INF Ah, meu amigo! Estava-se a falar da lula e depois vêm atrás [vocalização] muitas atrás daquela. Chegou-se ali à borda que há ao pé da lancha, a gente usa o tal bicheiro, atamo-lo ao tal anzol, preso numa con- numa ponta da cana, comprida. E a gente, elas vêm – a bem dizer, estão quase à superfície do mar – e a gente vai engatando as que estão ao lado; não aquela que está presa, as outras que estão pelo pelo lado. Engata-se, às vezes, duas, três, quatro, conforme a porção, e elas estão ali de coiso. Mas é preciso desviar, porque elas, toda a lula, quando a gente engata, elas dão aquela uma esguichada de tinta que é que tem. A gente, quando engata ou coisa, a gente aguenta sempre a lula ali sempre debaixo do mar, que é para ela esguichar a tinta para não esguichar a gente, para a gente para não sujar a gente da tinta da lula. Também é engraçada a pesca da lula, também! Depois a lula também serve para isca, para para pescar de fundo, que é o congro, que é o cherne, que é o a abrótea é o… Qualquer peixe [pausa] gosta da lula, tal e qual como a gente!
INQ Sim senhor. Pois eu não sei o que é que lhe hei-de perguntar mais. Olhe…
INF Pois.
INQ Só se me explicar agora como é que conhece o tempo? O tempo que vai fazer, se vai piorar, se vai melhorar, se?…
INF A gente conhece [pausa] o nosso tempo… Temos aqui uma montanha que é o Pico, que dá muito sinal a isso.
INQ Quais são os sinais que dá?
INF Pch! Ele os sinais é a gente mesmo de manhã, a gente levanta-se, todo o pescador vai … Levanta-se cedo e vai para para ir para o mar, a gente a primeira coisa é olhar para o Pico. O Pico está descoberto, está todo ali, ele todo limpo, está muito bom tempo, a gente olha para o céu, não vê nuvens, não vê nada. Daí a bocado, de manhã, antes, a bem dizer, quando o sol está ali a nascer ou depois, a gente sabe se vai fazer mau tempo ou ou vê que o tempo vai mudar, o Pico principia a gente chama um chapéu… Cria Cria assim umas nuvenzinhas todas em redor, tal e qual como um barrete em cima mesmo do Pico. A mesma coisa, a gente já sabe que é vento, que ele já está pondo qualquer coisa para cima de si, está adivinhando chuva. A gente se vê muito azul, aqui o Faial, aqui em frente, também muito azul, a gente olha, diz: "Olha, é sinal para para chover"! E vem mesmo! Isto é Isto é certo. Vê os sinais, a gente vê… A gente vê também os ares; a gente vê os ares de de vento. Os ares quando estão riscados, o céu está riscado, aquelas nuvens todas riscadinhas, a gente sabe que vai fazer vento, que ele o dia que é ventoso. A gente vê… Por exemplo, pode vir chuva: "Olha, a gente estamos no mar, mas ali, olha, ali vem chuva"! A gente
INQ E se são apanhados de?… Já lhe aconteceu ser apanhado de repente por uma tempestade no mar?
INF Pois, o pior cá é o noroeste. É o tal noroeste. Por exemplo, o vento pode estar aqui da banda do sul, do sul não digo que vire já para o noroeste, mas da banda de oeste, da banda de oeste é [vocalização] rápido. A gente pode estar aqui e isto aqui, a gente, as nossas zonas de pescar é sempre aqui muito perto aqui do porto, porque a gente nunca pode ir para muito longe. Porque mesmo ir para muito longe, não dá; é muita profundidade, não se não se pode pescar. Mas a gente está ali e, às vezes, já chegar aqui ao porto já é com grandes dificuldades, principalmente, não por causa de navegar fora, ele é o pior é o porto, mete logo uma aguinha dentro do porto. O problema todo é dentro do porto. Se tivesse a tal docazita que que não está aqui, pois aí uma pessoa já vinha mais à vontade de coiso.
INQ Mas aquele ali, o porto do Calhau não é melhor do que este?
INF Não.
INQ Não?
INF Não. É conforme os ventos. Por exemplo, lá o vento de oeste, [vocalização] mete mar; a partir do oeste para cima, mete mar, o mar de oeste; aqui a partir de oés-noroeste, que é a partir de oés-noroeste para baixo, de cima da te- até ao Faial, pelo norte, mete aqui o mar do norte [pausa] na coisa – principalmente de Inverno. É muito perigoso então! Pois a gente, as marés, as correntes, a gente sabe… [vocalização] A gente sabe as marés p-, p- por onde é que vão, a gente quer quer ir pescar ao goraz, a gente tem que ancorar é direito à pedra. Por exemplo, pode fazer areia em volta da da pedra, ou ali mais metros, ali, por exemplo, vinte metros desviados, a gente marca-se. A gente, qualquer lugar que vai pescar, é assim, [vocalização] a gente marca. É sempre marcado. A gente marca-se por terra, por casas, por [vocalização] por cabeços, por essas montanhas que se vê aí. A gente faz as nossas mar- marcações das pedras. Todos os marinheiros, uns marcam-se por umas, outros marcam-se por outras; tudo no mesmo sítio. Uns marcam-se duma maneira, outros marcam-se doutra, mas todos vão lá ter a esses lugares que de pesca. A gente chegou: "Olha, a maré vai para o sul", a gente bota… Porque é a tal… Ele a gente chama a poita, que é uma pedra amarrada no cabo, que é de ancorar; a gente chegou mais ao norte, ancorou, porque a maré depois bota para o sul; e a gente aí temos as nossas coisas de pescar. Os nossos engodos, os tais engodos, bota-se ao mar. A isca, a isca é a cavala, a sardinha que se compra de… Vai-se comprar ao Faial. A lula, o chicharro, que é o carapau…