INQ Portanto, quando nasce, quando é pequenino, é um quê?
INF1 É um borrego. É um cordeirinho.
INF2 É um borrego. É um cordeirinho. É um cordeiro. Mas habituam-nos logo nisso. Quando assim é que têm assim, habituam-nos logo a [vocalização] dar-lhe alguma coisinha à boca.
INF1 De pequeninos.
INF2 Assim que chegam, ou um bocadinho de pão, ou uns grães de milho ou assim. E eles habituam-se, ficam já habituados.
INF1 Depois quando vêem a pessoa, vão sempre ter com ela. É como um cão.
INF2 Já cha– Já chamam os outros todos.
INF1 É que é pior que um cão. Uma ovelha é como um cão, tal e qual.
INQ Ai sim?
INF1 É.
INF2 É, é.
INF1 Desde que seja habituada de pequenina,
INF2 Muito meigas, muito meigas.
INF1 para onde for a pessoa, vai ela.
INF2 Aquele vivo é tudo muito meigo.
INF2 Eu tinha aí eu tinha aí uma [vocalização] um burro que entrava para um taberna [vocalização] detrás de mim, como que fosse uma como outra pessoa qualquer.
INF1 Era.
INQ Um burro?
INF2 Um burro.
INF1 Um burro. Habituei-o! Eu entrava para a taberna, se fosse preciso o gajo entrava também. Era, era. Os animais é tal e qual como as pessoas.
INF2 Tomam conta no que se faz.
INF1 Tomam muito conta daquilo que se faz. E basta que têm mais uma coisa: é que é que um animal passa por um caminho e nunca mais se esquece.
INF2 Olhe, a minha cabra que o meu marido me vendeu… Eu tinha uma neta que está em Lisboa e veio cá passar umas férias. Ainda ela era assim mais novinha. Já foi há uns três ou quatro anos, a Felisbelinha.
INF1 Oh, há mais de cinco.
INF2 Há mais de cinco. E ela era cabritinha.
INQ Não. Estou, estou a separar o…
INF1 Não. Já tinha…
INF2 Era cabritinha, pequenina. E E nós criámo-la lá em casa. E consoante a pequena estava em cima em casa e que falava, assim ela ia: "Mé"!
INF1 Chamava por a garota.
INF2 Em a garota [vocalização] falando, se a sentisse falar, dizia… Eu às vezes dizia-lhe assim: "Ó Felisbelinha"!, ia ela logo: "Mé"! Depois ela dizia: "Ó avó", isto ou aquilo… "Mé"! Estava sempre…
INF1 A chamar por ela.
INF2 Um vivo toma conta como a gente, é só lhe falarem. Mas há vivos… Olhe, este cão meu, este cãozinho meu. A senhora pode aqui pôr, nesta cadeira, carne – ou seja lá o que for, tudo quanto é bom – e pôr aqui…
INF1 A ver se ele toca aí!
INF2 E eles E não estarmos cá mesmo nós, sairmos todos.
INF1 Pode sair qualquer pessoa.
INF2 A ver se ele aqui toca em nada, não toca em nada.
INF1 Mas também lá não chega gato nenhum enquanto ele aqui estiver.
INF2 Não toca. Não toca em nada. Há vivo também muito espertalhão.
INF3 Há, pois há.
INF1 Oh, oh! [pausa] Ele está aqui. Eu se disser… À noite chego ali e digo assim: "Vá, vai para o quintal, para o pé dos coelhos". De manhã está lá.
INF2 Está lá deitado.
INF1 De manhã, quando eu lá chegar, ele está deitado, lá ao pé das coelheiras.
INF2 Isto é, este Este cãozinho é que só lhe falta falar.
INF1 Ele está lá deitadinho!
INF2 Muito limpinho, muito asseado, não faz nada em casa, não bole em nada, é é uma beleza de cão. É por isso que eu tenho pena dele às vezes.
INF1 Já está velhote.
INF2 E pouco pára ao pé de nós.
INF1 Já tem Já tem mais de [vocalização] de quatro anos.