Representação em frases
Santa Justa, excerto 33
Texto: -
INF Então, fazia cântaros, fazia vasos, tachos, panelas, todas essas coisas.
Isto assim deste tipo, vasos para as flores, aquilo que está aí, barris, cântaros, [pausa] diversas coisas, não é?
Nesse Nesse tempo, [vocalização] era muito diferente do que é hoje.
E E até exactamente por a coisa se ter modificado é que nós abandonámos a arte.
INF É [vocalização] É que nós trabalhámos aqui em conjunto
e quando trab- começámos aqui, tínhamos, mais ou menos, um nível de vida escapatório:
tirávamos um ordenadozinho [vocalização] muito muito razoável!
Tirámos um ordenadozito como tirava qualquer outro operário: um pedreiro, um carpinteiro.
A gente safávamos-se aqui bem.
[vocalização] Depois [vocalização] a coisa começou assim a evoluir,
foi quando apareceram os alumínios.
Quando nós aqui trabalhámos, praticamente nem havia alumínios,
Só que Quem tinha [vocalização] uma peça de alumínio era, às vezes, só para compor,
Depois apareceram os alumínios assim em grandes quantidades e [vocalização] a preços bons também, preços acessíveis,
quer dizer que começou a, a castigar começou a castigar a arte do do oleiro.
A gente chegámos aqui a pontos [vocalização]…
Porque aqui isto era é uma zona [vocalização] que se trabalha muito no campo, uma zona agrícola, muito –
ele aqui há pouca fábrica –
é muito uma zona agrícola.
E [vocalização] E então panelas assim daquele género, aquilo gastava-se para ali milhares de panelas.
Que as pessoas coziam no campo – e mesmo cá em casa!
[vocalização] Nesse tempo até se usava pouco fogão.
E E então, mesmo até no fogão, trabalhavam.
Alguns poucos que havia trabalhavam com a louça de barro.
Depois apareceu o alumínio;
o alumínio [vocalização] primeiro começou a aparecer com boa qualidade;
depois era já mesmo com má qualidade, mas muito barato,
A gente chegávamos a pontos de [vocalização] só fabricarmos já era vasos para flores e e cântaros para a água, porque o alumínio não não prestava para a água.
E depois começámos a não ter escoamento do produto.
Tínhamos de ir levá-lo daqui para longe:
a gente chegámos a ir levar…
[vocalização] Carregámos muito ali para Montargil, ali para aquelas zonas, ali mais para o Alentejo, porque aqui não não se escoava o produto.
Então começámos a ter dificuldade [vocalização] n- no ordenado.
como era só a fabricar aqueles dois tipos de produto e [vocalização] com pouco escoamento dele – às vezes tínhamos aí quantidades de louça armazenada, porque não tinha escoamento.
E E começámos a pensar que que a vida assim que estava mal.
A gente já já ganhávamos menos do que do que um qualquer indivíduo que trabalhava aí no campo.
[pausa] E depois o meu pai foi um homem que toda a vida fez searas no campo –
toda a vida trabalhou no campo
e toda a vida fez searas –
e [vocalização] nós até tínhamos cegueira com aquilo, pois fomos criados naquilo.
Começámos a pensar em, em ir em ir para o campo, em ir para as searas.
Quer dizer que depois ainda, ainda os primeiros anos ainda fizemos searas de tomate, searas de arroz
e trabalhámos aqui nos períodos que a gente via que tinha assim mais rentabilidade.
Por Por períodos assim como na Primavera, que dava mais rentabilidade e que o produto também se vendia melhor, porque era nas entradas dos serviços, vendia-se muito cântaro, muita coisa.
INF Ainda fizemos assim dois anos.
Mas depois começámos a ver que tínhamos muito mais lucros [pausa] a tratar de tomate e arroz que tínhamos na, na na oficina de olaria
e pensámos em em abandonar a oficina.
Hoje [pausa] já [vocalização] há cerca de vinte cinco, vinte seis anos –
não tenho bem, bem isso coiso,
mas deve ser isso, tudo, aí uns vinte e seis anos, com certeza.
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