INF Eu vou-lhe aqui mostrar uma coisa. [pausa] Eu vou-lhe aqui mostrar uma coisa. [pausa] Ora vê! [pausa] Não queira comparar uma cortiça destas [pausa]
INQ1 Ah pois!
INF com uma cortiça destas!
INQ2 Com essa! E pá! Esta é muito melhor!
INF Com certeza!
INQ2 Esta é aquela que faz umas rolhas muito boas.
INF Estas é que são as cortiças boas, que é com isto que eu trabalho.
INQ2 Então, e qual é a diferença? Não, eu, eu estou a ver…
INF [vocalização] Pois.
INQ2 Mas qual é?… Como é que se arranja duma ou doutra?
INF É a própria árvore…
INQ2 Que é boa?
INF É aí que eu que ia-lhe para contar. A própria árvore, num ano… Por exemplos, se esta foi tirada [vocalização] em… É é o ou o nove ou o seis. Ou que seja assim, ou que fosse assim. Bom, foi tirada em seis ou em nove. Ou em [vocalização] em 59, ou 39, ou 49, ou o que for, ou ou 46 … Bom, fosse lá o que fosse. Esta cortiça [vocalização] é boa. Não é melhor que… É mais ruim que aquela, mas é boa.
INQ2 Pois.
INF Mas não custa nada, quando for ao fim dos nove anos, não a cortiça não prestar. E a árvore é a mesma, os terrenos são os mesmos. Mas não custa nada um ano ser boa – porque eu sei isso – porque houve um ano na terra ali na terra das Várzeas, andámos lá a tirar cortiça, e eu calhei a tirar de um um chaparro – até um chaparro grande. Ai, que cortiça tão boa! Ai, que coisa tão boa! Olhe, o dono não aproveitou nenhuma. [pausa] A gente roubou-a-lhe toda. [vocalização] Os, os do- Os que a andavam lá a tirar, um levava uma prancha, outro levava outro bocado, outro levava outro bocado, quer dizer que não aproveitou dali nada. Nada!
INQ2 Então mais valia ser ruim que era melhor.
INF [vocalização] Não.
INQ2 Para o homem.
INF Para ele. Para ele. Para a gente , para a gente cá está que a gente precisa de bocados de cortiça bom boa. E esta cortiça que eu tenho aí ruim, são cortiças que me dão. Não sabem se para que é… Depois eu já vos conto, explico o resto.
INQ2 Sim senhor.
INF Quer dizer, eu ao fim de nove anos, precisamente andava nessa tirada à mesma. E sabia o cha- o chaparro que era, porque eu tinha lá passa- andava ao pé de a tirar um uns outros ao pé… Não fui eu que os tirei mas levei de lá também uma prancha. E quer dizer que eu [pausa] andava com aquilo [vocalização] de olho, para ver se era capaz de apanhar lá outro bocado de cortiça. Cheguei lá, a cortiça não prestava.
INQ2 E então porquê?
INF E é i- E é isso é que eu me falta saber.
INQ2 Ai não sabe explicar?
INF Não sei.
INQ1 Será o tempo?!
INF Não sei porquê.
INQ2 E, e nunca acontece deixarem ficar mais tempo?
INF Outro Outra coisa que me dizem que é… [pausa] Dizem-me que é isto: quanto mais lavouras… Mas eu admira-me essas duas coisas, mas isto é como tudo o mais. Eu não sei! Eles dizem quanto mais lavouras leva a as terras, mais ruins são as cortiças.
INQ2 Pois.
INF Porque a cortiça sendo criada dentro de matos, é criada apertada. [pausa] Quer dizer, [pausa] uma cortiça leva leva mesmo nove anos a criar, mas na mesma árvore, mas se tiver mato, cria-se, fica desta grossura, e se tive- não tiver mato [vocalização], já fica desta. Quer dizer que [pausa] que se torna muito mais grossa.
INQ2 Se não… Como é que é? Se não tiver o mato é que fica mais grossa?
INF Exactamente.
INQ2 Se tiver mais mato…
INF Torna-se mais grossa. Tem mais criação. É mexida a terra, [vocalização] tem mais criação, torna-se mais grossa. É: dentro do mato torna-se mais delgadinha mas também se torna muitíssimo boa. Por isso é que dizem que a cortiça de dentro do criada no mato, que se torna mui melhor. Mais macia, mais mais [vocalização] l- lisa, pronto!