COV06

Covo, excerto 6

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoO moinho, a farinha e a panificação
Informante(s) Arquibaldo

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INQ1 Como é que as mulheres fazem o pão? Como é que se faz?

INF Olhe, [pausa] o pão é feito assim: agarra-se, [vocalização] bota-se a farinha chamam aquilo a masseira, , [pausa] que é uma masseira.

INQ1 De quê?

INF De madeira.

INQ1 De madeira?

INF É uma masseira [vocalização]. Como uma caixa, mas é é larga por cima e mais apertada por baixo, e tem uma tampa por cima chamam aquilo a masseira.

INQ1 Mas não é assim uma coisa alta, não?

INF Não.

INQ1 É uma coisa baixa, assim desta altura, para ?

INF É uma coisa É, ou isso

INQ1 Como se fosse um tabuleiro?

INF É como um tabuleiro. Isso!

INQ1 sei, pronto! sei quais são!

INF É como um tabuleiro! E depois vão aquilo e, e e bota-se a farinha, depois Primeiro faz-se o fermento. [pausa] Para o pão, é o fermento. O fermento é [vocalização]: eu cozo agora, coze-se agora e 'deguarda-se' assim um bocadinho de massa [pausa] para de hoje a oito dias, ou quinze dias, ou conforme Bota-se [pausa] umas pedrinhas de sal por cima e põe-se aonde for fresco numa loja que seja fresco! A gente então na nossa casa é na salgadeira, de salgar os a carne dos porcos [pausa] no sal!

INQ1 Rhum-rhum. Pois, pois.

INF Põe-se numa numa tigela, ou numa bacia, ou num prato e põe-se aquilo, aquele bocadinho [vocalização] de massa. Depois, quando é para cozer, vão vai-se e [vocalização] também têm uma peneira para peneirar; chamam aquilo uma peneira que é para peneirar a [vocalização] farinha, para sair o co-. Para sair o O que é grado sai para fora que é para os porcos

INQ1 Como é que se chama isso que é grado?

INF É [vocalização] Chama-se aquilo o carolo.

INQ1 O carolo.

INF O carolo. Chama-se aquilo o carolo. Sai para fora [pausa] e bota-se que é para os porcos ou para as vacas, ou coiso. E o que é boa Aquele mais fino é boa e é que fica para [pausa] para o pão. Ora bem, agarra-se e e amassa-se um bocado de farinha com aquele bocadinho de, de, de de fermento chamam aquilo o fermento , que é o que fica dumas vezes para as outras.

INQ1

INF E amassa-se [vocalização] Suponhamos, faz o fermento à noite, amanhã de manhã, você a senhora chega , está todo partido, todo ao todo aos cortes.

INQ1 Rhum-rhum. Partiu.

INF Vai É. Amassa-se o pão, amassa-se o pão, bota-se depois a farinha na [vocalização]

INQ1 A sua, sua nora, quanta quantidade de farinha é que co-, que coze?

INF Oh, nós agora, a gente agora coze pouco, que somos quatro pessoas . Com quatro quilitos, cinco, mas a gente Ela coze um alqueire e meio, um alqueire, um alqueire e meio

INQ1 E para quanto tempo?

INF Oh, para oito, doze, treze, conforme.

INQ1 E está sempre macio, até ao fim?

INF Sempre macio! Porque quando se amassa e quando se abre a porta ao pão, se quiser que o pão fique macio, a senhora tira o pão fora o pão fora , e bota-o por cima dum, dum duma cai- a gente chama uma caixa, você é um , por cima dumas tábuas [pausa] e abafa-o [pausa] com qualquer coisa para ele não tomar ar. E ele fica ali e deixa-o estar, você vai a comer e é como É melhor que o trigo!

INQ1 Pois, pois, pois.

INF Vem o padeiro quase todos os dias, agora, e a gente [vocalização]

INQ1 Não compram?

INF compra, às vezes, para o mocito, compra; mas quando a gente coze, a gente nunca nunca compra.

INQ1 Pois, pois.

INF [vocalização] É melhor! A gente, olhe, com leite

INQ1 Pois, pois. Então, íamos a exp- O senhor estava-me a explicar e agora esqueci-me.

INF Diga.

INQ1 Passámos para outra coisa Portanto, as mulheres põem o fermento na farinha e vai?

INF E amassam. Aquilo amassam, amassam e depois quando tiver a ma- [vocalização] Dão ali umas cinco voltas ao pão. Cinco voltas é: mexê-lo [vocalização] É. Cinco voltas ao pão. Depois agarra e tira e ajuntam e põem um bocadinho de farinha por cima e fica tudo tudo certinho assim, junto, muito bem [verbo] à masseira.

INQ1 Direitinho.

INF Sim. E depois [pausa] aquilo, aquele fermento faz partir aquela massa, fazer uns uns cortezinhos assim

INQ1 Aquilo cresce, não é?

INF É. [vocalização] C- Começa a fazer uns cortezinhos, a fazer aquilo, e depois quando eles vêem que Quando elas vêem que aquilo que está cortado, agarram [vocalização] e cortam, mexem aquela massa toda e depois começam a botar.

INQ1 Mas quando aquilo, aquilo O que é que elas dizem? Que a massa está quê?

INF Quando ela está cortada, está, está com a, está está em termos de ir para o forno. Arranja-se bem arranjadinha, assim, com uns golpinhos pequeninos!

INQ1 Mas não dizem que está finta, ou está?

INF É. É fintar, é a fintar. Quando Quando o pão estiver finto, agarro e boto para um para o coiso. Começo a botar para o forno. Faço os bolos [vocalização] sabe como é bolos? Não sabe o que é bolos?

INQ1 Os bolos é mais pequeno?

INQ2 Não.

INF O bolo é pequenino e é com a E o bolo pode ficar assim, assim quadrado, um bolo. Bota-se. Isso é que é bom com leite.

INQ2 Rhã-rhã!

INF É. Olhe que tem aqui um senhor [pausa] que é é desembargador, aqui em Vale de Cambra é o [vocalização] desembargador e olhe que ele [pausa] vem aqui a nossa casa e a gente, a gente pode estimá-lo pode ser com a melhor coisa que tem por exemplo, uma vitela, ou [vocalização] uns rojões, ou [vocalização] uma coisa que pode ser muito bom e ele quer uma tigela de leite com bolo.

INQ1 Que engraçado!

INF E desembargador! Um desem- Um desembargador, um homem

INQ1 E portanto, fazem os bolos e fazem mais quê?

INF É vários bolos e depois é conforme. A senhora se quiser fazer um bolo, faz; se quiser dois, faz; se quiser quatro, faz; faz o que quiser.

INQ1 Mas fazem bolos?

INF se faz bolos. E depois agarra a uma outra massa e fazem broas.

INQ2 Ah!

INQ1 Ah! Que mistura com o tal

INF Mistura-se. Está tudo misturado. É. Mistura-se e depois aquilo é pulado numa chamam aquilo uma escudela e é pulado aquilo

INQ1 Ah, sei. Pulado?

INF Pula-. Assim, mexem ele para um lado e para o outro e aquilo fica tudo tudo juntinho, tudo tudo numa bola.

INQ1 Uma escudela de madeira?

INF ?

INQ1 Uma escudela de madeira ou de plástico?

INF De madeira, madeira. E depois aquilo vai e agarra e bota-se aquilo para o forno

INQ1 Mas botam na , primeiro?

INF Ou na ou têm uns, uns uma coisa, chamam um cocho. É uma coisa parece uma, uma uma escudela. É uma escu- assim É de feitio assim, e bota-se dentro e mete-se dentro do forno e vira-se e fica certinho.

INQ1 Ah! Sim senhor.

INF E depois sai para fora é como eu [vocalização] lhe acabo de dizer Se depois de, do Depois como o pão está cozido, a senhora tem tiram-no para fora e depois é abafado, ou com uma toalha, ou com uma coisa qualquer, para ele não tomar ar. E ali está. Mas aquilo pode estar, eu sei ! É sempre maciinho e molezinho, que aquilo é mais mole que o trigo.

INQ2 Rhum-rhum.

INQ1 Pois, pois.

INF É. A gente , nós é assim.

INQ1 Pois, pois.

INF E depois se temos leite, a gente

INQ1 O leite de é da, das suas vacas mesmo, não?

INF É da minhas vacas. É das minhas vacas. É.

INQ1 Portanto é bom.

INF Pois é. Serrano, de vacas serranas, que é o leitinho melhor que tem!

INQ1 Vaca serrana

INQ2 Não admira que o desembargador queira isso!

INQ1 A vaca serrana qual é? Aquela castanha?

INF Não, não. É uma que é toda retintinha de vermelha, é toda vermelha.

INQ1 Ah!

INF Todas vermelhas, todas vermelhinhas, essas é que é a serrana! Eu estou a [vocalização] receber uma média de sessenta cento e tal contos por

INQ1 Pelos animais?

INF Pelos animais. Mas eu, depois

INQ1 Pois, pois.

INF Porque a gente Eu tenho Porque tenho vacas serranas e o touro é tourino ah! é serrano também!

INQ2 Também.

INQ1 Pois.

INF E vem o o [vocalização] coiso Eu, suponhamos, uma vitela, deixo-a estar um mês, um mês e meio, e [vocalização] e depois eles vêm , dão-me dez, doze contos, a pecuária. Dão-me

INQ1 Pois, pois.

INF E depois eu vendo-a por o que calhar.

INQ1 Claro.

INF Depois [vocalização] tanto a vendo por trinta como quarenta contos, e aquele dinheiro vem sem sem trabalho nenhum.

INQ1 Pois, pois.

INQ2 Pois.

INQ1 Pois claro.


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