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Lavre, excerto 3

LocationLavre (Montemor-o-Novo, Évora)
SubjectO sobreiro e a cortiça
Informant(s) Aramis
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Eu vou-lhe aqui mostrar uma coisa.
[2]
[pausa] Eu vou-lhe aqui mostrar uma coisa.
[3]
[pausa] Ora !
[4]
[pausa] Não queira comparar uma cortiça destas [pausa]
[5]
INF com uma cortiça destas!
[6]
INF Com certeza!
[7]
INF Estas é que são as cortiças boas,
[8]
que é com isto que eu trabalho.
[9]
INF [vocalização] Pois.
[10]
INF É a própria árvore
[11]
INF É que eu que ia-lhe para contar.
[12]
A própria árvore, num ano
[13]
Por exemplos, se esta foi tirada [vocalização] em
[14]
É é o ou o nove ou o seis.
[15]
Ou que seja assim, ou que fosse assim.
[16]
Bom, foi tirada em seis ou em nove.
[17]
Ou em [vocalização] em 59, ou 39, ou 49, ou o que for, ou ou 46
[18]
Bom, fosse o que fosse.
[19]
Esta cortiça [vocalização] é boa.
[20]
Não é melhor que
[21]
É mais ruim que aquela,
[22]
mas é boa.
[23]
INF Mas não custa nada, quando for ao fim dos nove anos, não a cortiça não prestar.
[24]
E a árvore é a mesma,
[25]
os terrenos são os mesmos.
[26]
Mas não custa nada um ano ser boa
[27]
porque eu sei isso porque houve um ano na terra ali na terra das Várzeas, andámos a tirar cortiça, e eu calhei a tirar de um um chaparro até um chaparro grande.
[28]
Ai, que cortiça tão boa!
[29]
Ai, que coisa tão boa!
[30]
Olhe, o dono não aproveitou nenhuma.
[31]
[pausa] A gente roubou-a-lhe toda.
[32]
[vocalização] Os, os do- Os que a andavam a tirar, um levava uma prancha,
[33]
outro levava outro bocado,
[34]
outro levava outro bocado,
[35]
quer dizer que não aproveitou dali nada.
[36]
Nada!
[37]
INF [vocalização] Não.
[38]
INF Para ele.
[39]
Para ele.
[40]
Para a gente , para a gente está que a gente precisa de bocados de cortiça bom boa.
[41]
E esta cortiça que eu tenho ruim, são cortiças que me dão.
[42]
Não sabem se para que é
[43]
Depois eu vos conto,
[44]
explico o resto.
[45]
INF Quer dizer, eu ao fim de nove anos, precisamente andava nessa tirada à mesma.
[46]
E sabia o cha- o chaparro que era, porque eu tinha passa- andava ao de a tirar um uns outros ao
[47]
Não fui eu que os tirei
[48]
mas levei de também uma prancha.
[49]
E quer dizer que eu [pausa] andava com aquilo [vocalização] de olho, para ver se era capaz de apanhar outro bocado de cortiça.
[50]
Cheguei ,
[51]
a cortiça não prestava.
[52]
INF E é i- E é isso é que eu me falta saber.
[53]
INF Não sei.
[54]
INF Não sei porquê.
[55]
INF Outro Outra coisa que me dizem que é
[56]
[pausa] Dizem-me que é isto:
[57]
quanto mais lavouras
[58]
Mas eu admira-me essas duas coisas,
[59]
mas isto é como tudo o mais.
[60]
Eu não sei!
[61]
Eles dizem quanto mais lavouras leva a as terras, mais ruins são as cortiças.
[62]
INF Porque a cortiça sendo criada dentro de matos, é criada apertada.
[63]
[pausa] Quer dizer, [pausa] uma cortiça leva leva mesmo nove anos a criar,
[64]
mas na mesma árvore, mas se tiver mato, cria-se, fica desta grossura,
[65]
e se tive- não tiver mato [vocalização], fica desta.
[66]
Quer dizer que [pausa] que se torna muito mais grossa.
[67]
INF Exactamente.
[68]
INF Torna-se mais grossa.
[69]
Tem mais criação.
[70]
É mexida a terra,
[71]
[vocalização] tem mais criação,
[72]
torna-se mais grossa.
[73]
É:
[74]
dentro do mato torna-se mais delgadinha
[75]
mas também se torna muitíssimo boa.
[76]
Por isso é que dizem que a cortiça de dentro do criada no mato, que se torna mui melhor.
[77]
Mais macia, mais mais [vocalização] l- lisa, pronto!

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