INQ1 O João é que conhece bem as coisas da baleia, portanto, dos Açores.
INF Sim, para [vocalização] fazer as pergun-.
INQ1 Conhece bem, conhece mais ou menos.
INF Para fazer as perguntas?
INQ1 Não, era para saber como é que era.
INF Pois. [vocalização] A gente já sabe que [vocalização] tinha-se uma fábrica. [pausa] de baleia [vocalização].
INQ1 Pode-se fechar a televisão?
INQ2 Pode-se fechar agora?
INF Ah, feche, feche, feche. Feche a televisão. Feche a televisão.
INQ3 Está bom. Está bom. Está sem o som, é o que interessa.
INF [vocalização] Já sabe que [vocalização] eu trabalhei trinta e cinco anos lá, na nessa empresa da baleia. [pausa] E era [vocalização] mestre-calafate. [pausa] E [vocalização] arreava a baleia. [pausa] A [vocalização] coisa [vocalização] Quando havia alguma avaria no mar com [vocalização] a baleeira que partia – com as baleias, às vezes, partia algumas –, e eu [vocalização] e eu é que construía [vocalização] as baleeiras. E [vocalização] E a coisa quando havia as baleias, já sabe que [vocalização] tinha que cortar. Ia ajudar a cortar. Ia ajudar aí aos outros rapazes, pois.
INQ3 Pois Desde que aparecia…
INQ1 Mas ia mesmo na pesca?
INF Na pesca, sim. [pausa] Pois.
INQ1 Também?
INQ3 Pois. Quando aparecia uma baleia lá ao longe, o que é que havia aqui em terra e quem é que via a baleia e isso?
INF Tinhamos Tinha-se um vigia lá no monte –. [pausa] lá em cima naquele cabeço –, [pausa] um [vocalização] vigia [pausa] que [vocalização] [vocalização] olhava para asua para a sua área – aquilo aqui na de sul e norte. E tinha outros vigias. Tinha na Ponta do Pargo, tinha em São Jorge, tinha no, no [vocalização] no Garajau, [pausa] tinha nas Desertas, [pausa] Porto Santo. De toda Estava tudo todo minado com, com com vigias.
INQ3 E só aqui é que havia embarcações ou havia noutros pontos da ilha?
INF É. É só aqui, só.
INQ1 E depois faziam os sinais? Os vigias como é que faziam…
INF [vocalização] Os sinais era por tudo meio de [vocalização] do rádio. Tinha-se rádios a bordo [vocalização] das embarcações. [vocalização] Os primeiros anos que começámos a trabalhar era com um lençol [pausa] – um lençol branco. [pausa]Depois, quando eu estava muito longe, eles então fazia faziam fumo faziam fumo. Senão,, [pausa] quando eu a vi- via que as ba- que as baleeiras iam direito ao às baleias, eles apagavam. [pausa] Apagavam Apagavam [pausa] o fumo.
INQ3 E com o lençol, também eles não indicavam a direcção?
INF [vocalização] E com o lençol também sempre era a mesma coisa. O lençol [vocalização], eles [pausa] botavam o lençol no ar. [pausa] A gente via o lençol. [pausa] Eles viam que a gente ia [vocalização]… Anda- Andava-se com a baleeira de roda. [pausa] A baleeira deixava a um ponto que a baleeira ia no rumo certo, eles tiravam o lençol de repente. [pausa] Tiravam o lençol que é para a gente [vocalização] levar o rumo certo, [pausa] à [vocalização] baleia. Pois.
INQ3 E depois? Portanto, o senhor ia na direcção boa…
INF Depois ia-se na direcção e chegava-se ao [vocalização] . Estava ocasiões que dava-se com elas; e estava ocasiões que não se dava. E quando se dava com elas, começava-se a balear. [pausa] Tinha-se as embarcações para cercá-las, mais pa- mais pró- próximo da à costa pa- [vocalização] . Mas quanto mais pró- próxima da costa, melhor, para a gente matar a baleia. [pausa] Porque elas mergulhavam e já, de repente, já saíam. E [vocalização] no, na mais fora, elas [pausa] mergulhavam e demoravam muito tempo no mar, no fundo, para saírem. A gente sa- Estava ocasiões que elas saíam já longe. Saíam um pedaço longe. Furavam Furavam as embarcações por baixo, e já saíam já lá fora. A gente tinha-se que ir, outra vez, a remar, remar, remar, para fora, para elas. E depois [vocalização] aquilo a gente ali todo o dia ali a remar, ali a [vocalização] se [vocalização] transpirar, [pausa] puxava-se [vocalização], matava-se as baleias, vinha-se para a para a fábrica. Tinha-se um barco pa- de apoio para rebocar as baleias, para trazer elas as baleias para a fábrica. Chegava-se à fábrica – às vezes tinha-se trabalho lá na fábrica – tornava-se a trabalhar, a noite inteira a trabalhar. [pausa] Depois foi quando [pausa] a gente fizemos uma reclamação aos patrões porque [vocalização] a gente trabalhar com ba- canoas de remos [pausa] que matava muito pessoal. [pausa] Então foi quando eles resolveram fazer [pausa] canoas a motor. Então eu [vocalização] [vocalização] Tinha-se lá o molde, e eu é que [vocalização] construí essas embarcações todas. [pausa] Era se [vocalização] sete embarcações a remos. [pausa] Passou a ficar [pausa] três a [vocalização] a remos e quatro a motor. Pois.
INQ1 Mas iam com todas elas?
INF Sim. Com todas elas. Depois foi quando [vocalização] a gente [vocalização] ia-se para Porto Moniz – [pausa] estive, estivem-, estivemos [pausa] eu estive cinco anos no Porto Moniz [vocalização] com [vocalização] com duas baleeiras. Essas baleeiras, depois [vocalização] pois [vocalização] [vocalização] aquilo ela i- em ocasiões chegava-se lá, queria-se varar, e não se podia, porque o mar [vocalização] ali era ruim. Era num [vocalização] num varadouro. Aquilo [vocalização] o mar rebentava ali, a gente tinha que se vir outra vez para o sul. [pausa] Depois foi quando eles resolveram meter canoas no Porto Santo – duas canoas no Porto Santo. [pausa] Então [vocalização] varava-se lá na praia, ali mesmo perto do cais. E quando havia baleias para aqui para o para a Madeira, vinha-se para a Madeira. Quando havia para o Porto Moniz, vinha-se para o Porto Moniz – [pausa] já com o ru- com o rumo já por trás de Porto Santo, direito a Porto Moniz. Pois.
INQ3 Mas quando apanhavam as baleias no Porto Moniz, depois tinham que rebocá-las para aqui ou …?
INF Tinha-se o barco para trazer [vocalização] as baleias para o Porto Mon-, para o para o para a fábrica.
INQ3 A fábrica era só aqui?
INF Pois. Quando era Quando era muita quantidade de baleias, a gente tinha que vir [pausa] p- para [vocalização] ajudar a cortar. , [pausa] Quando era só um cachalote só, a gente ficava lá. [pausa] Ficava-se lá no Po-, no, no, no no Porto Santo ou no [vocalização] ou no. Quando se estava a trabalhar no Porto Moniz, ficava-se no Porto Moniz. Quando começámos a trabalhar no Porto Santo, [vocalização] havia uma baleia só [pausa] a gente ia para o Porto Santo. Porque ao outro dia podia haver podia aparecer baleias para lá, para o Porto Santo. Estava-se lá mais perto. Pois. Pois.
INQ3 E essa baleia depois como é, ficava a flutuar, punha-se uma coisa para ela ficar depois no mar…
INF Ficava acima do mar, com uma bandeira.
INQ1 Mas como é que a matavam?
INF Era com o arpão. Era trancada com o arpão. E depois era morta com a lança. Matava-se. Quando tinha-se [vocalização] uma média de [vocalização] quinhentos metros de corda, [pausa] e tinha-se [vocalização] as baleeiras [pausa] ali, quando a gente trancava trancava-as, a gente deitava bandeira, [pausa] para uma baleeira vir para o pé da gente. [pausa] Porque [vocalização] estava ocasiões que a baleia levava [vocalização] levava aquelas cordas todas. [pausa] E então, vinha a baleeira. [pausa] A gente passava a corda. Ela passava a corda da – da outra baleeira para a nossa. [pausa] Era encadeada na nossa na nossa corda. Quando ele acaba- levava as nossas linhas, já ficava presa para outra [pausa] – para outra embarcação.