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COV35

Covo, excerto 35

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo Bigail
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Porquê? Ó senhora Gabriela, ele desculpe de lhe eu dizer.

INQ1 Não, não. Diga, diga.

INF1 Mas, [pausa] não faz bem a ninguém.

INQ1 Pois não. É péssimo. faz mal.

INF1 Não faz bem. Olhe que a morte do meu irmão foi o tabaco.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Olhe que o meu irmão fumava, naquele tempo, sete onças de tabaco por semana.

INQ1 Hi!

INF1 Sete livros de papel! [pausa] Até fumava de noite!

INQ1 Pois.

INF1 Fumava, fumava, fumava, os impulmões dele ficaram [pausa] todos em chaga! Em cha-!

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Tudo! Alargou aquela coisa, ficou tudo

INQ1 Pois, pois, pois.

INF1 Chamei [vocalização] Veio o médico. Era um de Vale de Cambra, que era o Atílio e viu-o. Viu-o Chamei-o e diz ele assim: "Ó Arquibaldo" chamou-me fora , "Ó Arquibaldo, [pausa] eu vou dar um remédio aqui ao teu irmão mas olha que isso é capaz de não lhe valer nada. Olha que [pausa] os impulmões dele estão como é Tudo em ferida! E agora, olha, eu vou-lhe receitar isto. Se os Os empulmões dele estão assapados: se eles abrirem [pausa] temos homem; se ele não se a- não abrir, amanhã até às três horas ele morre".

INF2 E foi.

INF1 E foi.

INQ2 Ai, coitado!

INF1 Não abriram. Deu-se-lhe o remédio, não abriram, olhe, quando foi às seis horas vai o homem embora. O tabaco é um veneno! A morte do Doutor Atlante de Arouca, que é muito meu amigo, ou melhor, era Deus o tenha em descanso. Era o homem mais meu amigo que eu tinha! Olha que ele veio de propósito de Arouca aqui, [pausa] para ser padrinho do meu neto. [pausa] E eu hoje andava ali a erguer centeio, aqui adiante, então não tinha erguedor. Era erguer com com uma bacia, era erguê-lo ao vento. E ele chegou ali, e eu estava com as costas viradas, diz ele assim para o meu filho e para a minha nora: "Olhe , onde é que mora aqui o Arquibaldo do Covo"? [pausa] Mas ele tinha-me visto. Eu é que não não contava que viesse ninguém. Digo eu assim: "Ora, para o caraças"! "Vou para o caraças"! Ele riu-se! "Sabes ao que eu venho"? "Eu não. O se- O senhor doutor não disse". "Olha que eu venho para ser padrinho do teu neto". Digo eu assim: "Olhe, obrigado". Foi mesmo assim: "Olhe, obrigado. Então, se vier outro, então o senhor o terá, mas este estou eu. Este vai ser meu afilha- meu afilhado". Começou-se a rir então mais eu, veio para aqui, [pausa] ainda bebeu aqui um copo de vinho. Isso era um homem! Era o advogado melhor que estava nesta roda!

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Era ele, o meu amigo. Até que ele foi era deputado em Lisboa.

INQ2 Hum!

INF1 Era deputado do PPD. Era deputado. Coitado, agora E em quatro meses foi-se embora!

INQ2 Ah!

INF1 Fumava muito. [pausa] E o homem dizia O homem fumava muito. E eu dizia para ele: "Ó senhor doutor isso mata-o"! "Mata nada, não faz mal"! Fumava assim por uma caneta como a senhora, assim como

INQ1 Pois, pois.

INF1 Pois. E depois [vocalização] diz ele assim: "Oh, isso não faz mal nenhum"! "Ah, não? Então espere pelo resto"! Quatro meses [pausa] foi o homem embora.


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