INQ Então que animal é que os homens usavam para ir buscar o leite, quando tinham as vacas mais longe e isso?
INF Ora, [pausa] pois os animais eram os burros. Mas só que [vocalização] ainda antes dos burros, as pessoas iam era a pé. As nossas pastagens aqui Tosse – desculpe! –, as nossas pastagens aqui vão até à porta da caldeira. [vocalização] Os cerrados eram muito mal trabalhados… Tinham Eram muito mal trabalhados, não; eram muito bem trabalhados, mas eram muito [pausa] de cabeço. Era tudo muitos cabeços. E [vocalização] tinha muitas ramas muitas… E eles trabalhavam a cavar mas à enxada. Juntavam-se vinte, trinta homens, iam ajudar uns aos outros para cavar os cerrados, para fazer vale, para poderem mudar os gados. Ora até há quarenta e [vocalização] poucos anos, quarenta e qualquer coisa – não, já há perto de cinquenta anos –, que não havia nada senão erva e [vocalização] e tremoço. Deitava-se tremoço nos cerrados até à borda da caldeira. Depois é que apa- começaram a aparecer os trevos… Os trevos começaram a aparecer aí por volta de quarenta e [vocalização] e cinco, quarenta e seis anos. Há quarenta e seis, quarenta e sete anos é que começou a aparecer os primeiros trevos que se semearam aí. Por acaso, foi o meu pai das primeiras pessoas que começou a semear trevo aqui no [pausa] no nosso lugar. Ora, as pessoas iam trabalhar os cerrados, [pausa] e [vocalização] e tinham as vacas nos cerrados, [pausa] e alguns ficavam de noite. [pausa] E de manhã vinham para baixo com o leite e [vocalização] , às costas, em canecas, que se usavam canecas. Também estão as canecas lá no artesanato, no, no na casa de [vocalização] de artesanato. Portanto, [pausa] as pessoas ele Pouco leite! Uma pessoa que vendesse vinte litros de leite era um grande lavrador, naquele tempo. Depois começaram a aparecer os burrinhos mas nem toda a gente tinha burro. [vocalização] Iam [pausa] com as canecas às costas para o mato, outros levavam os seus burrinhos, alguns ajudavam a trazer os leites dos outros para baixo nos seus burros. Então de não haver burros não é dos meus dias. [vocalização] Já quando eu [vocalização] me criei e me comecei a conhecer, quase toda a gente tinha burro. Eu só conhecia dois lavradores aqui nos nossos arredores que não tinham burro. Os outros tinham; uns maiores, outros mais pequenos, tinham. Depois começou então a aparecer já a raça cavalgar, que então já faziam viagens muito mais rápidas, e faziam… Ajudavam Calivavam os milhos nas terras. [vocalização] Então era: [pausa] de manhã tinham aqui em baixo, uma, duas, três vaquinhas, [pausa] mais perto, tratavam delas de manhã, e as que ficavam no mato, só iam uma vez ao dia. De manhã iam para cima, levavam logo os seus farnéis, os seus jantarinhos, que era a tal linguiça que estava reservada para quando se tinha o gado no mato, para levarem o jantarinho, que levavam um torinho de linguiça para comerem. Ta- Passavam o dia no mato, no cerrado. Alguns descansavam e muitos trabalhavam todo o dia a cavar os cerrados para fazer sempre o cerrado maiorzinho. E à tarde arrumavam a… De manhã mu- mudavam as vacas. As vacas eram atadas à reira. Comiam tremoço. À noite deixavam-nas na erva, mas era nessas ervas vulgares que há aí. Não era nada de pastagem. À tarde, [pausa] deixavam-nas arrumadas e vinham para baixo. Quer dizer, o que porque havia mesmo muita gente, o que era a tratar do gado do mato só fazia aquilo. Os outros ficavam a cavar os milhos aqui mas normalmente. E eram normalmente os rapazes novos que – iam as lavadeiras lavar para a ribeira – tratavam o gado, namoravam e [vocalização] e, às vezes, ajudavam a trazer os cestos das roupas às lavadeiras.
INQ Pois.