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Lavre, excerto 30

LocationLavre (Montemor-o-Novo, Évora)
SubjectOs animais bravios
Informant(s) Aramis
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Esse não conheço eu.
[2]
INF Isso, isso…
[3]
INF [vocalização] O saca-rabo.
[4]
O saca-rabo ou isso.
[5]
Mas o saca-rabo não tem um rabo assim des- assim tão grosso.
[6]
INF Não.
[7]
INF Isso aqui é que me parece mais um saca-rabo do que o outro.
[8]
INF Porque Porque eles não…
[9]
[pausa] Têm o rabo muito grosso aqui.
[10]
INF É outras qualidades.
[11]
INF Pode ser um saca-rabo;
[12]
pode ser um, um um ginete.
[13]
INF O ginete também…
[14]
Há um ginete também…
[15]
INF É isto, pouco mais ou menos, olhe.
[16]
INF É o gineto.
[17]
INF Olhe, isto é gine- – isto,
[18]
que eu já cá criei um.
[19]
Quer ouvir?
[20]
Eu tenho uma história muito bem que me passa com um bichinho destes.
[21]
É disto que está aqui.
[22]
INF Olhe, chama-lhe a gente um…
[23]
INF Pois, chamam-lhe um, um um ginete.
[24]
INF Um gato-bravo.
[25]
Era o que a gente chamava dantes era um gato-bravo.
[26]
Pronto!
[27]
Mudaram o nome…
[28]
INF Um gineto é a mesma coisa.
[29]
Eu criei [pausa] um bicho daqueles…
[30]
Andava a tirar cortiça
[31]
e foge-me uma, o a gata lá de dentro dum toco.
[32]
Galgam-lhe por cima, eh, gente, logo, malta nova, mesmo para dar cabo dele com a machada [vocalização],
[33]
corremos por aqui, por aqui…
[34]
Até que há um um sujeito, um outro camarada, e manda a machada e mata o bichinho.
[35]
INF Matou o bichinho
[36]
e depois [pausa] ficámos todos contentes porque tínhamos matado um gato.
[37]
Começo eu a olhar para a gata
[38]
e digo eu assim: "Eh pá!
[39]
A gata esteve a dar,
[40]
estava a dar de mamar.
[41]
Então não vês os tetos dela?
[42]
Não vês aquilo aqui sujo de leite e tudo"?
[43]
Estava a dar de mamar.
[44]
Era num chaparro que a gente tinha estado a tirar;
[45]
fui lá acima
[46]
e estavam lá dois dentro do toco.
[47]
Trouxe-os.
[48]
Trouxe eu um
[49]
e o feitor da herdade – que foi ali nos Arneiros – levou o outro.
[50]
O dele na, na morreu,
[51]
mas o meu criei-o.
[52]
Criei-o até…
[53]
Pronto, era um bicho do mais mansinho que eu ainda vi.
[54]
Olhe, acompanhava-me aí por dentro da vila, atrás de mim, tudo, tudo, tudo aí por fora, sempre…
[55]
Num Havia aí uma vez num um teatro – estava um teatro além ao pé donde é a Casa do Povo, estava lá –
[56]
e quiseram-mo comprar;
[57]
naquela altura já me davam duzentos mil réis por ele, era –
[58]
e eu ganhava aí sessenta ou setenta mil réis por semana!
[59]
INF Mas eles já me davam duzentos ou duzentos e cinquenta
[60]
e eu não vendi o bichinho.
[61]
Não vendi.
[62]
Criei-o até à última.
[63]
E morreu de velho.
[64]
Ficou em casa.
[65]
INF Pois então!
[66]
E depois, de vez em quando…
[67]
E dava graça isto, hem! [vocalização] –
[68]
Eu acolhi muitas coisas. –
[69]
Havia mulheres aí com gatas,
[70]
iam levar as gatas lá para a minha casa, para o gato as cobrir – era um gato macho –, [pausa] para cobrir as gatas, quinze dias.
[71]
E ficou aí criação dessa bicheza.
[72]
É verdade!
[73]
INF Os gatos eram muito bonitos, muito bonitos!
[74]
Umas cores muito bonitas!
[75]
INF Estas cores…
[76]
Não é bem estas cores.
[77]
INF É isto que está aqui.
[78]
Isto é que era a cor dele,
[79]
era esta.
[80]
Mas, mais que isto.
[81]
INF Muito pequenito!
[82]
Muito pequenitozito!!
[83]
Eh!
[84]
Era um gato mais bonito!
[85]
Um tipo gostava muito daquilo, mesmo coiso.
[86]
INF Pronto, e criou-se.
[87]
INF O gato-bravo é um gineto.
[88]
INF O saca-rabo já é outro.
[89]
Isso é ouriços.

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