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Fontinhas, excerto 68

LocalidadeFontinhas (Praia da Vitória, Angra do Heroísmo)
AssuntoO linho, a lã e o tear
Informante(s) Celisa Camolino Elódio

Text: -

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[1]
INF1 Dúzias, dúzias de pessoas, sim, então!
[2]
INF2 Agora cá.
[3]
INF1 E [vocalização] E depois fiávamos,
[4]
ficava numa maçaroca,
[5]
a gente ensarilhava no tal sarilho – num sarilho também –
[6]
e depois [vocalização] fazia-se barrelas,
[7]
botava-se ao sol…
[8]
INF1 Ficava numa meada.
[9]
INF1 Ficava numa meada.
[10]
E depois a gente botava lavava-o,
[11]
botava-o ao sol…
[12]
INF1 Para Depois era alvinho.
[13]
INF1 Porque depois era alvo, que aquilo ficava negro.
[14]
INF1 A gente botava-lhe era cuspo da boca.
[15]
INF1 Eu cá Eu cá, eu trazia era uma uma aguinha num num copo,
[16]
e minha irmã – Deus lhe dê o céu – trazia era uma aguinha num copo, que diz que já estava seca da boca, que não podia botar mais cuspo.
[17]
E assim é que a gente fazia!
[18]
INF2 Era.
[19]
INF1 E [vocalização] dobava-se,
[20]
depois de estar alvo, dobava-se
[21]
e urdia-se teias
[22]
e botava-se.
[23]
INF3 E as barrelas, tia Celissa?
[24]
INF1 E barrelas.
[25]
Barrelas naquela fia– naquela fiadura.
[26]
INF1 A cinza…
[27]
INF1 Ora a gente [vocalização] botava uns cestos grandes assim,
[28]
e a gente botava uma mantinha de roda, que era para não apanhar [vocalização] aqueles vimes, porque o cesto era de vimes…
[29]
INF1 E depois para não puxar os fios, botavam uma coisinha de roda
[30]
e botavam aquele linho todo emedadinho, por ali arriba, às meadas, até ele ficar assim alto.
[31]
Só ficava assim uma alturazinha para botar a cinza – cinza de faia.
[32]
Botávamos um sarredouro,
[33]
e botávamos mais cinza em cima e água a ferver para riba.
[34]
Três ou quatro tachos, era conforme [pausa] se podia.
[35]
INF3 E essa cinza, que era o fim dela?
[36]
INF1 O quê?
[37]
INF3 Ele para que é que servia a cinza na no linho?
[38]
INF2 Era deitada fora, [pausa] botada fora.
[39]
INF1 A cinza, [vocalização] botava-se fora, então.
[40]
INF3 Mas o que é que fa-?…
[41]
Que bem que fazia ao linho?
[42]
INF1 Tirava aquela negrigência!
[43]
INF3 Ah, era para para alvejar?!
[44]
INF1 Era para alvejar, era.
[45]
Era para alvejar.
[46]
Era cinza só de faia!
[47]
Não se queimava outra coisa.
[48]
INF1 Era melhor só a cinza de faia.
[49]
Tirava aquela negrigência.
[50]
INF1 Já a gente quando aquilo estava frio no outro dia – mas era se estava frio –, a gente ia com ele para a pia,
[51]
e [vocalização] e lavávamos,
[52]
já ele fazia uma diferença brava.
[53]
E botávamo-lo a corar por cima das paredes ao sol.
[54]
Dali a oito Dali a dias, tornávamos a fazer outra barrela,
[55]
tornavámos a fazer o mesmo, da mesma maneira.
[56]
Tornavam a lavar,
[57]
tornavam a botar ao sol, até ele ficar alvo.
[58]
Ele ficava alvo, alvo!
[59]
INF2 É assim, é.
[60]
INF1 Era o linho.
[61]
INF2 Não tens nenhuma aí, não é?
[62]
INF1 A estopa.
[63]
INF2 Não tens nenhuma aí?
[64]
INF1 Porque então [vocalização] O senhor sabe.
[65]
O linho tenho ali naquela naquela saca.
[66]
O linho tinha…
[67]
INF1 Havia um sedeiro com pregos assim, [vocalização] um bocadinho assim,
[68]
INF1 e assim.
[69]
Assim, assim como a…
[70]
Assim.
[71]
INF1 E a gente quando aquilo estava curado, quando aquilo estava a modos que a gente acabava de tasquinhar e tudo, ia-se assedar o linho assim.
[72]
INF2 Eu gostava era só disso.
[73]
INF1 O que ficava atrás era a estopa.
[74]
INF2 Mulher, onde é que eu tenho isso?
[75]
INF1 É ali atrás, naquela saca branca.
[76]
INF2 É aonde, mulher?
[77]
INF1 E o que E o que ficava…
[78]
INF3 Naquela branca lá atrás, naquela branca.
[79]
INF1 Naque- Naquela lá atrás, sim.
[80]
INF3 Branca.
[81]
INF2 Ah!
[82]
INF3 Deixe-se Deixe estar,
[83]
deixe-se deixe estar.
[84]
INF1 E ao que ficava ao que ficava a s-, a ge- a gente fazia assim com isto, desta maneira, no tal sedeiro, [pausa] assim.
[85]
O que ficava para ali era a estopa, e o que ficava na mão era o linho.
[86]
A gente torcia como quem torce uma torcida de tabaco…
[87]
INF1 E [vocalização], e o E apartávamos à parte.
[88]
Era então,
[89]
urdia-se colchões com ele e…
[90]
INF1 Com o linho, sim senhora.A gente cá
[91]
INF1 A estopa tapava, como como aqui se está tapando, assim…
[92]
E também se tapava com estopa ou linho, ou lá o que quisessem – de colchães ou uma coisa assim –,
[93]
também se tapava.
[94]
E também se urdia com a estopa se ela era rija!
[95]
Agora se ela era mais podre, ninguém podia urdir com ela, que não se podia tecer,
[96]
que a gente bota os pés em cima,
[97]
ela desapegava toda
[98]
e ia-se embora.

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