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Vale Chaim de Baixo, excerto 37

LocalidadeVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
AssuntoA caça
Informante(s) Cirilo

Text: -

[1]
INF Era a caça ao gambozino.
[2]
Não se esqueça.
[3]
[pausa] O meu pai que Deus tem – Deus lhe perdoe, Deus lhe perdoe, pois…
[4]
Houve uma coisa dessas dos gambozinos, uma parte…
[5]
Sempre há marotos!
[6]
INF Pois.
[7]
Sempre há marotos!
[8]
E então combinaram para ir à caça do gambozino.
[9]
Pois.
[10]
Onde o meu pai, que Deus tem – o meu pai é, que Deus tem, é que contou que fez aquela parte.
[11]
E então quem é que vai bater?
[12]
Havia a porta daquelas daquelas vinhas – não é? –,
[13]
havia vinhas,
[14]
e então havia aquelas grandes.
[15]
E havi- E na porta das vinhas havia um biqueirão por onde a água corria.
[16]
Vinha de dentro das vinhas,
[17]
ia andando,
[18]
a água vinha nas cheias,
[19]
havia aquela porta daquele biqueirão.
[20]
"Olha, vais-te lá prantar.
[21]
Vamos ao gambozino,
[22]
que é lá que vai o gambozino, e a gente daqui damos aqui uma uns arrulhos e tal,
[23]
e tu vais-te lá prantar com a saca".
[24]
Bom, o meu pai, que Deus tem, pega nele: "Sim senhor, ó minha vida",
[25]
pega na dita saca
[26]
e foi-se prantar lá em baixo à porta desse, de- dessa azenha.
[27]
E eles cá dentro deram um arrulho
[28]
e [pausa] e partiram
[29]
e vieram-se embora para casa, para as arramadas.
[30]
Iam-se deitar.
[31]
Meu pai, que Deus tem, esperou,
[32]
esperou,
[33]
esperou,
[34]
esperou,
[35]
esperou,
[36]
esperou,
[37]
esperou,
[38]
não viu mais nada.
[39]
Pensou: "Ah ladrões, então isto não aparece aqui nada"!
[40]
Deixou,
[41]
foi-se embora.
[42]
Chegou lá,
[43]
estavam eles todos a dormir!
[44]
Depois ele: "Deixa estar, filhas da puta, que eu já te digo.
[45]
Deixa estar que já te digo".
[46]
E neste tempo usavam sapatos.
[47]
[pausa] Pois.
[48]
Usavam sapatos…
[49]
[pausa] Vai ao pé dos sapatos dum,
[50]
puxa-o para fora,
[51]
arreia a calça:
[52]
tã-tãi, uma cagadela lá dentro!
[53]
Uma cagadela lá dentro.
[54]
Pegou nos sapatinhos – eles estavam dormindo –
[55]
e pôs no mesmo sítio.
[56]
Pronto.
[57]
Bom, [pausa] no outro dia de manhã, o gajo alevanta-se para calçar os sapatos,
[58]
[pausa] vai ver enfiar o pé e ah!
[59]
Tudo Tudo tapado em, em Risos em cocó, broas,
[60]
diz ele assim: "Ah ladrões!
[61]
Quem seria o ladrão"?
[62]
Diz o meu pai que Deus Deus lhe perdoe assim nesse tempo:
[63]
"Olha, então não sabes quem foi"?
[64]
"Eu não".
[65]
"Então, isso foi os gambozinos, pá!
[66]
[pausa] Foi os gambozinos.
[67]
Vocês vieram aqui,
[68]
afincaram-se a dormir,
[69]
vê lá que os gambozinos até merdaram para dentro da saca.
[70]
Pois.
[71]
Deixa lá que os gambozinos até merdaram para dentro da saca".
[72]
"Qual gambozinos nem gambozinos!
[73]
Fostes tu"!
[74]
Depois quiseram quiseram dar porrada no meu pai, que Deus tem,
[75]
mas os outros não deixaram.
[76]
INF "Tu é que foste o culpado,
[77]
e tu é que foste o culpado,
[78]
portanto agora não lhe tocas.
[79]
Isso foi Isso foi os gambozinos"!
[80]
INF Foi uma história do gambozino!

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