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CRV46

Vila do Corvo, excerto 46

LocationVila do Corvo (Corvo, Horta)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Felício Feliciano
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)Pedro Prista Monteiro João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

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INF1 Ganhou dinheiro no jogo. sabia jogar.

INF2 Jogava bem e gostava! Ele sabia e gostava!

INF1 Homem, gente todos gosta de jogar!

INF2 Ele gostava.

INF1 Tudo! Novos e velhos são novos para jogar.

INF2 Ele era. Ele contava muitas vezes que estava lavrando no Rancho. [pausa] O patrão, aquilo [vocalização] era também discurso tirado. Ele o homem mal [pausa] maluco, pelo que eu, pelo no meu entender, [vocalização] sábado à noite arruma o arado e foi para foi passear para onde chamam-lhe o Tanque. [pausa] Segunda-feira de manhã, pega no arado e começa a lavrar. [pausa] Eu não sei se lavrava uma hora, se era hora e meia, se eram duas horas, o arado teve uma avaria. O patrão , de , revistando os lavradores a ver eles o que é que faziam. " vens, não me agarras! A mim não me apanhas"! A avaria era pequena [vocalização] Ele compôs a avaria que tinha, ele vinha chegando e: "Eh"! Pôs-se a andar.

INF1 Eram burros é que lavravam naquele tempo . Era com burros.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Com burros.

INQ1 Mulos?

INF1 Burros, . [pausa]

INF2 Os burros é que lavravam. Os burros é que é é que faziam as lavouras. Nã- Ainda não havia mecanismos.

INF1 Ainda não havia nada.

INF2 Ele vai andando, segunda avaria. O patrão [pausa] vai ter com ele: [pausa] "Ainda não me apanhas desta"! Vinha chegando: "Eh! Larga"! Ora, o patrão, aquilo ele ia aquecendo sempre. Eu agora não quero mentir: não sei se ele teve três avarias, se teve quatro.

INF1 Ele teve muitas no Rancho.

INF2 Até que Até que teve uma, foi apanhado. [pausa] "Ó Fidélio, tu sabes o os regulamentos deste rancho"? "Sei-os tão bem como ti"! "Então oh! Tu para onde é que foste sábado à noite"? "Fui para o Tanque". "Tu, [pausa] na vez de ires para o Tanque, porque não estavas ao do teu arado"? "Porque eu não tinha nada que fizesse ao meu arado. O meu arado trabalhou a semana que passou toda e [vocalização] e não teve avaria nenhuma. E ainda que estivesse olhando para ele de dia e de noite, não sabia se ele queria avariar hoje, se não". "O que eu havia de fazer era despedir-te". "Tu se me hás hás-de despedir à noite, paga-me que eu me vou".

INF1 Ora, era porque ele tinha sentido de vir para aqui.

INF2 Mas ele ainda não veio [vocalização] tão depressa. Ele ainda Ele ainda se demorou.

INF1 Não, eu parece-me que ele disse que tinha que tinha vindo para aqui.

INF2 Não! Pois, talvez tinha mas ele ainda se demorou.

INQ2 Mas ele esteve, esteve na, esteve foi na Califórnia, foi?

INF2 Foi.

INF1 Foi. Mas fora, na América, de Inverno não se trabalhava. Não havia trabalho. [vocalização]

INF2 Ele lhe pagou.

INF1 Ele ia para as lojas jogar, [pausa] onde é que fica o porto. [pausa] Jogar.

INF2 E ele [pausa] pôs-se a andar. [pausa] Esteve seis meses no Tanque, como lhe chamam, sem trabalho.

INF1 Dizia que havia homens [pausa] que não tinham sorte. [pausa] Homem, dá-me os comprimidos daí, porque eu tinha tenho dores de cabeça. [pausa] Ele pôs-se a andar.

INF2 Nesses dias, de, de nesses seis meses, ele dizia: [pausa] "Foi o tempo melhor que eu tive em toda a minha vida! Levei boa vida, comi morangos, bebi vinho e com as cartas fiz bastante para eu para eu nã- não ir atrás. Elas davam para eu comer".

INF1 Diz ele [pausa] que ganhava bastante para o comer e ainda depositava dinheiro no banco.

INQ3 Um bom jogador.

INF1 Sim senhora.

INQ1 É raríssimo.

INF1 Falava muitas vezes nisso.


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