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Gião, excerto 19

LocalidadeGião (Vila do Conde, Porto)
AssuntoAs alfaias agrícolas
Informante(s) Cosme Cunegundes

Text: -


[1]
INF1 Depois dessa [vocalização] dessa função de da vessada, ia-se gradar a terra.
[2]
Era uma função muito trabalhosa!
[3]
INF2 Muito dura!
[4]
INF1 Muito dura!
[5]
Era muito duro aquele serviço!
[6]
E era muito duro porque era feito, [pausa] com grades de pau com dentes.
[7]
INF2 Uns dentes de ferro.
[8]
INF1 Ia à frente uma grade com dentes.
[9]
Eu ainda tenho uma em casa do caseiro.
[10]
Ainda vi dias uma encostada à porta que lhe dei quando comprei o tractor,
[11]
ficou para
[12]
e depois ele também deixou [pausa] e tal,
[13]
e ele ofereceu-ma a a, a mim.
[14]
INF2 E a pessoa ia atrás.
[15]
E a pessoa ia atrás por cima da terra, a segurar na
[16]
INF1 Ia à frente a chamar, nas leivas, à frente a chamar o gado, porque o gado o gado não tinha qualquer limite.
[17]
INF2 Iam outros atrás.
[18]
INF1 O gado ia para cima da terra,
[19]
pois era preciso chamar
[20]
porque senão não ia direito.
[21]
INF1 É que quando uma rês quando tem um rego habitua-se perfeitamente a andar no rego e não sair.
[22]
[pausa] Até o ditado que diz:
[23]
"Boi velho não erra o rego"!
[24]
Quer dizer, não sai do rego.
[25]
E chega fora
[26]
e entra muito bem ao rego.
[27]
[vocalização] Até, por exemplo, [vocalização] os animais de sachar o milho:
[28]
nós tivemos aqui uma égua que andava sozinha.
[29]
Chegava fora
[30]
e virava no rego seguinte.
[31]
INF1 E tinha até uma coisa muito curiosa essa égua:
[32]
é que quando se acabava
[33]
O problema maior que ela tinha é que quando se acabava, num campo, de sachar
[34]
Porque ia-se às vezes nesses campos grandes,
[35]
ia-se quatro, três vezes ou quatro, sachar.
[36]
Tinha um problema grande:
[37]
é que quando se acabava o campo, não se dizia nada à burra
[38]
e ela estava sempre com a ideia para aquele campo
[39]
e no dia seguinte era era um caso sério,
[40]
porque ela tinha sempre a ideia de ir para aquele campo.
[41]
INF1 E eu, às vezes, era rapazote
[42]
e é que ia a cavalo nela, porque ela era muito mansa era muito velha !
[43]
[pausa] e acontece que ela teimava comigo porque queria ir para o campo aonde tinha andado.
[44]
INF1 Nós tínhamos um rio, acolá em baixo que a senhora deve-se lembrar , acolá em baixo no regato,
[45]
e, às vezes, era também um castigo porque ela quando levava sede, é claro, chegava ali, estendia logo, e coisa, para ir.
[46]
E eu, às
[47]
vezes, virava-me e ia cair dentro do rio.
[48]
Risos Às vezes ia cair dentro do rio.
[49]
O rio tinha sempre
[50]
Porque era um rio de terra,
[51]
era um regato com um bocado de água ancorada e tanto e tal,
[52]
mas que tinha uma pedra de lavadouro, onde se lavava
[53]
Lava-, estava Estava quase sempre gente a lavar.
[54]
INF2 Era o rio da [nome próprio].
[55]
Era o rio.
[56]
O rio da [nome próprio].
[57]
INF1 E eu ficava espetado naquele lodo,
[58]
tinha de sair e vir para casa mudar de roupa, e tal,
[59]
que aquilo tinha lodo, e tal.

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