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Ribeira do Meio, excerto 28

LocalidadeRibeira do Meio (Lages do Pico, Horta)
AssuntoO porco e a matança
Informante(s) Celestina Boiardo

Text: -


[1]
INF1 Como é que eu preparo os bofes do porco?
[2]
Ele quando vem para a gente, eu lavo-os bem lavados, a ficar sem sangue nenhum.
[3]
Eles costumam a deitar água nos bofes.
[4]
Os bofes quando vêm para a gente, quando os vêem é brancos.
[5]
Parece que ele o porco não tem sangue nenhum.
[6]
A primeira vez que eu vi fazer aquilo, eu disse assim: [vocalização] "Os bofes do porco não prestam!
[7]
Estão muito brancos"!
[8]
Mas não é.
[9]
É os malditos que cortam os bofes
[10]
[pausa] e ainda enchem-nos de água.
[11]
INF2 E enchem-nos de água.
[12]
INF1 Estou-lhe a dizer,
[13]
ficam os bofes lavados que quem os parece que o que o porco não tinha sangue nenhum.
[14]
E pico aqueles bofes, muito bem picadinhos, miudinhos,
[15]
e escaldo-os;
[16]
e depois é que os levo para o lume para deitar os seus temperinhos dentro para fazer a molha dos bofes.
[17]
casas que fazem mais sopas de bofe,
[18]
mas eu não gosto de sopa de bofe.
[19]
Não a sei fazer.
[20]
Eu gosto muito de bofe,
[21]
mas não é em sopa!
[22]
E casas que fazem a molha de bofe.
[23]
INF1 A molha A molha de bofe?
[24]
Pois picam os bofes bem picadinhos
[25]
e aferve- fervem,
[26]
os bofes deitam aquela água fora, escorrida fora,
[27]
e depois pica-se um alho
[28]
e fazem um ao modo de uma vinha-de-alhos para e para deitar para dentro daquilo.
[29]
E é que fazem a molha do dos bofes.
[30]
E pessoas que deitam batata branca juntamente [pausa] para render mais os bofes.
[31]
INF1 O fígado é:
[32]
a gente aqui usam isto,
[33]
não sei se em todos os lugares usam assim, se não.
[34]
A gente faz é:
[35]
o fígado vem para dentro,
[36]
a gente faz os bifes,
[37]
picam os bifes, em cima duma tabuinha com a faca,
[38]
e e fazem dois molhos ao do bife.
[39]
Fazem um em cima no fogão, que é dentro dum tachinho, que é para acompanhar p- com o fígado;
[40]
e fora, a gente faz um molho cru, que a gente chama é molho cru.
[41]
Eu espremo um limão, [vocalização] deste limão tangerino que a gente chama tangerino, não sei como é que se chama , ou laranja azeda,
[42]
a gente espreme aqui
[43]
e deita uma coisinha de vinagre para ficar um molho mais forte,
[44]
e pisa um alho, malagueta, e uma coisinha de sal, que é para fazer aquele molho forte.
[45]
Porquê?
[46]
Que é para depois fritar e ir ao outro.
[47]
uma fervura no outro molho.
[48]
O outro molho é com uma coisinha de sal, de sal e alho pisado e malagueta,
[49]
e vai a ferver numa coisinha ou de óleo ou banha, conforme aquilo que queiram usar;
[50]
deita-se uma coisinha de calda;
[51]
deita-se temperos, aquele que quer deitar;
[52]
e está [vocalização], dão uma fervura dão uma fervura no [vocalização] no figado,
[53]
o fígado até fica mais tenro.
[54]
INF1 Rhum-rhum.
[55]
Para quem gosta gosta assim;
[56]
e quem gosta sem o molho, a gente põe num pa- num pratinho, enxuto o fígado enxuto.
[57]
INF1 Não.
[58]
Frito.
[59]
INF1 Frito, mas enxuto.
[60]
Porque pessoas que gostam do molho caldeado com o [vocalização] com o fígado e outros que não!
[61]
Pois.
[62]
INF1 Não.
[63]
Não se põe.
[64]
A gente não põe.
[65]
A gente faz aquele molho forte porque é para embarrar o fígado, para fritar.
[66]
Para depois usar, [vocalização] o outro é que a gente usa, está a perceber?
[67]
INF1 O outro é que a gente usa.

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