Representação em frases
Vila Praia de Âncora, excerto 38
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INF Olhe, eu vou-lhe contar.
Isso passou-se por mim, hem.
Passou-se com a falecida minha mãe.
e não tínhamos sorte nenhuma na pesca, nada, nada, nada.
E os outros vinham todos cheios de sardinha – fosse qualquer peixe.
também foi na colónia acolá em Caminha, aos sáveles.
Que faz uma ocasião a minha mãe?
Já faleceu perto de trinta anos.
Não sei adonde é que foi ela buscar [pausa] um chamado alecrim, alecrim.
INF E depois o que ela fez?
Nós é que éramos o mestre!
O barco era nosso e doutro camarada!
O meu pai é que era o mestre!
O barco era por acaso era nosso.
E o que fez o meu pai a minha mãe?
Embrulha aquilo a um p-, a um a um pano,
amarrou aquilo amarradinho,
Dantes havia aquelas algibeiras – umas algibeiras para pôr o dinheiro,
[vocalização] O miúdo, o miúdo, o O dinheiro miúdo assim em moeda ia para o de baixo, que era maior,
e aqueles mais notas era para o de cima para não para não perder.
Umas algibeiras aqui amarradas amarradas à cinta…
Tinha assim uma com um fio,
amarrava as algibeiras aqui à cinta.
E andávamos andava com aquelas algibeiras…
Botou aquilo – sem nós sabermos –,
botou aquilo à algibeira.
E o barco estava assim em cima, em cima dos paus.
Olhe, passava eu acolá o sargaço – acolá na praia já o sargaço, olhe.
Vê acolá o sargaço que está na praia?
INF Olhe, começa pelo menos, aparece já,
vai arrancando, vai aparecendo.
E o que faz a minha falecida mãe?
Escondido de nós, que não sabíamos de nada.
Vai acolá, à tal cadeira, onde tinha as redes [pausa] do barco,
alevantou um bocadinho de rede de sardinha,
e, na cortiçada, amarra aquilo sem nós sabe- – aquele embrulhinho.
Bem, meu pai deu ordem para irmos para o mar
e nós íamos à sardinha era assim [pausa] à noitinha…
Aí, antes [pausa] duas ou três horas antes de pôr o sol.
INF É o assejo, botar o assejo.
nós a botar a rede ao mar, [pausa] lá vai aquilo, agarrado à rede e vai assim: aaaai!
E nós ficámos como a noite.
"Ai que maroteira nos fizeram, ai Jesus, agora sim"!
Ó minha senhora, se veio se veio sardinha foi naquele dia.
Jesus, que de sardinha caçámos!
Ai, que de sardinha, meu Deus!
Depois viemos nós a saber que foi a minha mãe que botou aquele alecrim, aquele embrulhinho, agarrado à rede.
INF Eu não sei o que ela fez, minha senhora,
Eu só só sei, porque ela pelo que ela nos contou, que ela foi pôr aquilo lá.
E outra ocasião – vou-lhe contar, hem.
Eu era Nesse tempo era solteiro.
Fomos para a aceifa dos sáveles em Caminha, po- para a aceifa do sável.
era um, dois, três sáveles,
e os outros eram aos dez, quinze, vinte sáveles.
Ai que de sáveles pilhou aquele!
Pouco dava para comermos!
O que eu lhe digo [pausa] é que eu estava a dormir, descansadinho, que aquilo era aquela pesca era de noite.
E era remar contra a maré, hem, que ali não havia motores!
quando havia ventos sus é que era para irem por o rio acima, porque que os ajudava.
Mais a mais, era tudo a remo, contra a maré, hem!
Os nossos pulmões era um eram caso sério.
E as comidas eram fracas!
E nós não caçávamos peixe nenhum, também!
Um, dois, três sáveles… ai um… raio!
E eu, uma ocasião, estava a dormir – a dormir o meu sono tão bem… ai! –,
o que eu depois senti foi uma mulher passar comigo por cima de mim, sem calças sem nada – nua, assim, uma mulher.
INF Eu estava a dormir, desculpe que lhe diga isto, hem,
INF [vocalização] a dormir,
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