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Bandeiras, excerto 27

LocalidadeBandeiras (Madalena, Horta)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Cecília Carina

Text: -


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[1]
Ai, eu levei tanto tempo, eu tola, com sono
[2]
e não queria dormir, porque estava sempre lembrando que ela que podia não esquecer-se de tomar fôlego.
[3]
Foi Foi uma aflição.
[4]
Foi uma aflição.
[5]
Mas à conta de Deus está aqui, coitadinha,
[6]
é uma amiguinha duma pessoa.
[7]
INF2 Ai, eu punha-lhe sempre as minhas fraldinhas.
[8]
Mas, sempre precisei de trabalhar, que eu sou uma pessoa que saio muito,
[9]
paro pouco tempo em casa.
[10]
Tem que se ga- A pessoa é pobre,
[11]
tem que se ganhar a vida!
[12]
Mas nunca saí
[13]
Olha, levava levava o bercinho para casa de minha mãe,
[14]
atravessava-lhe uma tabuinha por baixo do berço,
[15]
pedia a qualquer pessoa que passava pelo caminho para me ajudar.
[16]
Mas não deixava de não lhe dar o seu banhozinho de manhã [vocalização] adoçar o cuzinho , pôr-lhe a sua fraldinha,
[17]
e usava as suas calcinhas plásticas.
[18]
Mas ia sempre com o seu biberonzinho, com as suas papinhas, ou o tachinho, outra vez, com outras preparadinhas para a minha mãe lhe dar, para as onze horas, e as suas fraldinhas sempre lavadinhas e passadinhas a ferro, tudo na os pés do bercinho, para eu poder levar tudo à cabecinha,
[19]
e ia eu com a minha malinha na mão para ir trabalhar para a fábrica.
[20]
Agora a minha pequena era muito boazinha!
[21]
INF2 Não era muito pequeno,
[22]
era um berço bom!
[23]
Agora eu é que era valente!
[24]
Era forte!
[25]
Por isso é que podia bem com o berço.
[26]
E era assim.
[27]
INF2 Embalava,
[28]
embalava.
[29]
Era um berço bom,
[30]
e então era de madeira boa, de madeira de castanho.
[31]
Era pesadíssimo!
[32]
INF2 Ah, ainda esse berço, parece-me que em casa da minha tia Carolina, não é?
[33]
É.
[34]
INF1 Não.
[35]
INF2 Ainda está .
[36]
INF1 Do tio Belisando.
[37]
INF2 Está em casa da tia Carolina.
[38]
Não, veio.
[39]
INF1 Oh!
[40]
INF2 Criou uma mancheia de famílias o tal berço.
[41]
Era duma madrinha dela.
[42]
Criou cinco ou seis filhos dela.
[43]
E criou os nossos seis filhos a gente é que éramos irmãos, que era a minha mãe, que isto é uma irmã [vocalização] de minha mãe ,
[44]
e criou os seus seis filhos.
[45]
E minha tia teve oito,
[46]
e eu tive esta,
[47]
e minha irmã teve três
[48]
e ainda emprestaram a umas de fora, assim como a Hermínia,
[49]
e emprestaram para meu irmão Belisando também, que criou dois
[50]
O que aquele berço tem criado de de famílias!
[51]
Mas a madeira era muito boa!
[52]
E ainda está bom!
[53]
Ainda está bom.
[54]
Mas penei muito [pausa] para a criar.
[55]
Mas nunca deixei
[56]
Eu vinha da fábrica [pausa] fazer a minha comida para tornar a ir no outro dia,
[57]
e lavava a minha roupinha,
[58]
mas também às onze da às onze horas da noite, eu acendia o meu ferro com as su- com as minhas brasas,
[59]
e em cima duma caixinha em cima duma caixinha, eu passava a roupa toda da minha filha.
[60]
E ela nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada ao ferro!
[61]
Agora Agora vai, que umas sobrinhas às vezes dão, ou coisa assim mais passageira, ou uns nylons, ou coisa assim,
[62]
escapa.
[63]
Mas em pequenina nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada a ferro.
[64]
Nunca lhe pus uma fraldinha que fosse!
[65]
Mas ela então também era muito limpinha!
[66]
De sete meses, nunca mais usou fraldas!
[67]
Fiz-lhe as suas calcinhas de calção- de calçãozinho com os seus elasticozinhos
[68]
Ela era muito
[69]
A gente gabava,
[70]
ficava muito engraçada!
[71]
Porque tinha-lhe feito muitos poderes,
[72]
urinava umas,
[73]
ia mesmo ao bacio ou a uma selhinha,
[74]
aquilo com uma camadinha de sabão, se punham num malheirinho [pausa] a enxugar,
[75]
nunca lhe faltou calças
[76]
e andava sempre composta
[77]
e nunca mais me deu trabalho a lavar fraldas nem a coar as fraldas.
[78]
Que as fraldas são muito engraçadas,
[79]
mas hão-de ser brancas.
[80]
Sendo encardidas, velhas, não se podem ver.
[81]
Agora é assim.
[82]
Mas então tinha a minha presunção de a criar bem criadinha!
[83]
INF2 Às vezes.
[84]
Agora nem me esquece bem como era as cantigas,
[85]
mas às vezes dizia também qualquer tolice.
[86]
Nunca foi pequena de pegar no sono no colo.
[87]
Chateava-me muito.
[88]
Nunca pude ir a lugar nenhum, fosse a um baile, ou a um lugar qualquer, porque ela nunca se acertava para pegar no sono no colo.
[89]
de viravoltas no colo
[90]
e punha-se de bruços, com os joelhos em cima das pernas
[91]
e nunca havia maneira de pegar no sono.
[92]
Que a gente quando pega numa criança, a gente deita-a por cima do bracinho fora,
[93]
e ela fecha os olhinhos para pegar no sono.
[94]
Esta nunca pegava no sono.
[95]
Sim senhora.
[96]
INF2 Eu nem sequer me recorda o que é cantar.

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