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Fontinhas, excerto 69

LocalidadeFontinhas (Praia da Vitória, Angra do Heroísmo)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Camolino Celisa

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[1]
INF1 Pois a gente para aqui, [vocalização] com respeito à lavoura, a gente se for a principiar no princípio, no princípio, tem um romance muito grande.
[2]
Porque hoje
[3]
A lavoura hoje, a lavoura hoje está boa.
[4]
Mas no princípio não aboava.
[5]
No princípio, era economizar.
[6]
[pausa] O fulano fazia um prédio de renda [pausa]
[7]
Até eu vou dizer ao senhor
[8]
INF1 [vocalização] Eu vou dizer ao senhor ainda duma outra maneira:
[9]
[vocalização] fazia-se um [vocalização] pequeno pasto
[10]
Fazia-se um alqueire de pasto [pausa] por dois escudos e meio.
[11]
Bom, é como hoje uma moeda de dois escudos e meio,
[12]
não sei se no continente também ?!
[13]
INF1 Mas é uma moeda de dois escudos e meio,
[14]
mas naquele tempo era, em dinheiro, fraco o senhor está percebendo o que é?
[15]
INF1 Um alqueire de pasto por dois escudos e meio, um alqueire de terra [pausa] a saco a saco, é seis alqueires
[16]
Os senhores há-de ser outra conversa,
[17]
mas a gente é aqui é.
[18]
INF1 E de maneira que isto agora foi trepando por acima.
[19]
Foi trepando,
[20]
foi trepando,
[21]
foi trepando que hoje arrenda-se um alqueire de pasto a mil e quinhentos escudos, ?!
[22]
Veja o senhor, de dois escudos e meio [pausa] para este dinheiro, a que é que se chegou, ?!
[23]
INF1 As terras é a mesma cousa:
[24]
mil escudos, mil e quinhentos.
[25]
Naquele tempo dos tais dois escudos e meio, [vocalização] semeava-se um cerrado.
[26]
[pausa] A terrinha mais fraca era para o tremoço, ou cevada, ou [vocalização] umas favas de grão;
[27]
e a terrinha melhor, a gente ia cultivar com umas soquinhas de milho, mas tudo em fraco, porque não havia o dinheiro para botar o adubo.
[28]
Hoje semeia-se em qualquer uma parte,
[29]
sempre muito porque o adubo é que faz dar está o senhor percebendo o que é?
[30]
INF1 E agora naquele tempo não era assim.
[31]
Naquele tempo era miséria!
[32]
Naquele tempo era miséria!
[33]
Mas hoje é uma abundância em tudo.
[34]
Eu tive aqui neste curral, aqui de diante, e numa hortazinha que estava aqui
[35]
[pausa] Eu tenho ali batatas naquela casa
[36]
[pausa] e vendi dez sacas de batatas!
[37]
da metade do que esta produziu aqui que a outra metade foi para casa dum filho meu ali para a banda de baixo esta terra, , um nada de terra,
[38]
INF1 produziu isto tudo!
[39]
Porque é?
[40]
O adubo que se botou.
[41]
Se não se botasse o adubo não não havia.
[42]
Porque naq- naquele tempo semeava-se um bocadinho de batatas,
[43]
mas era na terrinha mais fraca, que a melhor era para semear umas soquinhas de milho para a gente comer.
[44]
INF1 Era na terrinha mais fraca!
[45]
Não levava adubo,
[46]
não levava nada,
[47]
que é que havia de dar?!
[48]
Então naquele tempo, a gente dizia: [pausa] "Homem!
[49]
[pausa] É batata-carvalha!
[50]
É batata-rainha"!
[51]
E era as sementes daquele tempo.
[52]
Hoje não é assim.
[53]
Hoje vai-se ao grémio da Praia [vocalização] para arrolar batatas, para vir de fora para aqui.
[54]
querem sementes novas.
[55]
Sem- Trazem este ano semente nova,
[56]
semeia-se;
[57]
para o ano carece trazer outra.
[58]
Usam daquela,
[59]
mas carece trazer outra para ir reformando, para ir dando a senhora está percebendo o que é?
[60]
INF1 Senão [vocalização] É que ele as coisas hoje estão diferentes dominado à moeda.
[61]
A moeda é que está fazendo isto.
[62]
Se não houvesse a moeda como não havia naquele tempo, [pausa] não se fazia isto.
[63]
Mas naquele tempo não havia a moeda,
[64]
era se fosse com estrume ou ou uma coisa qualquer que é que podia dar.
[65]
De resto ele mais não dava.
[66]
Era
[67]
Era penar!
[68]
Naquele tempo era penar!
[69]
Hoje está tudo na lavoura,
[70]
está tudo nos terrenos, tudo dominado ao adubo.
[71]
Hoje talvez se crie txhh!, eu não quero mentir mas , talvez mais duas partes ou mais do que o que se criava naquele tempo.
[72]
INF1 Porque é?
[73]
Os terrenos é os mesmos.
[74]
É o adubo é que não é o mesmo, porque naquele tempo não havia adubo e hoje o adubo.
[75]
para o dobro de sustentar os [vocalização] animais que havera de sustentar, está o senhor percebendo o que é?
[76]
INF1 Hoje as coisas estão todas assim desta maneira.
[77]
A gente naquele tempo, os animais [pausa] eram esfregados
[78]
e a gente
[79]
Porque [vocalização] era tudo trabalhado com os animais.
[80]
Ainda tenho ali uma grade, [vocalização] cangas, tamoeiros, [vocalização] coisas ainda daquele tempo.
[81]
Era a gente
[82]
Moía-se com os animais
[83]
Elas faziam lama, que apanhavam mau tempo amarradas naqueles lugares,
[84]
faziam lameiro para ali,
[85]
aquela lama secava, sem lhe poderem chegar a ela,
[86]
a gente ia para ela com os animais,
[87]
era seca!
[88]
Arrebentava torrãzada para ali!
[89]
Que depois a gente ia para partir aquilo,
[90]
às vezes até era com o próprio malho de bater nas estacas,
[91]
a gente ia batendo naqueles torrães para ver se explodia aquilo!
[92]
E depois com as grades é que gente ia partindo aquilo!
[93]
Era penar!
[94]
Hoje não se pena!
[95]
Hoje a gente chega ao cerrado,
[96]
senta-se assim contra a parede,
[97]
está o tractor [pausa] para trabalhar a terra!
[98]
Acaba de trabalhar a terra, a gente
[99]
Ou [vocalização] mesmo hoje quem faça isso com um cavalo, [pausa] outros com uma junta de reses.
[100]
Abrem o rego,

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