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EXB03

Enxara do Bispo, excerto 3

LocationEnxara do Bispo (Mafra, Lisboa)
SubjectA agricultura
Informant(s) Borromeu
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ Mas assim, assim as culturas e as, as coisas que faziam assim ao longo do ano, como é que era?

INF Oh, era batatas É o que a senhora quer fazer, não é?

INQ Sim.

INF Feijões, muito mais que agora. Que [vocalização] agora nem se pode semear feijões nem coiso, puseram isto tudo em [vocalização] [pausa] em reservas de caça.

INQ Ah! Pois é.

INF Porque isto até havia de ser proibido, porque [vocalização] os terrenos são retalhados, muito retalhados. É um que tem um bocadinho, é outro que tem outro bocadinho, outro tem um bocadinho Agora nem se consegue semear! O ano passado se- gastei quarenta contos numa seara, [vocalização] semeei-a de feijão, ficou semeei vinte e dois quilos de feijão e [vocalização] e [vocalização], ou nove quilos de grão, não apanhei um. Os coelhos comeram tudo! Começaram logo Eu pus veneno, eu pu- eu punha espantalhos, eu punha Punha o que pusesse! Dois, três dias, afastava-os. Depois começavam outra vez, começaram que ele deixaram o restolho, pronto! Não, não Não deixaram nada. Antigamente não era assim. Antigamente havia O caçador era livre não é? e, e apanha- e a caça era: era três meses de caça todos os dias.

INQ Pois.

INF Quem quisesse caçar caçava. O dono da fazenda ia para a fazenda, levava uma espingarda e [vocalização] e de manhãzinha apanhava um coelho ou dois, ou uma perdiz, depois ia trabalhar;

INQ Pois.

INF à no- à tardinha vinha para casa, apanhava mais um coelho ou dois, e coisa, e os coelhos, havia mais desbaste aos coelhos.

INQ Pois.

INF Agora não. Agora é três meses mas é ao domingo e feriados [pausa] e quintas-feiras.

INQ Pois.

INF Quer dizer, apanha dezassete dias de caça, ou dezoito, um um ano.

INQ No total? Pois é.

INF Pois, no total. E o coelho, a criação é muita. E depois, agora, eles puseram isto em como sócios de caça-; caçadores, em sócios. São muito poucachinhos porque os de fora não podem vir.

INQ Pois é. Nem o dono da terra pode?

INF Nem eu. Eu não sou sócio, sou contra essas coisas

INQ Eu acho uma coisa horrível!

INF Passei a não ser sócio, não quis ser sócio.

INQ Pois.

INF E eu tenho o prejuízo: tenho uma licença de caça, tenho um porte de arma como outro qualquer e uma espingarda, e não posso ir caçar dentro daquilo que é meu.

INQ Isso realmente está mal feito.

INF Pois, sim senhora. Uma injustiça mesmo!

INQ Pois é. Pois é. Exactamente.

INF É uma injustiça mesmo. A gente tem o [vocalização] prejuízo e e, no fim, com a licença de caça e tudo, não se podemos caçar desde que a gente não pague ali [vocalização] à sociedade.

INQ Pois é.

INF Temos que pagar dez contos de entrada; temos que pagar [vocalização] de seis em seis meses cinco contos Isto é uma, é um [vocalização] é uma roubadeira!

INQ Pois é.

INF Não é? É uma roubadeira. Não tem lucro nenhum. O caçador não tem lucro nenhum.

INQ Pois.

INF Pois então! Pois se as fazendas são nossas, a gente é que tem os prejuízos, a gente é que está a criar a caça! Tiramos uma licença de quatro contos ao Estado, paga-se um porte de armas de [vocalização] de cinco contos e tal, paga-se mais três contos e tal de de seguro de de espingarda, e [vocalização] passa paga-se um conto de réis de uma uma vacina dum cão, paga-se mais um conto de réis de duma licença dum cão Então, a gente tem gasta uns poucos de contos na, na nas licenças, e tudo, e não tem ordem de caçar naquilo que é nosso?!


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