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Santa Justa, excerto 33

LocationSanta Justa (Coruche, Santarém)
SubjectO oleiro
Informant(s) Dagoberto
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Maria Lobo
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Então, fazia cântaros, fazia vasos, tachos, panelas, todas essas coisas.
[2]
Isto assim deste tipo, vasos para as flores, aquilo que está , barris, cântaros, [pausa] diversas coisas, não é?
[3]
Nesse Nesse tempo, [vocalização] era muito diferente do que é hoje.
[4]
E E até exactamente por a coisa se ter modificado é que nós abandonámos a arte.
[5]
INF É [vocalização] É que nós trabalhámos aqui em conjunto
[6]
e quando trab- começámos aqui, tínhamos, mais ou menos, um nível de vida escapatório:
[7]
tirávamos um ordenadozinho [vocalização] muito muito razoável!
[8]
Tirámos um ordenadozito como tirava qualquer outro operário: um pedreiro, um carpinteiro.
[9]
A gente safávamos-se aqui bem.
[10]
[vocalização] Depois [vocalização] a coisa começou assim a evoluir,
[11]
apareceu os alumínios
[12]
foi quando apareceram os alumínios.
[13]
Quando nós aqui trabalhámos, praticamente nem havia alumínios,
[14]
não havia
[15]
que Quem tinha [vocalização] uma peça de alumínio era, às vezes, para compor,
[16]
nem se servia dela.
[17]
Depois apareceram os alumínios assim em grandes quantidades e [vocalização] a preços bons também, preços acessíveis,
[18]
quer dizer que começou a, a castigar começou a castigar a arte do do oleiro.
[19]
A gente chegámos aqui a pontos [vocalização]
[20]
Porque aqui isto era é uma zona [vocalização] que se trabalha muito no campo, uma zona agrícola, muito
[21]
ele aqui pouca fábrica
[22]
é muito uma zona agrícola.
[23]
E [vocalização] E então panelas assim daquele género, aquilo gastava-se para ali milhares de panelas.
[24]
Que as pessoas coziam no campo e mesmo em casa!
[25]
[vocalização] Nesse tempo até se usava pouco fogão.
[26]
E E então, mesmo até no fogão, trabalhavam.
[27]
Alguns poucos que havia trabalhavam com a louça de barro.
[28]
Depois apareceu o alumínio;
[29]
o alumínio [vocalização] primeiro começou a aparecer com boa qualidade;
[30]
depois era mesmo com qualidade, mas muito barato,
[31]
reduziu reduziu a louça.
[32]
A gente chegávamos a pontos de [vocalização] fabricarmos era vasos para flores e e cântaros para a água, porque o alumínio não não prestava para a água.
[33]
E depois começámos a não ter escoamento do produto.
[34]
Tínhamos de ir levá-lo daqui para longe:
[35]
a gente chegámos a ir levar
[36]
[vocalização] Carregámos muito ali para Montargil, ali para aquelas zonas, ali mais para o Alentejo, porque aqui não não se escoava o produto.
[37]
Então começámos a ter dificuldade [vocalização] n- no ordenado.
[38]
É claro,
[39]
como era a fabricar aqueles dois tipos de produto e [vocalização] com pouco escoamento dele às vezes tínhamos quantidades de louça armazenada, porque não tinha escoamento.
[40]
E E começámos a pensar que que a vida assim que estava mal.
[41]
A gente ganhávamos menos do que do que um qualquer indivíduo que trabalhava no campo.
[42]
[pausa] E depois o meu pai foi um homem que toda a vida fez searas no campo
[43]
toda a vida trabalhou no campo
[44]
e toda a vida fez searas
[45]
e [vocalização] nós até tínhamos cegueira com aquilo, pois fomos criados naquilo.
[46]
Começámos a pensar em, em ir em ir para o campo, em ir para as searas.
[47]
Quer dizer que depois ainda, ainda os primeiros anos ainda fizemos searas de tomate, searas de arroz
[48]
e trabalhámos aqui nos períodos que a gente via que tinha assim mais rentabilidade.
[49]
Por Por períodos assim como na Primavera, que dava mais rentabilidade e que o produto também se vendia melhor, porque era nas entradas dos serviços, vendia-se muito cântaro, muita coisa.
[50]
INF Ainda fizemos assim dois anos.
[51]
Mas depois começámos a ver que tínhamos muito mais lucros [pausa] a tratar de tomate e arroz que tínhamos na, na na oficina de olaria
[52]
e pensámos em em abandonar a oficina.
[53]
E abandonámos.
[54]
Hoje [pausa] [vocalização] cerca de vinte cinco, vinte seis anos
[55]
não tenho bem, bem isso coiso,
[56]
mas deve ser isso, tudo, uns vinte e seis anos, com certeza.

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