INF Depois então, quer dizer, [vocalização] sachava-se, andava-se com pessoal a sachar, pessoal levava-se pessoal… A minha mãe que Deus tem falava a pessoal a ganhar o dia.
INQ Rhum-rhum.
INF No outro tempo era, era m- era tudo muito pobrezinho. Sabem o que levavam para os almoços? Ao meio da manhã.
INQ Sim.
INF Era cabeça de alho e cebola.
INQ Cabeça de alho e cebola?
INF Para comerem ao pequeno-almoço!
INQ Comiam com pão?
INF Ou com pão ou com um bocadinho de broa [vocalização]. Quem era pobrezinho, que não tinha… A minha mãe já tinha os seus bocadinhos, já tinha a sua broazinha, cozia muitas vezes a broa. Levava [vocalização] broas inteiras, panelinhas de azeitona para elas comerem.
INQ Pois.
INF Pois. E muita vez, ela dizia assim: "Olha, deixa-me ter o dinheiro trocado para"… Porque ao meio-dia vinha-se a casa comer, porque elas tinham os filhos e vinham [vocalização] a casa dar comer aos filhos, e a minha mãe dizia assim: "Ah, deixo assim… Deixa-me trocar o dinheiro para elas levarem para irem comprar a broa e alguma coisinha para dar aos filhos".
INQ Pois.
INF Pois.
INQ Pois.
INF E quando se andava… E no arroz também era a mesma coisa.
INQ Rhum-rhum.
INF E merendava-se também. [vocalização] Um lanchezinho ao meio da coisa e vinha-se à noite só, às trindades.
INQ Pois.
INF A gente chamava as trindades. Era.
INQ É que vinham para casa?
INF Quando batia [vocalização] o sino… Ele agora já nem dá. Aqui na nossa terra em Taveiro ainda dá.
INQ Rhum-rhum.
INF E batia-se as trindades é que se despegava para se vir para casa.
INQ Para se vir para casa.
INF Mas era um tempo lindo! Olhe, juntava-se o os ranchos, ia tudo para o campo. [vocalização] Ali andava um rancho a cantar, ali andava outro, ali andava outro…
INQ Agora já não cantam, pois não?
INF Já não andam assim pelo [pausa] pelo campo.
INQ Já não.
INF Embora cantem, não andam… Andávamos a mondar – eu não sei se conhecem? –, [vocalização] a mondar.
INQ A mondar era para fazer o quê? Mondar é fazer o quê?
INF Era com umas meias a… As meias assim, cortadas por aqui, até aqui assim, e a gente fazia assim uns calções… [pausa] A senhora doutora não sabe, não?
INQ Não, não.
INF Oh, fazíamos assim uns cal- uns calções.
INQ Faziam assim.
INF As meias eram com os pés cortados e e depois metíamos… Vestíamos Despíamos a nossa roupa e vestíamos uma roupa velha para andar na monda. E depois com umas meias atávamos aqui com uns cordéis,
INQ Sim.
INF aqui com uns alfinetes assim, e botávamos uns aventais, e e andávamos assim.
INQ Iam fazer o quê?
INF Porque as bichas – as samessugas, chamava a gente –, mordiam.
INQ Ai, está bem.
INF Não sabem, não?
INQ Porque isso era quando era para o arroz, não era?
INF Era quando era no arroz.
INQ No arroz.
INF Agora não é.
INQ Pois.
INF Mordiam, e a gente…
INQ Tinham que andar com os pés dentro de água, não é?
INF Andá- Ai, então, até por aqui!
INQ Pois, as pernas inteiras.
INF E tudo. E Iam, faziam sangue à gente.
INQ Ah! Pois, pois.
INF Faziam sangue à gente e aos animais que andavam na água. E a gente tinha que ter assim essas meias cortadas com os pés até aqui acima a agarrar tudo, uma coisa à outra, por causa de elas não morderem a morderem na gente. Que a gente ia muitas vezes!
INQ E essa altura de mondar era que altura?
INF [vocalização] Sã- São João…
INQ Também por essa altura.
INF [vocalização] Mais assim por aí mais adiante.
INQ Rhum-rhum.
INF Era. Era sa Era São João, sa- Santiago já era tarde, mas até se mondava em Santiago.
INQ Ainda Santiago.
INF Arrancava-se então a… Mas o arroz tinha muito! Olhe, semeávamos o viveiro – era um viveiro assim basto –,
INQ Pequenino?
INF pequenino.
INQ Sim.
INF Depois arrancava-se à [vocalização] às manzadinhas, atava-se com bunho, assim com bunho, depois era acartado com uma zorra, não sabem?…
INQ Sei, sei, sei. Também era uma pergunta que eu lhe ia fazer. A zorra.
INF Acartava-se com a zorra e com as vacas. E aquilo tudo cheio de lama!
INQ A zorra eram assim dois paus…
INF Ela Era, a zorra era um, um, uma uma tábua assim larga e e era então tudo com o cadeado [vocalização] e c- e com tudo na mesma, como se trabalhava quando tinha…
INQ E era arrastado pelo chão?
INF E era arrastado pelo chão.
INQ Pois.
INF Para levar a zorra com o arroz onde a gente queria.
INQ Pois.
INF Depois era, era era plantado, andava-se com o rancho das mulheres a plantar o arroz.
INQ Rhum-rhum.
INF Depois então… Porque dantes não era as químicas, nem era assim semeado.
INQ Pois, não. Pois.
INF Depois então mondava-se, tirava-se aquela milhã – que a gente lhe chama a milhã do coiso. No outro tempo que depois…
INQ Milhã era uma erva?
INF A milhã era era erva que estava dentro do arroz. Que é então a tal milhã – ainda aí a tenho porque ela ele ainda há –, era então a tal milhã que a gente tirava. Depois então a milhã, noutro tempo – agora já não se faz nada disso –, espigava, e a gente andava com um rancho de mulheres ou ia a gente cortar essas cabeças para não misturar no arroz.
INQ Ah! Sim, sim, sim.
INF Pois, cortava-se, tirava-se as cabeças ou tirávamos para baixo e esse esse pasto era para o gado comer.
INQ Pois.
INF E esse pasto era era para o gado comer.
INQ Sim senhora.
INF Pois é. Essa vida era toda assim.