Representação em frases

Vale Chaim de Baixo, excerto 49

LocalidadeVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
AssuntoAs aves
Informante(s) Cirilo

Texto: -


[1]
INF Ah!
[2]
Não, não, não, não, não, não.
[3]
INF Aquilo não é uma folosa!
[4]
INF Pois tem que ser uma folosa.
[5]
INF Este.
[6]
INF Vão pôr ao ninho dos outros,
[7]
é o cuco.
[8]
INF O cuco é que vai pôr os ovos nos ninhos da folosa.
[9]
E vai ,
[10]
INF mama-lhe os ovos da folosa
[11]
e põe dos dele.
[12]
INF É um pássaro tão desgraçado que nem sequer um ninho sabe fazer!
[13]
INF Pois.
[14]
Que é é o que está aqui.
[15]
INF Mas, a folosa não é destas.
[16]
As folosas são são pretas.
[17]
INF São de gorro preto.
[18]
INF É de gorro preto.
[19]
As folosas são de gorro preto.
[20]
INF Assim de cabecinha de preta!
[21]
INF Pois.
[22]
Que eu tenho encontrado
[23]
At- Até uma vez, até encontrei um cuco
[24]
Mas muitos anos.
[25]
Era pequenito!
[26]
Tinha os meus, talvez os meus quê?, os meus oito ou nove anos.
[27]
INF Andava guardando um rebanhito de porcos
[28]
e uma vez fui ao Vale da Serva que é na parte do Vale de Feixe
[29]
e havia uma grande jardeira.
[30]
[pausa] Jardeira que é:
[31]
chama a gente uma jardeira
[32]
é onde muita carqueija.
[33]
INF Com muita carqueija.
[34]
Isso era uma jardeira.
[35]
Pois.
[36]
Assim, uma chapada muito grande, toda tapada em carqueija, era uma jardeira.
[37]
E eu passei por , [pausa] parece-me
[38]
não sei que é que eu fui para fazer,
[39]
passei
[40]
e onde encontrei um ninho de folosa com um cuco dentro.
[41]
INF E eu pego nesse dito cuco
[42]
o cuco estava assim grandote ,
[43]
pego no desse dito cuco
[44]
e trouxe-o.
[45]
E tratava dele:
[46]
dava-lhe gafanhotos [pausa]
[47]
e tratava do bichinho.
[48]
Mas nunca lhe fiz foi uma gaiola,
[49]
se lhe tenho feito uma gaiola, ele em calhando,
[50]
INF não sei se eu não o possuiria ainda hoje,
[51]
mesmo se ele tivesse morrido de velho.
[52]
INF Pois.
[53]
Mas eu depois tinha um casaco de cotim que era o que se usava, aqueles casacos de cotim ,
[54]
e guardava o cuco na algibeira do casaco.
[55]
[pausa] Pois.
[56]
Guardava o cuco na algibeira do casaco.
[57]
E depois vinha com os porcos à frente,
[58]
um sítio que lhe chamam a Eira do Machado,
[59]
por afora,
[60]
e aquilo havia muito seixo.
[61]
E eu pegava nos seixos
[62]
e jogava aquilo,
[63]
ia faiscando muito fogo.
[64]
INF Os seixos batiam uns nos outros
[65]
e faiscavam fogo.
[66]
E eu gostava de ver aquilo, não é?
[67]
Pois.
[68]
Os porcos à frente e eu atrás, faiscando os seixos,
[69]
onde me salta o cuco da algibeira para o chão,
[70]
e ponho-lhe o em cima,
[71]
matei o cuco.
[72]
INF Ai, que fiquei tanto
[73]
Fiquei tão tão, tão, tão, tão aborrecido, tão descontente, com aquilo que ninguém queira saber!
[74]
INF Pois.
[75]
E matei o bichinho, pronto!
[76]
Acabou-se o cuco!
[77]
INF É verdade.

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