61]
INF Temos que pagar dez contos de entrada;
[62]
temos que pagar [vocalização] de seis em seis meses cinco contos
[63]
Isto é uma, é um [vocalização] é uma roubadeira!
[64]
INF Não é?
[65]
É uma roubadeira.
[66]
Não tem lucro nenhum.
[67]
O caçador não tem lucro nenhum.
[68]
INF Pois então!
[69]
Pois se as fazendas são nossas, a gente é que tem os prejuízos, a gente é que está a criar a caça!
[70]
Tiramos uma licença de quatro contos ao Estado,
[71]
paga-se um porte de armas de [vocalização] de cinco contos e tal,
[72]
paga-se mais três contos e tal de de seguro de de espingarda,
[73]
e [vocalização] passa paga-se um conto de réis de uma uma vacina dum cão,
[74]
paga-se mais um conto de réis de duma licença dum cão
[75]
Então, a gente tem gasta uns poucos de contos na, na nas licenças, e tudo,
[76]
e não tem ordem de caçar naquilo que é nosso?!

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