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Gião, excerto 27

LocalidadeGião (Vila do Conde, Porto)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Cosme Cunegundes

Text: -


[1]
INF1 Para milhos, põe-se sempre a terra melhor,
[2]
porque é uma cultura funda,
[3]
porque é uma cultura rica.
[4]
Para centeio, não sei se a senhora sabe disso,
[5]
porque centeio chama-se pão-macho.
[6]
ouviu falar nalguma vez nisso?
[7]
INF2 É semeado debaixo, não é?
[8]
INF1 Então a senhora pode tomar nota que sempre que se trate [pausa] de centeio, aveia, trigo, toda essa cultura que é feita
[9]
INF2 Cevada.
[10]
E aveia.
[11]
INF1 Aveia, que é feita, chama-se pão-macho.
[12]
E que é próprio para as terras fracas, para as terras mais pobres.
[13]
INF1 Também.
[14]
INF1 Ah pois,
[15]
o trigo é muito primo do centeio.
[16]
INF1 É muito primo do centeio.
[17]
Tudo isso chama-se pão-macho.
[18]
E esse é é, é, é posto nas terras mais fracas sempre.
[19]
INF1 É porque isso sabe, minha senhora? é uma cultura que nem pode ser muito adubada.
[20]
INF1 Porque se for muito adubada, cai;
[21]
fica forte demais,
[22]
cai e apodrece todo
[23]
e não se pode segar.
[24]
Enrosca Engrossa tudo.
[25]
INF2 É.
[26]
A aveia até se em qualquer valozinho.
[27]
INF1 Não, não, não.
[28]
Não.
[29]
INF1 Sim.
[30]
Sim.
[31]
Porque a nossa terra
[32]
também um contra-senso nisso.
[33]
INF1 e algumas permitem estar dois ou três anos, as nossas terras não se pode fazer isso,
[34]
porque elas enchem-se logo de braveza.
[35]
Enchem-se logo de braveza!
[36]
As nossas terras quanto mais cultivadas
[37]
Até as nossas terras devem ter duas culturas por ano:
[38]
[pausa] que é [pausa] o milho ou o trigo e a erva.
[39]
INF2 Devem de ser!
[40]
Sempre, sempre cultivadas.
[41]
INF1 Porque depois semeia-se-lhe a erva, que é o azevém,
[42]
e que o azevém não deixa vir a grama brava nem as ervas bravas.

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