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CBV29

Cabeço de Vide, excerto 29

LocationCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
SubjectNão aplicável
Informant(s) André
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)João Saramago Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF Porque eu sou natural de Cabeço de Vide [pausa] mas o meu pai era natural de Pedroso [pausa] e a minha mãe era natural da Beira. [pausa] Está a perceber? E então, quer dizer, isto é tudo enxertias.

INQ1 É tudo enxertias.

INF E então, quer dizer, tenho lidado [pausa] com várias pessoas: umas duma maneira, outras doutra; umas com um pensar, outras com outro pensar [vocalização] Eu sou um E eu gosto de conversar e de me entender com toda a gente porque não nada mais bonito [pausa] que é a boa união.

INQ1 Exactamente.

INF Não nada que chegue a isso. Nada! A boa união [vocalização] faz tanta falta como a saúde.

INQ2 É, é mesmo.

INF A saúde é a parte principal que faz falta, porque, se a pessoa não tiver saúde, não tem alegria, não tem nada. Tudo se estraga. [vocalização] E o fulano também se estiver metido [vocalização] inimigado com esta pessoa, com aquela, com a outra, com a outra [vocalização], às duas por três, passa por uma data de gente, isso é tudo inimigos não, ninguém. Ninguém quer falar. E então, não nada mais prático que é a boa união. Eu, uma ocasião, [pausa] enganaram-me. Fui daqui a Portalegre, [pausa] procurando por um especialista de ossos. [vocalização] E a informadora era uma pessoa que estava a passar [vocalização] bilhetes para para ir a este médico, ou para ir àquele e diz-me assim: " indo aqui ao ao Doutor Balcão". [pausa] "Então mas como é que se ele chama? É Doutor Balcão"? "É Doutor Balcão. O senhor tem de trazer uma credencial". Eu vim , pedi uma credencial ao doutor, que é essa estátua a que está ali no largo. E diz-me ele assim para mim: "Ó rapaz! Eu muito tempo que não caminho para o lado de Portalegre, mas parece-me que tu que estás enganado. [pausa] Não conheço nenhum Doutor Balcão". Mas eu tinha confirmado que ela que me tinha falado em Doutor Balcão. Eu digo: "Ó Senhor Doutor, eu Falaram-me em Doutor Balcão". "Está bem. A gente passa a credencial". Cheguei apresentei a credencial à pessoa. A pessoa esteve a ler aquilo e diz-me assim para mim: "Então donde é que você é"? "Sou de Cabeço de Vide". "Os de Cabeço de Vide estão para a dormir"? E digo eu assim para ela: "Então porquê"? [pausa] "Então, vem aqui Doutor Balcão. Então aqui algum Doutor Balcão"? [pausa] E eu faço aqui assim: "Então, donde é que a senhora é"? "Eu sou de Portalegre". "Então, olhe, eu não sei os quais é que estão a dormir, se são os de Portalegre, se são os de Cabeço de Vide. Até me parece que é os de Portalegre. Tal dia assim assim, estive eu aqui e foi você que me informou para o Doutor Balcão". [pausa] Mas eu fiquei esmarafado, [pausa] ia-me embora. Vai uma senhora qualquer, agarra-me aqui assim por um braço: "Onde é que você vai"? "Vou-me embora". "Não, não vai-se embora. Você peça à bilheteira e ela tem que lhe arranjar a consulta. Ela é que lhe deu cabo da consulta a você e ela é que tem que lha fazer". . [pausa] Eu digo: "Então, está bem"! Volto para . [pausa] Quando, a, aqu- Aquilo era bichas! Quando chegou à Quando cheguei outra vez e diz ela: "Então o que é que você quer"? "Quero que você me arranje a consulta. Você é que ma estragou". [pausa] "Espere um bocadinho". O número três.

INQ2 Ora .

INF Mas se não é a outra mulher, eu vinha-me embora. Estava um homenzinho, que era aqui de Santo Amaro, o homem deu por aquilo tudo. Mas a consulta era às três horas. Venho para baixo, assento-me ali num banco. [pausa] Estava o homenzinho, estava assentado além num banco, e eu fui, passei pela banda, fui-me assentar noutro banco, mais abaixo. Depois de estar assentado, o homem levanta-se 'daonde' estava [pausa] e foi-se sentar ao de mim. E diz-me assim para mim: "Ouça , então o senhor [pausa] se desentalou"? [pausa] Eu [pausa] parece que nunca tinha-o visto mais gordo, digo assim: "Então me desentalei de quê? Diga ". "Então não era você que estava à rasca ali, que não tinha consulta"? "Ai, eu , mas eu arranjei consulta". Disse eu para o homem: "Eu arranjei consulta". E o homem faz-me assim para mim: "Você se arranjou. eu é que me calha tão mal e não sou capaz de me arranjar". Digo eu assim: "Então, mas o que é que você queria? O que é que você vinha à procura"? "Ora, o que eu vinha à procura era tirar um dente mas cheguei ali passaram as senhas todas. Venho de Santo Amaro para aqui, estou num monte, custaram caro a arranjar outra pessoa para ficar no meu lugar, agora chego aqui Paguei o transporte para , vou pagar o transporte para e não e não tiro o dente. E ando à rasca com o dente, c- com dores de dente". Digo assim: "Então você estava disposto a, a arranc- a [vocalização] pagar a tiragem dum dente"? "Eu estava, sim senhor. Assim arranjasse uma pessoa" Digo eu assim: "Venha comigo num instante". [vocalização] Eu olhei para o relógio, vi que aquilo " está mesmo, com certeza, na hora de ele fechar a porta. Marche"! Chego ao fundo da escada, bati, chega uma senhora ao cimo da escada e diz aqui assim: " parou a consulta". E eu faço a queixa: "Ó minha senhora, eu não venho para ser consultado. Eu venho para pagar uma dívida ao Senhor Doutor".

INQ2 Ha, ha, ha!

INF [pausa] Não, mas é que era de verdade que eu devia.

INQ2 Ah!

INF Devia o arranjo de uma uma placa. [vocalização] "Então suba". Mas eu pus assim as mãos detrás das costas e fiz assim ao outro.

INQ2 Para ir atrás de si.

INF E o outro subiu [pausa] escada ac- coiso. Que eu tinha confiança com o médico!

INQ2 Pois claro.

INF [vocalização] Entrei para dentro e digo: "Ó Senhor Doutor, desculpe de eu não ter pago mais tempo, mas eu vim aqui em tal tempo assim assim e o senhor não estava . Entrei além em casa do seu vizinho e ele procurou-me se eu sabia quanto é que era a conta que eu devia, que podia deixar o dinheiro, q-, que o senhor doutor, que que era entregue o dinheiro. Mas o Senhor Doutor não me disse quanto é que era que eu tinha a pagar. E então, olhe, eu não deixei o dinheiro porque eu não sabia quanto é que tinha a pagar. Agora venho procurar ao Senhor Doutor quanto é que eu tenho a pagar". E e- E o homem faz-me assim para mim: "Olhe, pela sua prontidão, não é nada". [pausa] "Ó Senhor Doutor, veja se fica mal". "Não, não fico mal". "Ó Senhor Doutor, mas eu queria-o incomodar noutra coisa". "Diga o que é". "Está aqui uma pessoa assim assim, que foi ao coiso p- e gastaram as senhas todas. O homem está à rasca com uma dor de dentes. O Senhor Doutor não fazia o favor, mesmo pagando que o homem pagava , tirava-lhe o dente"? "Diga ao homem que eu tiro". [pausa] Oh! O homem [vocalização] estava atrás de mim, digo eu assim: ", entre". O homem entrou, tirou-lhe o dente. "Então, quanto é"? "Não é nada".

INQ2 Esse ganhou o dia.

INF Depois eu marchei pela Rua do Comércio abaixo e o homem atrás de mim a falar sozinho. O homem a dizer assim: "Mas então, eu não conheço o homem de lado nenhum [pausa] e agora o homem faz-me um trabalho destes?! Mas então o que seria isto? Isto seria algum milagre de Deus"? O homem a falar sozinho! Chega em baixo, de perto da árvore e diz-me ele assim: "Vamos ali beber um copo". Digo: "Olhe, eu acabei de beber agora. vomecê beber o copo. Ouça , você está contente ou não está contente"? "Estou, sim senhora". "Eu também estou contente à mesma. Pronto"!


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